A incorporação de elementos do pop à música sertaneja tem sido promovida por duplas que fazem sucesso, atualmente, como Jorge & Mateus, Victor & Leo, Bruno & Marrone e Zezé Di Camargo & Luciano. Na contramão dessa proposta, surgiu uma outra que soou inusitada: a fusão do clássico com o caipira, num musical que depois de circular pelo país, chega a Brasília, para apresentações hoje, às 20h, e amanhã, às 10h e às 20h, na Sala Villa-Lobos.
Dirigido por Nilson Rodrigues, o espetáculo Brasil clássico caipira, com direção musical de Rildo Hora, tem arranjos e orquestração do maestro Joaquim França. Estruturado originalmente em um grupo de câmara de violinos, violoncelo, violão, contrabaixo, piano e percussão, será apresentado pela primeira vez com a participação de uma orquestra sinfônica, no caso, a do Teatro Nacional Claudio Santoro.
Sob a regência do maestro Cláudio Cohen, a sinfônica vai acompanhar cinco cantores, que interpretam clássicos do gênero. São eles: Dércio Marques, Pereira da Viola, Genésio Tocantins e As Irmãs Galvão. Haverá, ainda, a participação do ator Antônio Grossi, ao interpretar textos ; histórias e causos da música caipira ; que entremeiam as canções.
Recheado de pérolas da música caipira, o roteiro traz 22 clássicos, entre os quais Luar do sertão (Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco), Rancho fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo), Cabecinha no ombro (Paulo Borges), Meu primeiro amor (Cascatinha e Inhana), Chico Mineiro (Tonico e Francisco Ribeiro), Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira), Chuá chuá (Pedro Sá Pereira e Ary Pavão) e Chalana (Mário Zan).
Idealizado em 2009 por Nilson Rodrigues, Brasil clássico caipira foi concebido para comemorar os 80 anos da gravação do primeiro disco do gênero, produzido pelo escritor, poeta e folclorista Cornélio Pires. O 78 rotações trazia de um lado Jorginho do Sertão, e do outro, Moda de peão. Já o espetáculo tem curadoria do radialista Adelson Alves. ;Em Brasília, haverá a última apresentação do musical. Transformado em série de televisão, com o acréscimo de entrevistas, será exibido no próximo mês, em cinco capítulos, pela TV Brasil;, anuncia Rodrigues.
Riqueza
Para o maestro Cláudio Cohen, a fusão das duas linguagens deságua no que ele chama de caipira sinfônico. ;A transposição agrega maior riqueza musical e detalhes sonoros, com uso de instrumentos próprios da música clássica, como violino, viola, violoncelo, oboé e flauta. Com isso, a música caipira ganha mais harmonia, maior brilho e terá a parte acústica valorizada;.
Estrelas da constelação do Brasil clássico caipira, as Irmãs Galvão (Mary e Marilene), que estão comemorando 65 anos de carreira, participam do projeto desde o início. ;Ninguém tem a ideia do que esse espetáculo representa para nós. Quando vemos um gênero musical que é tão discriminado e posto de lado, recebendo esse tratamento respeitoso, nos enchemos de orgulho. Estamos honradas por fazer parte de um projeto tão significativo;, comemora Mary.
Músico e cantador mineiro, Pereira da Viola entende que o manancial artístico-cultural selecionado para o espetáculo representa ;extratos muito representativos de uma música que atravessa séculos, mantendo-se na memória afetiva dos brasileiros, principalmente dos interioranos. Em boa hora, clássicos dessa música foram reunidos num espetáculo que tem sido aplaudido por onde passa;.
Visão semelhante tem o cantor e compositor Genésio Tocantins, outro participante do musical. ;Brasil clássico caipira é um livro aberto da história da música popular brasileira. Sinto uma alegria imensa por estar ao lado, nesse espetáculo, de companheiros como Dércio Marques, Pereira da Viola e das queridas Irmãs Galvão, que lutam incansavelmente por manter viva e pulsante essa cultura tão nossa;.
Brasil clássico caipira
Espetáculo com Dércio Marques, Pereira da Viola, Genésio Tocantins e Irmãs Galvão e participação do ator Antônio Grassi, acompanhados pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, sob a regência do maestro Cláudio Cohen, com direção geral de Nilson Rodrigues, direção musical de Rildo Hora, arranjos e orquestração do maestro Joaquim França. Hoje, às 20h, e amanhã, às 10h e às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados na bilheteria do teatro até uma hora antes do início do espetáculo. Classificação indicativa livre.