WASHINGTON - Dois escritores americanos, que estão lançando uma nova biografia de Vincent Van Gogh, defendem a tese de que o célebre pintor holandês não se suicidou, como se acreditava até então, mas foi assassinado.
Os autores afirmam ter reunido "provas de várias fontes diferentes, durante uma investigação". "Confesso, no entanto, estarmos em meio a um verdadeiro turbilhão, um fato que não havíamos sequer considerado", disse à AFP Steven Naifeh, autor da biografia do pintor junto com Gregory White Smith. "Pensamos que haveria reações, mas não a um tal nível de paixão", acrescentou.
Naifeh e White Smith, ganhadores do Prêmio Pulitzer em 1991 pela biografia do pintor Jackson Pollock, acabam de publicar "Van Gogh: The Life" ou "Van Gogh: a Vida", numa tradução literal, que vem causando comoção no mundo da arte, principalmente em Amsterdã, onde fica o maior museu dedicado ao famoso artista.
De acordo com os dois americanos, Van Gogh não teria morrido de um tiro disparado por ele mesmo contra o peito, em Auvers-sur-Oise, uma aldeia então frequentada por artistas, a 30 quilômetros de Paris, mas teria sido assassinado, por acidente ou deliberadamente, por dois adolescentes - os irmãos Secretan, que chegaram a dizer que o pintor havia roubado a arma deles.
As "provas vêm de fontes diferentes e, cruzando-as, surge uma tese diferente (sobre a morte do artista)", disse Naifeh à AFP.
O curador do Museu Van Gogh de Amsterdã, Leo Jansen, afirmou considerar a teoria "interessante", esclarecendo, no entanto, que os escritores "não encontraram novas evidências, simplesmente as reinterpretaram". "Para crer nesta nova teoria serão necessárias novas provas, mas isto é muito difícil, depois de tanto tempo", disse Jansen à AFP.
No dia 27 de julho de 1890, Vincent van Gogh deixou o albergue Ravoux com seus pincéis e cavalete. Retornou cinco horas mais tarde, ferido, morrendo 30 horas depois, nos braços de seu irmão Theo, segundo a versão oficial.
De acordo com o depoimento da filha do dono do albergue, com 13 anos de idade, na época, Vincent van Gogh teria respondido "sim" à pergunta do médico sobre se ele teria se suicidado.
Para os autores Gregory White Smith e Steven Naifeh, o pintor teria respondido "sim" para proteger os irmãos Secrétan. "Mas por que protegê-los, se eles não paravam de aborrecê-lo, de contrariá-lo?", pergunta-se o curador. "Se Vincent van Gogh tivesse morrido de velhice, aos 80 anos, em 1933, nadando na glória e com suas duas orelhas, ele não teria se tornado jamais o mito que é hoje", destacou o jornal holandês de esquerda De Volkskrant, em editorial.
"Suas psicoses, depressões, erros e as manifestações disso - uma orelha cortada, o suicídio - são uma parte integrante da história de Vincent van Gogh, tanto quanto seus ciprestes e campos de milho".