Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Aruc comemora 50 anos com shows de Monarco e da Velha Guarda Portela

Referência do samba em Brasília, a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc) é um pedacinho do Rio de Janeiro na cidade. Era na casa do então militar Paulo Costa que funcionários públicos transferidos da capital fluminense se reuniam para criar eventos de esporte e música. Os encontros cresceram a tal ponto que a associação se transformou em uma das principais escolas de samba de Brasília, a Aruc, que comemora hoje 50 anos.

A festa começa às 20h e conta com importantes nomes do samba carioca, como Monarco e da Velha Guarda Portela, Dorina e Marquinhos Diniz. Evandro Barcellos, Makley Matos, grupo Luz do Samba e Bateria Nota 10 completam a programação.

;É uma alegria enorme participar dessa celebração. A Portela é madrinha da Aruc, assim, será uma festa para as duas. Ficamos muito honrados;, diz Tia Surica, integrante da Velha Guarda, que desembarcou essa semana de uma turnê na Europa. ;Minha relação com a Aruc vem de muitos anos. A Velha Guarda foi à escola várias vezes. Aí temos um tratamento especial porque o pessoal gosta do samba carioca. Não teremos muitas novidades no repertório, mas os fãs podem esperar por Quantas lágrimas, de Manacéia; Coração em desalinho e Vai vadiar, composições minhas com Ratinho e, claro, o hino da Portela. Vai rolar o samba puro, da antiga, porque este é o nosso papel: manter acesa a chama do samba tradicional;, completa Monarco.

Com 33 anos de Aruc, Evandro Barcellos lembra como chegou à quadra no Cruzeiro. ;Comecei tocando cavaquinho nos desfiles e, depois, entrei para a Ala de Compositores. Mas até quando morei fora, não conseguia ficar longe da escola. Eu vivi no Rio e de lá produzia os shows que iam acontecer aqui;, conta. Ao lado de Makley Matos, ele acompanhará Dorina e Marquinhos Diniz. ;Vamos cantar muito partido-alto e samba de raiz;, adianta.

Amor azul e branco
Com 50 anos, 46 desfiles e 31 títulos, a Aruc coleciona histórias. De 1986 a 1993, a azul e branco levou todos os títulos e tornou-se a primeira e única escola de samba no Brasil a ser octacampeã. ;Superamos até a Portela, que ganhou sete vezes na década de 1940;, recorda Moacyr de Oliveira, o Moa, presidente da agremiação. Curiosamente, a oitava vitória veio com Portela, de Paulo a Paulinho, homenagem à madrinha carioca.

Primeira escola convidada a desfilar num 7 de setembro, em 2011, ela foi palco de momentos inesquecíveis, com shows de Cartola, João Nogueira, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Outra alegria: em 2009 ela foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial do Distrito Federal. Mas nem todo carnaval é marcado por glórias. Em 1974, uma crise interna e o número reduzido de integrantes levou a Aruc à desclassificação.

Campeã neste ano com Aruc jubileu de ouro ; Uma história de amor em azul e branco, o enredo foi o ponto de partida para as comemorações de meio século de samba e revela o carinho com os moradores do Cruzeiro. ;A comunidade está presente sempre. O pessoal transforma a Aruc na extensão da sua casa. Sempre que pinta uma dificuldade, ela não nos deixa na mão. No último samba-enredo, um trecho dizia: ;A comunidade me socorre;. Foi inspirado em Agoniza, mas não morre, de Nelson Sargento;, orgulha-se Moa.

Depoimentos

;A Aruc foi fundada na quadra 16. Vim para Brasília em 1959, transferida do Rio de Janeiro. Na época éramos 20 componentes. Nos reuníamos e começávamos a batucar em caixas de fósforo, tampa de panela. Um dos moradores disse: ;Vamos fazer uma escola de samba;. A gente riu e achou melhor fazer um bloco de carnaval. Mas ele insistiu: ;Vamos começar do alto;. E foi assim que em 1961 desfilamos pela primeira vez com o enredo JK ; Cidade de Deus. Minha filha Leila foi a primeira porta-bandeira mirim. Quando Natal da Portela veio a Brasília batizar a escola, foi um momento inesquecível. Acho que ele imaginava que chegaria aqui e acharia um deserto, mas viu o Cruzeiro, a cidade do samba. Foi muito emocionante porque a gente espera tudo nessa vida, mas ser homenageado por uma escola como a Portela foi demais;.
Dona Ivone Araújo, 80 anos, fundadora da Aruc


;Em 1977, o enredo foi Chico Rei, sua história e sua glória. E, para escolher qual seria o samba vencedor, o presidente na época, Nilton Sabino, convidou vários jurados, entre eles, a professora Carvieicha. Porém, no dia da votação, Sabino não pôde comparecer e eu fiquei como responsável pelo evento. Para minha surpresa, na hora da apuração, a professora não tinha dado nota. Ela disse que os salgadinhos oferecidos estavam muito gostosos, que a festa era muito bonita e que ela não tinha ido lá para ficar dando nota. Quase fui à loucura. E, para piorar, dois jurados disseram que só entregavam o mapa de apuração na presença do Sabino. O jeito foi fazer a apuração sem as três notas. No fim, deu tudo certo, mas só eu sei o sufoco que passei;.
Hélio dos Santos, 58 anos, ex-presidente da agremiação.


ARUC 50 ANOS
Hoje, a partir das 20h, shows com Monarco e a Velha Guarda da Portela, Dorina, Marquinhos Diniz, Evandro Barcellos, Makley Mattos, Bateria Nota 10 e os grupos Luz do Samba e Samba do Karrapixo, na Aruc (Área Especial n; 8, Cruzeiro Novo; 3361-1649). Entrada: 2kg de alimentos não perecíveis. Não recomendado para menores de 16 anos.

No tempo do samba

(Irlam Rocha Lima)

A ligação entre a Aruc e a Portela é histórica. Em 1961, um ano depois da inauguração de Brasília, Natalino José do Nascimento, o Natal, eterno presidente da tradicional escola de samba de Madureira, ao vir à cidade, na companhia do compositor Candeia, batizou a azul e branco do Cruzeiro. A campeoníssima do carnaval brasiliense sempre teve a ;madrinha; como referência, mas só depois de concluir sua sede é que pôde trazer artistas portelenses para shows na sua quadra.

Um dos primeiros a se apresentar na Aruc foi ninguém menos que o grande Paulinho da Viola, emocionando o público com o hino Foi um rio que passou em minha vida. Isso em 1982. Estiveram, também, na quadra e cantaram bonito, Noca da Portela, Clara Nunes e João Nogueira ; os dois últimos aproveitando a vinda à capital para participarem dos projetos Pixinguinha e Temporadas Populares, respectivamente.

Em 21 de outubro de 1989, a Aruc festejou 28 anos com uma roda de samba da qual tomaram parte quatro representantes da Velha Guarda da Portela, os saudosos Casquinha e Manacéia, além de Monarco e Noca. Um ano depois a festa foi ainda maior. A escola brasiliense também recebeu Alberto Lunato, Argemiro Patrocínio e Chatim. Juntos, eles fizeram um show memorável.