Com quase 18 anos de tradição, a casa noturna Bourbon Street Music Club, em São Paulo, foi palco de centenas de apresentações, dos mais variados gêneros musicais. Mas se há um estilo que pode ser associado ao local é o jazz ; especialmente aquele da cidade de Nova Orleans. ;Nos inspiramos nas casas de lá para montar o Bourbon;, conta o proprietário Edgard Radeska, 64 anos.
Das comemorações de uma década do Bourbon Street (em 2003) nasceu um festival. A ideia era realizar apenas uma única festa, mas a demanda popular por outras edições fez com que os organizadores continuassem. De São Paulo, o Bourbon Street Fest ganhou uma perna carioca e, em 2011, uma versão brasiliense. Associado ao Festival de Inverno, o evento em Brasília será realizado hoje e amanhã, na área externa no Museu da República. A programação contará com seis atrações americanas, três por dia, e ainda o grupo brasileiro Orleans Street Jazz Band, que se apresentará hoje e amanhã.
;A proposta do festival é apresentar ao público vários dos ritmos de Nova Orleans, não só o jazz;, explica Radeska, organizador e curador do evento. Jazz e blues são dois estilos diretamente associados a Nova Orleans e ao estado da Louisiania. Mas outros tipos de música também floresceram por lá. Além de gospel, soul, rhythm and blues e funk, a cidade tem ritmos menos conhecidos, como o zydeco.
O critério de seleção dos convidados busca artistas que, além da excelência musical, consigam interagir e contagiar a plateia. ;Senão é um show que só faz sentido para outros músicos;, aponta o organizador. ;Todos são shows para cima, para dançar, se divertir. Até os de gospel;, comenta Radeska que, anualmente, viaja para conhecer, in loco, os artistas de Nova Orleans que eventualmente podem ser convidados para seu festival no Brasil.
Furacão Katrina
Integrante de um dos mais conhecidos clãs musicais dos Estados Unidos, o trombonista Delfeayo Marsalis (que faz show esta noite) se empolga ao falar da iniciativa: ;É muito bom estar aqui. São poucos os festivais no mundo que se propõem a levar um panorama musical de Nova Orleans;. Depois de a cidade ter sido parcialmente destruída pelo furacão Katrina, o cenário musical de lá ficou mais forte. ;As pessoas começaram a prestar mais atenção na nossa música depois da tempestade. Os instrumentistas, por sua vez, estão levando a música mais a sério;, analisa Marsalis.
Edgard Radeska, claro, recomenda todos os shows do festival. Mas para ele, dois são ainda mais imperdíveis por alguns motivos: ;O Delfeayo é mais low profile, não gosta muito de sair de Nova Orleans. A última vez que ele esteve no Brasil foi há 12 anos. Ele é um músico versátil, pode tanto reger uma orquestra quanto entrar num bar com um sexteto e arrasar;. Conhecidos mundialmente, a Dirty Dozen, Radeska adianta, não deixa ninguém parado.
Pela sua configuração, com shows gratuitos e ao ar livre (tal qual os festivais americanos que inspiraram o evento brasileiro), e por sua programação, com artistas diversos de um dos berços musicais americanos, o Bourbon Fest tornará Brasília, por dois dias, a Nova Orleans brasileira.
Bourbon Street Fest
Hoje, a partir das 19h30, na área externa do Museu da República. Shows com Orleans Street Jazz Band, Delfeayo Marsalis Sextet, Nathan & Zydeco Cha Chas e New Orleans Ladies of Soul. Amanhã, a partir das 17h30: Orleans Street Jazz Band, Cynthia Girtley, John Mooney & Bluesiana e Dirty Dozen Band (brass, funk). Acesso livre.
Confira a programação completa:
Orleans Street Jazz Band
; Hoje e amanhã, no intervalo entre os shows. O grupo de metais apresenta no repertório o melhor do jazz tradicional e do dixieland com pitadas de humor e modernidade.
Delfeayo Marsalis Sextet (jazz/ New Orleans jazz)
; Hoje, às 20h. Filho do pianista Ellis Marsalis (patriarca desta grande família jazzista), Delefeayo Marsalis ; que tem em JJ Johnson uma de suas principais influências ; é trombonista e produtor de discos de jazz. Antes de gravar seu primeiro álbum, ele já tinha participado da banda de Ray Charles, dos Jazz Messengers de Art Blakey, e de grupo de Abdullah Ibrahim.
Nathan & Zydeco Cha Chas (zydeco)
; Hoje, às 21h30. Quando os imigrantes franceses vivendo no Canadá, migraram para o estado americano da Louisiania, levaram consigo uma grande herança cultural. Disso, surgiu o zydeco, um ritmo dançante que tem no acordeon seu instrumento principal. Nathan Williams é um dos principais do zydeco e há duas décadas apresenta este som para o mundo.
New Orleans Ladies of Soul (r, New Orleans jazz, soul)
; Hoje, às 23h. As damas do soul em questão são Yadonna West, Angela Bell, Elaine Bell e Tereasa Betts, quatro representantes da nova geração do gênero em New Orleans. Ao vivo, elas prestarão homenagem a alguns grandes nomes do soul, como Tina Turner, The Supremes, Chaka Khan, Destiny;s Child, Beyoncé e Amy Winehouse.
Cynthia Girtley (gospel, jazz, blues)
; Amanhã, às 18h. Cantora e pianista, Cynthia atuou como diretora musical de várias igrejas em diversas cidades americanas. No disco, A New Orleans tribute to Mahalia Jackson, ela presta homenagem a uma das maiores cantoras gospel de todos os tempos.
John Mooney & Bluesiana (blues)
; Amanhã, às 19h30. O guitarrista e seu grupo desenvolveram um estilo que bebe do blues original, do delta do Rio Mississippi, com uma influência de funk que torna o resultado mais dançante.
Dirty Dozen Band (brass, funk)
; Amanhã, às 21h30. Com mais de três décadas de carreira e conhecida pelo groove e energia de seus shows, o grupo de metais é constantemente convidado para participar de gravações de outros artistas (David Bowie, Elvis Costello, Dr. John, Dave Matthews Band e The Black Crowes são alguns deles).