A arte não mora em lugar nenhum. Faz uma semana que mudou-se para o meio da rua, voluntariamente, e virou sem-teto. Além de intervir na paisagem aberta de Brasília, três exposições anunciam a iminência do Mês da Fotografia, evento a ser realizado em agosto. Cenas urbanas, do Candango fotoclube, está no Gama Shopping. Outras estações, de autoria do coletivo fotográfico Lente Cultural, ocupa a Estação Central do Metrô, na Rodoviária. Por fim, Sete anos do prêmio Sesc de fotografia Marc Ferrez pode ser vista na estação do metrô Praça do Relógio, em Taguatinga.
Um ganso perdido em uma rua do Distrito Federal e o flagrante de um bêbado adormecido em Pirenópolis são imagens expostas lado a lado com paisagens de Amsterdã e Londres. Situações do cotidiano urbano são o elo entre as 30 fotografias que retratam as cidades do Brasil e do mundo na exposição Cenas urbanas.
;Escolhemos o tema por ser muito aberto. No ano passado, fizemos várias exposições de Brasília. Agora, queremos mostrar que existem acontecimentos exóticos em todos os lugares;, explica a fotógrafa e membro do Candango Fotoclube Gisele Porcaro.
Já na exposição Outras estações, mais 30 fotografias revelam o que diferentes olhares podem captar do mesmo espaço: o metrô. Durante todos os fins de semana do mês de junho, 11 fotógrafos do Lente Cultural peregrinaram pelo local, em busca do extraordinário que existe no dia a dia. ;Não estamos acostumados a ter uma pauta pré-determinada. Foi um desafio para nós, porque trabalho em grupo às vezes vira baderna;, confessa um dos fotógrafos do coletivo, Sérgio Almeida.
Mas ele garante que a experiência contribuiu para uma melhor convivência entre os colegas, o que beneficiou o resultado. ;Como disse Milton Nascimento, o artista vai aonde o povo está;, resume Almeida, que critica o fato de as manifestações artísticas serem raras no metrô.
Ao inserir a fotografia em um espaço de passagem diária, a mostra devolve à rua o que muitas vezes, dentro de museus e galerias, é apenas mais uma obra de arte. A solidão e a espera foram sentimentos que chamaram a atenção do fotógrafo e integrante da Lente Cultural, Alan Santos. ;Nesta ocasião, eu preferi trabalhar com preto e branco. As cores confundem, desviam a atenção dos outros elementos da fotografia;, disse.
Na estação do metrô Praça do Relógio, estão reunidos os vencedores do prêmio Sesc de fotografia, em comemoração aos sete anos de realização do concurso. As imagens expostas nas estações de metrô podem ser vistas até mesmo fora do horário de funcionamento do local, uma vez que elas estão posicionadas antes da catraca.
Mês agitado
Além das exposições de rua, há 19 grandes painéis fotográficos espalhados pela cidade: um convite antecipado ao público. Mais de 200 fotógrafos de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Belém, Piauí e até de Buenos Aires se encontram na capital da República durante o próximo mês. O movimento se deve á programação do Mês da Fotografia, promovido pelo Sesc e pela Lente Cultural, em homenagem ao Dia Mundial da Fotografia (19 de agosto).
Realizado pelo segundo ano consecutivo, o evento reúne seis exposições fotográficas, seis palestras, duas oficinas lúdicas, dois workshops, dois painéis, dois shows e três lançamentos de livros. A partir do tema ;Arte, cultura e ação social;, as atividades serão realizadas nas unidades do Sesc Ceilândia, Gama e 504 sul e têm por objetivo levar arte para as cidades que estão à margem do centro cultural do Plano Piloto.
;A fotografia já foi algo mais caro. Hoje, com a digitalização, até com celular você consegue fazer boas fotos; acredita Eraldo Peres, um dos organizadores do evento. Os espaços escolhidos para sediar a programação privilegiam a descentralização da cultura no DF. ;Escolhemos Ceilândia e Gama, porque queremos tirar a arte do eixo onde se concentram museus e galerias;, explica.
Peres garante, no encontro, que não existe a separação entre fotógrafo amador e o profissional. ;A fotografia em Brasília tem agregado pessoas. Aqui, nivelam-se os status;, disse. No ano passado, o evento foi promovido somente na unidade de Ceilândia, onde reuniu mais de 40 mil pessoas. Na ocasião, Eraldo conta que, ao paticipar de um encontro com uma fotógrafa, uma dona de casa surpreendeu-se com as dificuldades do métier. ;A partir de hoje, vou valorizar mais a profissão de fotojornalista;, teria dito ela. Para a coordenadora de cultura do Sesc, Juliana Valadares, a intenção é transformar o evento em um marco dessa época do ano.
Agenda do mês da fotografia
Exposições
; Antes que a natureza
acabe, da Afnatura
; Jéricos, de Anderson Schneider
; Brasília Submersa, de Beto Barata
; Prêmio POYi Latam,
do Nuestra Mirada
; Retratos ; Índia, China, Nepal e Tibet, de Arthur Monteiro e
Isabela Lyrio
; Buenos Aires, do Foto Club
Buenos Aires
Palestras
; ;;Fotografia e cinema;,
com Egberto Nogueira
; ;Fotografia social;, com João Ripper
; ;Fotografia de eventos/social;, com Adriano Gonçalves
; ;Direito autoral e novos
profissionais;, com Fernando
Bizerra e Ana Alice
; ;Do social ao autoral;,
com Kazuo Okubo
; ;Do ensaio ao livro;,
com João Campello
Oficinas lúdicas
; Oficina de câmeras artesanais, com Dirceu Maués
; Oficina de Pin hole, com José Rosa
Workshops
; Fotografia sensual e nu,
com Donizete Aparecido
; Iluminação para produtos,
com Geovany Bezerra
Participação internacional
; A rede social ibero-americana de fotografia Nuestra Mirada participa da programação com a mostra POYi Latino América, um ;World Press Photo latino-americano;, segundo Peres. A exposição reúne os vencedores do concurso de fotojornalismo de mesmo nome.
Valorização local
; Das seis exposições, quatro foram produzidas por
fotógrafos da cidade.
Premiação
; As inscrições para o Prêmio Sesc de Fotografia podem ser feitas nas unidades da instituição no DF ou pelos correios gratuitamente, até 29 de julho. As premiações ocorrerão durante o mês de agosto.