Democratizar tanto o acesso de filmes brasileiros de baixo orçamento quanto permitir o contato de público mais amplo com títulos que circularam apenas por festivais de cinema é a pedra fundamental de Sessão Vitrine, projeto que, na segunda edição, estreia na capital a partir de hoje. ;Em Brasília, teremos o caráter de mostra, pela ausência de salas comerciais para filmes alternativos. Nas outras capitais, temos, ao menos, sete sessões para cada filme que pode emplacar a exibição, a partir de resultados positivos com o público. Um lançamento convencional não valeria a pena, dado o caráter das obras. O custo mais baixo, com a estratégia de reunir um pacote para lançamento coletivo dos filmes, é o caminho;, explica Silvia Cruz, proprietária da Vitrine Filmes que, em Brasília, firmou parceria com o Centro Cultural Banco do Brasil para montar a mostra com entrada franca.
Acompanhar a carreira de quem faz, em rara média, um filme por ano no Brasil, beneficiando-se do uso do suporte digital, como pontua a curadora da Sessão Vitrine, é um dos objetivos. No bloco, a exceção fica para Os residentes ; ;uma produção muito bela, mas hermética;, na análise de Silvia Cruz. Em cópia 35mm, a atração de amanhã, assinada por Thiago Mata Machado, conquistou, no ano passado, quatro prêmios Candango, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Responsável pelo estardalhaço em torno do curta-metragem Recife frio, há dois anos no mesmo festival, Kleber Mendonça Filho está na programação com o primeiro longa, Crítico, documentário que toca no delicado ponto de interação entre realizadores de cinema e aqueles, por vezes, vistos como algozes: os críticos das obras filmadas.
Espírito poético
Aspecto interessante do Sessão Vitrine, como reforça a curadora ; há nove anos atuante no nicho dos ;filmes de arte;, em empresas como Pandora e Europa Filmes ; , está no fato de propiciar o acompanhamento da continuidade de diretores empenhados de espírito ;poético, livre e independente;. Do coletivo cearense Alumbramento (responsável pelo longa Estrada para Ythaca), por exemplo, chega Os monstros, do quarteto de cineastas que levanta a importância da amizade, num filme muito experimental e bastante detido em metalinguagem, com ênfase no peso do som no audiovisual e pronto para fazer chacota com o tipo de roteiro que aposta nas declamações em frente à câmera.
Sedimentado num expresso desejo de revelar visões de passageiros de cruzeiro destinado a Fernando de Noronha, o longa Pacific (2009) propõe o radicalismo de entregar o todo da realização para diretores amadores saídos da excursão. Em evidência, pela atual exibição de A alegria (visto ano passado no Festival de Brasília) no circuito comercial, a dupla de criadores Marina Meliande e Felipe Bragança tem a fita de estreia, A fuga da mulher gorila, inserida na programação do Sessão Vitrine.
No filme, imperam as perambulações, sem destino, de duas meninas que encenam, em plataforma itinerante, um consagrado número circense. É importante frisar que os diretores envolvidos no projeto escolheram curtas-metragens que travaram diálogo com os longas para preceder cada exibição. É a brecha para contato com filmes mais breves de diretores reconhecidos como Clarissa Campolina, Gustavo Spolidoro e a dupla Marco Dutra e Juliana Rojas.
SESSÃO VITRINE
Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Tr. 02, Lt. 22, 3108-7600). De hoje a domingo. Programação variada, com quatro sessões diárias, a partir das 14h30. Sábado e domingo, bloco de cinco sessões, iniciado às 13h. Entrada franca.