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Diversão e Arte

Presença de Rodrigo Santoro provoca empurra-empurra no Cine Brasília

Meu país viria para Brasília, fiquei contente, mas deu frio na barriga"" />

No discurso de apresentação do longa Meu país, Rodrigo Santoro parecia procurar superlativos para elogiar o público de Brasília. ;Nenhum festival provoca o que estou sentindo agora, sinceramente;, admitiu o ator, que estreou no cinema com o curta brasiliense Depois do escuro, de Dirceu Lustosa, exibido na mostra em 1996. Antes que arrematasse o elogio, no entanto, o astro foi interrompido por um grito que veio da plateia. ;É melhor que Hollywood!”, opinou o espectador. Sem perder a deixa, Santoro tratou de abreviar a fala. ;Você disse tudo;, concluiu ; e, sob assobios e flashes, passou o microfone adiante.

Ao fim da sessão, a aura hollywoodiana que cerca o ator provocou tumulto à saída do cinema. Máquinas digitais a postos, uma parte do público desceu para a área do cinema reservada a convidados e cercou o ator, que posou com bom humor ao lado dos fãs. O assédio, no entanto, tornou-se tão intenso que ele precisou da ajuda dos assessores para sair da sala. Do lado de fora, depois de uma nova onda de cliques e empurra-empurra, falou rapidamente ao Correio sobre a reação da plateia após a sessão. ;Parece que as pessoas gostaram, né? E o público de Brasília é assim: quando não gosta, faz questão de demonstrar;, comentou. Em seguida, saiu rapidamente de cena em uma picape branca, acompanhado de Fabiano Gullane, produtor do filme.

De fato, o primeiro longa do paulista André Ristum, um melodrama familiar que estreou no Festival de Paulínia, foi acolhido generosamente no Cine Brasília. Se os aplausos não produziram tanto ruído ou surpresa quanto os do fim da sessão de Bicho de sete cabeças ; que consagrou Santoro com o Candango de melhor ator, em 2000 ;, sublinharam o potencial comercial do filme, que estreia na próxima sexta-feira com distribuição da Imovision e apoio do Telecine. ;O Cine Brasília provoca um misto de tensão e de ansiedade, como o de estar um pouco acuado pelo público. Tenho a sensação de que conseguimos um equilíbrio, mantendo o filme no trilho. Escorregar era muito arriscado, a gente tinha personagens bem difíceis;, afirmou o diretor, que competiu na cidade há seis anos com o curta De Glauber para Jirges.

Trilha delicada
Pontuado pela trilha sonora delicada do brasiliense Patrick de Jongh (um ;trabalho exaustivo;, segundo o cineasta), o filme acompanha o retorno ao Brasil do empresário Marcos (Santoro), após a morte do pai. Bem-sucedido na Itália, ele se vê diante de um irmão inconsequente (Cauã Reymond) e da descoberta de uma irmã com deficiência mental (Débora Falabella). ;Cresci fora do meu país, sempre sonhei muito em voltar para cá. Este filme é sobre um personagem que reencontra o lugar onde ele pertencia;, explicou o diretor. O tom dramático da trama, segundo o cineasta, se impôs com naturalidade: ;Eu gosto de drama. O jeito como vejo a vida não é tanto com risada, mas com choro. O filme fala de um país pessoal, interno. O título é uma metáfora;.

No debate de ontem, no Kubitschek Plaza, Rodrigo Santoro voltou a afirmar que sentiu alívio quando as luzes do Cine Brasília foram acesas. ;Pensei: ;Ah, então tá. Não vai ter tomate, ninguém vai tacar nada na gente;. Fiquei satisfeito, feliz;, comentou, lembrando as vaias que recebeu antes da apresentação de Bicho de sete cabeças. ;Ontem eu estava apreensivo, com medo. Quando soube que Meu país viria para Brasília, fiquei contente, mas me deu frio na barriga. Subi no palco tomado pela emoção;, confessou.

Afeto e protesto
O tom sentimental de Meu país se fez acompanhar pela melancolia dos curtas da noite, que também extravasaram afeto: o carioca Sobre o menino do Rio, de Felipe Joffily, e o brasiliense Imperfeito, de Gui Campos. ;Eu queria mostrar Brasília de outro ponto de vista, como se fosse qualquer outra cidade. A ideia era fugir dos pontos turísticos, sem clichês;, explicou Campos, no debate sobre o curta, que narra o encontro entre dois desconhecidos no aeroporto. Logo após a sessão, o diretor ainda dizia se sentir ;surtado; com a estreia na noite do Cine Brasília. ;Sempre fui plateia desse festival. Foi bacana exibir o filme no sábado, com longa do Rodrigo Santoro, que é garantia de casa cheia;, avaliou.

Apesar da atmosfera de congraçamento, o diretor aproveitou a exibição do filme para cobrar diálogo entre a coordenação do festival e os cineastas da cidade. ;Queremos jogar juntos. É importante, por exemplo, que a Mostra Brasília continue a ser realizada aos sábados e domingos, à tarde, aqui no Cine Brasília. Para o cinema de Brasília, é fundamental;, afirmou.

No debate, Gui Campos voltou ao tema, ainda mais enfático sobre o incômodo em relação às mudanças no evento paralelo, que passou a ser organizado no Museu da República. ;Não teve seleção. Está sendo uma tortura. A mostra foi transformada numa reunião de coleguinhas para mostrar o filme para a família, para os amigos. Põe no YouTube, então. Para quem trabalha com isso, cinema é coisa séria;, protestou.