Leilão é uma caixinha de surpresas. Errol Flynn Filho gosta da expressão para definir a incógnita de cada evento. ;Às vezes, coisas que você não imagina que vão sair saem e outras que você achava que ia vender não saem. E o público de Brasília é bem eclético;, conta. Para o leilão que a Errol Flynn Galeria de Arte realiza hoje no Complexo Brasil 21, o galerista tem algumas apostas particulares, mas não arrisca fechar um jogo. Entre as 260 obras expostas no local, ele aponta algumas preciosidades.
A escultura em madeira pintada em vermelho e queimada de Frans Krajcberg ; que o galerista resolveu esconder num cantinho, depois de um funcionário esbarrar em uma das arestas da obra ; é uma delas. Está na capa do catálogo do leilão e tem lance inicial de R$ 218 mil. Só perde para uma tela de Vicente do Rego Monteiro, cujo lance começa em R$ 550 mil, e para uma pintura de João Câmara, pela qual a casa pede R$ 240 mil. ;Essa tela do Vicente do Rego é da década de 1960, proveniente da família, que está fazendo um livro sobre ele;, avisa o leiloeiro.
A procedência é um dos pontos frágeis do negócio de arte e no leilão costuma ser o ouro da casa. Negociar arte em lances rápidos e ágeis pode ser temerário, já que não há tempo de checar a origem da peça e nem sempre os certificados de autenticidade estão disponíveis. ;Mercado de arte é baseado na confiança. É um mercado atípico;, explica Errol Flynn Filho.
Há certas obras para as quais os galeristas costumam olhar desconfiados e investigar a origem porque são de nomes falsificados com certa frequência. É o caso de Manuel Santiago, Silvio Pinto e Bustamante Sá, cujos trabalhos desvalorizaram ao longo dos anos por causa das falsificações. A obra de Antônio Poteiro, morto em junho do ano passado, enveredou pelo mesmo caminho. ;Ele está estagnado por ineficiência da família. Já os procurei para fazer um livro a fim de evitar isso, porque começou a ter muita falsificação e a família não inibe;, lamenta Filho.
[SAIBAMAIS]
Autenticidade
Com Enrico Bianco, 98 anos e ex-aluno de Cândido Portinari, o galerista teve atitude rápida. Para evitar as falsificações que começaram a aparecer há uma década, ele criou o Projeto Enrico Bianco. O próprio artista reconhece as telas e assina os certificados. O galerista também fez um livro, uma das maneiras mais seguras de garantir a autenticidade da obra. ;Ela estava desvalorizada e valorizou em 300% depois do projeto.;
Leilões são boas oportunidades para ter acesso a obras que raramente figuram em museus. Na exposição da Errol Flynn estão três pinturas de Anita Malfati datadas da década de 1950, quando a artista já estava há anos afastada do traço modernista responsável pelo destaque de suas telas. As naturezas mortas não são tão valorizadas no mercado quanto seria uma pintura da década de 1920, mas mesmo assim só saem com lance inicial de R$ 160 mil. Di Cavalcanti também integra o acervo com quatro serigrafias que podem ir de R$ 1.300 a R$ 5.900.
Leilão Errol Flynn Galeria de Arte
Hoje, às 20h45, no Complexo Brasil 21 (Setor Hoteleiro Sul, Q. 6, Bl. A, Teatro).