O fotógrafo e pesquisador Marcelo Feijó fez mais registros de Lisboa do que de Brasília. As duas cidades não concorrem no imaginário do artista, mas o fato de morar no Planalto Central fez das viagens à capital portuguesa verdadeiras peregrinações fotográficas. As imagens já renderam livro e exposição. Agora, é a vez da escrita. O fascínio pela capital portuguesa conduz Feijó em Imagens de Lisboa ; No espelho da fotografia, editado pela Sala de Convergência e com lançamento marcado para hoje, no Carpe Diem.
Trata-se de um diálogo com Vitor Matias Ferreira, professor da Universidade de Lisboa e interlocutor de Feijó no universo fotográfico. No centro do diálogo, editado em formato de texto corrido no qual só se reconhece os autores pela diferenciação da letra em negrito, está a relação entre a fotografia e a construção do imaginário que cerca uma cidade. ;O livro é sobre cidade e fotografia, mas também memória e imaginário;, avisa Feijó. ;Ou sobre como a cidade é representada pelos fotógrafos ao longo do tempo. E sempre a partir da visão do autor. Procuro identificar a autoria e de que forma, em cada momento histórico, o fotógrafo interpreta a cidade a partir de valores que têm naquele momento.;
Para guiar o leitor pelo diálogo, o autor criou um blog (www.imagensdelisboaespelhodafotografia.com) no qual disponibiliza as imagens citadas. Além de registros recentes, realizados na década de 1990 por fotógrafos contemporâneos, entraram também imagens pertencentes ao acervo da Câmara Municipal de Lisboa. ;É uma forma de resolver o problema da imagem. Se fosse publicar todas as fotos renderia um livro.; Há blocos bem divididos na seleção. É possível encontrar tanto a variedade multicultural de habitantes da cidade, refletida na exposição Todos e fruto de uma encomenda da prefeitura de Lisboa, quanto o perfil físico de uma cidade que cresce para além do centro histórico.
Se é óbvio que a fotografia constrói a memória da cidade e cria para ela um imaginário urbano ; e as primeiras imagens de Paris realizadas por Daguerre são lembradas pelo autor como exemplos ;, Feijó aposta também que sejam responsáveis por uma projeção futura. ;Quando vejo uma imagem do século 19 que até hoje é válida é porque ela tinha uma semente de futuro;, acredita. O livro dedicado a Lisboa é o primeiro de uma série que incluirá Brasília e São Paulo. A capital portuguesa tem uma carga afetiva muito grande para Feijó. A curiosidade histórica explica boa parte da atração. ;O interesse por Lisboa vem também de descobrir o que é o Brasil.; A investigação não se esgota no texto. Cidades brasileiras e portuguesas da época colonial serão objetos de um livro de fotografias e desenhos.
Imagens de Lisboa ; No espelho da fotografia
De Marcelo Feijó. Sala de Convergência, 134 páginas. R$ 25. Lançamento hoje, às 19h, no restaurante Carpe Diem (104 Sul).