Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Reginaldo Faria abre 7ª noite do Festival de Gramado com o longa O carteiro

Depois de desfilar uma autêntica humildade, numa espécie de zona de conforto reservada pelo 39; Festival de Cinema de Gramado (em que já foi homenageado até com o Troféu Oscarito), o ator Reginaldo Faria abriu a sétima noite competitiva para filmes nacionais, com o longa O carteiro. ;Pretendo renascer aqui, após esse intervalo longo, de 27 anos, sem filmar;, observou. Cansado de receber elogios pela competência técnica desfilada nas fitas contemporâneas, ainda no palco do Palácio dos Festivais, ele se mostrou de peito aberto para eventuais críticas, ao lembrar de célebre programa de rádio e expressão cunhada por Adolfo Cruz: Falem mal, mas Falem do Cinema Nacional.

Na boca das personagens interioranas de Via Vêneto, concentradas nos anos de 1980 e agregadoras de estereótipos como a jovem viúva, o descansado delegado e o dono do armazém, fluíram trechos poéticos saídos das letras de Machado de Assis e Juan Ramón Jiménez (de A viagem definitiva). Para além da poética de fins do século 19 e dos anos de 1930, o diretor investiu em discreta picardia e em componente de humor físico leve, ao conceber uma fita em que até há personagem que defenda: ;Eu sou a favor do amor;.

Numa narrativa apoiada por elementos epistolares, Reginaldo Faria concentra o enredo na nada carismática figura de Candé Faria, a cargo do protagonista Victor, empenhado em revelar ;o peso de cada história;, na pele do carteiro que ;violenta; correspondência alheia. Objeto do desejo dele, Marli (Ana Carolina Machado, sem muito traquejo) motiva a interceptação das cartas enviadas ao noivo Daniel.

Contando com excelência técnica ; há da deslumbrante fotografia de Roberto Henkin até destacada trilha de Ricardo Leão --, Faria se perde, no desfecho, em que o delegado (Marcelo Faria) intervém. Não há como crer ainda nas declamações da personagem de Ingra Liberato (;você está apaixonada pelo mistério que te invade a alma;). De ótimo, o ator Felipe de Paula (compondo o compreensivo amigo de Victor) e a breve participação da ovelha Norminha, alvo do desejo da garotada. (Ricardo Daehn)