Cria do cinema independente, Tainá Müller sempre quis conciliar a complexidade dos filmes alternativos com a visibilidade da televisão. ;Andar em mundos diferentes complementa e amplifica o repertório do ator. É bom fazer algo cabeça, assim como é ótimo mostrar meu trabalho para um público maior;, acredita. Porém, enquanto surgiam papéis expressivos no cinema, como a Marcela do premiado Cão sem dono, de Beto Brant, personagens de destaque na televisão pareciam distantes. Até a atriz passar no teste para interpretar a inescrupulosa Paula, de Insensato coração, que entra hoje em sua última semana. Na trama, Paula é uma garota mimada e egoísta, cúmplice das falcatruas do pai, o banqueiro Cortez (Herson Capri). ;Ela apoia as atrocidades dele e acha tudo bem normal;, destaca.
Mas a dondoca também desenvolve os próprios conflitos ao mostrar-se insegura diante de seus preconceitos. ;Ela é carente e não consegue ser amada por causa de seu jeito de tratar o próximo. É preconceituosa com tudo: homossexuais, pobres, negros. E a todo momento é confrontada pela vida;, conta. Para a atriz, lidar com as implicâncias de Paula foi a parte mais difícil da construção da personagem. Construção que começou com passeios em shoppings, local ideal para observar de perto o comportamento das patricinhas reais. Além disso, Tainá confessa que muitas pessoas com atitudes parecidas com as de Paula já cruzaram seu caminho e serviram de inspiração. ;A questão não é só financeira. São valores invertidos. Odeio qualquer tipo de preconceito. Fazer algumas cenas me deixaram mal por saber que são totalmente verossímeis;, admite.
Depois de Paula humilhar o ex-namorado Eduardo (Rodrigo Andrade), destratar sua funcionária Leila (Bruna Linzmeyer) e depor na Justiça a favor do pai, Tainá não espera que o público tenha qualquer simpatia pela personagem. No entanto, a atriz torce para que, até o último capítulo, Paula ganhe contornos mais humanizados, ou mesmo uma redenção. ;Seria bom se ela pegasse um ônibus;, ressalta, aos risos.
O trabalho em Insensato coração marca a estreia da atriz no horário nobre da Globo. Antes da atual novela das nove, Tainá trabalhou como modelo e apresentadora da MTV de Porto Alegre, sua cidade natal. ;Eu me entedio muito fácil com as coisas e adoro correr riscos;, afirma. Entre tantas atividades, a atuação falou mais alto e as oportunidades começaram a aparecer no cinema. Logo de cara, ganhou o papel de coprotagonista no drama Cão sem dono, de 2007. Por esse trabalho, foi premiada como melhor atriz nos festivais de cinema de Recife e Cuiabá. ;Foi o melhor cartão de visita que eu poderia ter. É um trabalho bonito e impactante;, valoriza a atriz, que também atuou em longas de diferentes temáticas, como o espírita As mães de Chico Xavier e o político Tropa de elite 2.
Na televisão, Tainá estreou sem grande repercussão em Eterna magia (Globo, 2007). Depois, teve breve passagem pelo SBT, onde protagonizou Revelação (2009). No entanto, a experiência mais original na telinha foi como repórter de A liga, da Band, no ano passado, em que abordava assuntos como drogas e prostituição. ;Foi uma experiência tão intensa quanto brutal. O contato com a realidade foi triste e transformador;, revela a atriz, que também é formada em jornalismo. Para Tainá, a experiência de outros trabalhos foi fundamental na hora de lidar com a repercussão gerada pelas tolices de Paula. ;A exposição de uma novela das nove é imensa e pode assustar, mas tenho os pés no chão;, conclui.