Deus com personalidade humana, mulheres neuróticas aos 30 anos, uma criança que destruiu o mundo e um macaco que fala e é militante das causas ambientais. Todos esses personagens saíram da cabeça de cartunistas amadores e chegaram aos sites da internet, em tirinhas de humor que bombam na rede. Apostando na melhor tradição das HQs, os cartunistas virtuais usam o humor para desenvolver os tipos. Um exemplo é o Mulher de 30, que conta boa parte das neuroses das mulheres dessa faixa etária. ;Falo de coisas do dia a dia. O foco é mais descontraído, irreverente, não entro em grandes discussões existenciais;, explica a ilustradora e responsável pelo site, Cibele Santos, 37 anos.
Se não fosse a internet, esses personagens de sucesso ainda estariam presos à mente de seus criadores. O designer Carlos Ruas, 25 anos, responsável por uma das páginas mais visitadas do momento ; Um sábado qualquer ; , sempre teve as tirinhas como hobby, mas não conseguia divulgá-las. Hoje, ele trocou de profissão e vive apenas do site. ;Isso tudo é impressionante. Em apenas um ano, percebi que tinha mais de 10 mil acessos diários. Acho que essa aposta no humor ajuda muito, todo mundo gosta de rir;, explica.
Outro atrativo da internet é o custo baixo, pois colocar um site no ar é gratuito. ;A rede é um canal perfeito para a divulgação. As pessoas podem ver em qualquer lugar do mundo, basta ter uma conexão;, aponta Cibele.
Mulherada
Mulheres aos 30 anos são confrontadas com problemas: casamento, filhos, trabalho, intensa TPM, etc. Com um olhar diferente, essas situações podem ser engraçadas. ;Resolvi criar essas personagens para contar fatos que vivi ou que minhas amigas me contaram. Coisas que as mulheres enfrentam, sabe?; diz Cibele Santos. As tirinhas estão na internet há sete anos, mas somente em 2011 ela decidiu tornar o blog público e passou a divulgá-lo.
Apesar de a temática principal rodar em torno dos traumas femininos dos 30 anos, o site também faz sucesso com outros públicos. ;Percebo muitos caras que leem o blog sempre e identificam as namoradas, mulheres e mães nos posts. O comentário que mais recebo é ;Nossa, minha mulher é desse jeito;;.
Deus humanizado
Aqui a personagem principal é Deus. Mas o ;Todo poderoso; tem um quê de ser humano e gosta de brincar, sacanear, beber, etc. ;Escolhi a religião porque sempre tive facilidade para fazer piada com isso. Leio a Bíblia e vejo humor;, diz Carlos Ruas. O cartunista virtual conta que a escolha é boa, pois pode pensar as situações mais malucas do mundo, afinal, Ele pode tudo. ;O mais engraçado é quando nos identificamos, por isso coloco Deus em situações normais. É um Deus humano.;
Ruas não escapa das reclamações. ;Sempre tem essa galera, mas os fanáticos são assim mesmo. A gente não pode deixar eles influenciarem. Percebo que agrado aos cristãos e aos ateus;, afirma. Além de Deus, Luciraldo (diabo), Adão, Eva e Caim fazem parte dos quadrinhos. O cartunista lançou este mês o livro Um sábado qualquer, de 128 páginas, com 300 tirinhas, pela editora Devir (R$ 35).
Eco humor
O site Mentirinhas divulga as tirinhas criadas pelo publicitário e ilustrador Fabio Coala Cavalcanti, 33 anos. Entre os mais conhecidos estão Caco ; um macaco ambientalista e essencialmente irônico em relação ao comportamento humano. ;É o que mais se parece comigo. Ele é assim porque eu acho muito chato esse lance de o ser humano se achar a coisa mais importante do universo. Mas não sou eco chato;, diz.
Outro personagem é o Auréolos, um anjo que tem comportamentos não muito angelicais. Ele dá conselhos para Jesus, vive se metendo em encrencas e tenta proteger a humanidade da ira de Deus ou do diabo. A série MHDM (Memórias do homem que destruiu o mundo) é uma homenagem à infância de Coala. ;É sobre aqueles traumas da galera que cresceu durante os anos 1980. Um pessoal que hoje está na casa dos 30 e poucos;, conta.
Na web
Um sábado qualquer -
Mentirinhas -
Mulher de 30 -
Heróis nos tablets
A DC Comics ; que edita Super-Homem, Batman e outros heróis ; coloca à disposição dos usuários de tablets novos gibis toda quarta-feira, dia em que chegam às bancas. A editora assim rompe com a tradição de dar preferência para os compradores da edição impressa, já que somente números antigos saíam em formato digital. Essa é mais uma tentativa de levantar as vendas, que caíram 15%
em 2011.