Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Livro tenta decifrar identidades que reúnem forças do jornalismo

Eles são duplos: informam e opinam. Comportam-se como especialistas em certos assuntos (economia, política, cultura) e, por outro lado, são interrogadores, à procura de respostas. No livro Jornalistas-intelectuais no Brasil (Summus Editorial), o pesquisador Fábio Pereira, doutor em comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), conversa com profissionais como Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Mino Carta e Zuenir Ventura, e tenta decifrar identidades que reúnem forças do jornalismo, da literatura, do conhecimento acadêmico e experiências do ativismo político. Pereira lança a obra hoje, às 18h, no auditório da Faculdade de Comunicação da UnB.

Inspirada na tese de doutorado defendida há três anos, a investigação defende que, no Brasil, o diálogo entre intelectuais e imprensa passou por vários períodos. ;Nos anos 1950 até 1970, essa relação era promíscua. O intelectual se manifestava mais no jornal. Hoje, ele tem outros espaços. É mais raro que ele queira fazer mobilização da opinião pública por meio do jornal. A intelectualidade brasileira se desenvolveu no funcionalismo público e nas redações. Não tinha espaço próprio;, aponta.

Pereira também acredita que o jornalista-intelectual, apesar de saber com clareza os territórios que ocupa na imprensa ; assinando artigos e colunas ou contribuindo como especialista ;, enfrenta melhor a pulverização da informação e da opinião com a chegada da internet e dos blogs. ;Por um lado, foi reduzido o espaço para grandes reportagens, em parte por conta da concorrência da internet e mudanças na profissão de jornalista. Em compensação, algumas dessas pessoas foram escrever grandes livros de reportagem, jornalismo literário, que vendem bem. Elas conseguiram abrir espaço para atuar;, explica.

Os 10 entrevistados do livro ; entre eles, Carlos Chagas, professor emérito da UnB, e Adísia Sá, única mulher na pesquisa ; dão opiniões diferentes, às vezes conflitantes, sobre cada função: ao jornalista, cabe informar, formar opinião ou acrescentar relevante algo à sociedade; ao intelectual, criticar, criar ou intervir.

Todas as definições, de alguma maneira, ajudam a compor uma atividade que inspira respeito e admiração. ;Na França, a tradição do intelectual é forte. A partir dos anos 1970, a tensão entre as duas categorias fica muito forte. Os intelectuais sentem que perdem espaço por causa dos jornalistas. No Brasil, você tem essa dupla relação de intelectuais que contribuem na imprensa. Mas o peso da intelectualidade é menor. Enquanto na França, na Europa, se diz que há uma crise, no Brasil o jornalista está se profissionalizando cada vez mais em certos assuntos;, constata Pereira.