Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Exposição mostra design sustentável dos irmãos Campana

Onde nasceu o encontro entre as três matrizes de raças formadoras do Brasil mora também o conceito dos designers brasileiros Humberto e Fernando Campana. Não é exagero situar o começo da trajetória dos irmãos de sangue e filhos do século 21 num tempo passado há mais de 500 anos. Do ateliê em São Paulo são exportadas peças com forte interpretação multicultural. Em geral, com inspirações retiradas das ruas. ;Não dá para produzir uma cadeira minimalista toda branca e racional como fazem os europeus. Nós somos latinos, não lineares, pensamos com o estômago e tentamos fazer um retrato da nossa cultura. O Brasil é um país colorido, ruidoso;, classifica Humberto, 58 anos, o irmão mais velho que estudou direito, mas nunca quis seguir carreira como jurista.

O resultado de 20 anos em busca da brasilidade foi compilado na retrospectiva Anticorpos, organizada pelo Vitra Design Museum, da Alemanha, em exposição de hoje até 25 de setembro nas galerias 1 e 2 do Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília. No exterior, os irmãos são conhecidos por desenvolver o que ficou conhecido como design sustentável. A contemporaneidade que provoca criações emaranhadas também é percebida na urgência pela preocupação com a preservação do meio ambiente. ;Uma das vertentes do nosso trabalho é ser testemunha do nosso tempo. Tudo tem de ser pensado com cautela para não causar nenhum dano ambiental;, ensina o artista. A atenção remonta a origens familiares e a criação no interior do estado de São Paulo. ;O nosso pai era agrônomo. Tinha esse cuidado naturalmente. Na família, muitas coisas eram reaproveitadas. Minha avó fazia colchas de retalhos com tecidos antigos. Criamos o design da necessidade por uma questão emergencial;, aponta o designer.

Papel de rua
O conceito que habitava o subtexto da produção dos Campana ficou explícito nas peças da série Objetos de papel, produzida com papelão recolhido por catadores nas ruas de São Paulo e que também fazem parte da exposição de Brasília. Assim como a poltrona Favela, construída com lascas de madeirite sugerem uma contradição. Os objetos criados por eles são vendidos a preços salgados no mercado de arte. ;Eu poderia estar na Europa vivendo como um milionário, mas o que nos inspira é o Brasil. Morar aqui é necessário para manter a minha sanidade;, entende o artista.

Os Campana Brothers, como são conhecidos no exterior, desenvolvem muitos trabalhos no Hemisfério Norte e são convidados a ministrar palestras no mundo todo. Para conceder esta entrevista, por telefone, Humberto teve de dar um tempo do trabalho de decoração de um hotel na Grécia. O trabalho grego já está durando três anos por causa da preocupação em não ferir a cultura local. ;Nós conhecíamos a Grécia da antiguidade, mas não sabíamos nada da contemporaneidade. Trouxemos estudantes de universidades gregas para prestar uma espécie de consultoria conosco;, explicou.

ANTICORPOS

De hoje até 25 de setembro nas Galerias 1 e 2 do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Tc. 2, Cj. 22; 3310-7087). Retrospectiva dos irmãos Fernando & Humberto Campana.