Eles frequentavam os mesmos círculos sociais e um dia Andy Warhol disse para o vendedor de bebidas em Nova York que gostava muito da garrafa de vodca Absolut e, por isso, iria fazer alguma coisa com ela. ;Ótimo;, respondeu Michel Roux, que assumira o marketing e a distribuição da bebida sueca num mercado onde até então as legítimas e verdadeiras vodcas tinham uma mesma e comum origem: a Rússia.
A garrafa que seduziu o artista plástico norte-americano (foi também empresário, pintor e cineasta), era nada mais do que um frasco de botica. Foi numa loja de antiguidades na velha cidade de Estocolmo que a equipe de designers da marca buscou inspiração na forma de uma tradicional garrafa de remédio. Uma vez decidido o formato, parecia natural usar o vidro com o qual são feitos os frascos de medicamentos na Suécia por mais de 250 anos.
Com o uso de cores fortes e brilhantes e tintas acrílicas, Warhol introduz a embalagem da vodca sueca na pop art, depois de ter reproduzido com as mesmas técnicas as latas de sopas Campbell e a garrafa de Coca-Cola, além de rostos de figuras conhecidas, como Marilyn Monroe, Liz Taylor, Michael Jackson, Elvis Presley, Mao Tsé Tung e outros. Andy morreu em 1987, aos 59 anos, um dia depois de ter-lhe sido operada a vesícula biliar. Após sua morte, ninguém mais tem dúvida de que o design publicitário seja arte.
No caso da embalagem de vodca, ele foi logo seguido pelos americanos Keith Haring e Kenny Scharf. Em 1988, vários artistas do mundo inteiro tinham destacado a garrafa em seus trabalhos e enviado para a sede da Absolut, na Suécia, independentemente de terem sido solicitados. Atualmente, a coleção de arte inclui 850 obras executadas por artistas, que se expressaram não só na pintura, mas também na fotografia, escultura, vidro, trabalho em madeira, arte popular, arte em computador/digital e ;todos os outros meios imagináveis;, resume Mia Sundberg, que trabalha na curadoria do museu.
Por mais de uma década, a coleção viajou ao redor do mundo, especialmente nos países onde a marca Absolut opera. Esteve em Londres, na Cidade do México, em Santiago e, em 2003, a grife foi convidada a participar como expositora oficial na Bienal de Veneza com 13 artistas. Entre os mais conhecidos, estão a francesa Louise Bourgeois e o britânico Damien Hirst, além dos brasileiros Romero Britto, com três obras, e papa contemporâneo Vik Muniz.
Ver, nos dias de hoje, o acervo de obras de arte estacionado em Estocolmo é um privilégio só permitido para convidados, mas no ano que vem a mostra estará aberta ao público. Ela será totalmente transferida para um prédio novo e se chamará Spiritmuseum, que significa museu de destilados, cuja inauguração está prevista para maio de 2012, em Djurgarden, arredores da capital sueca.
Origem
Em um momento em que a atenção das marcas de luxo se volta para um mercado no qual o conhecimento não se adquire do dia para a noite, o contexto histórico e cultural é cada vez mais importante. Se a Absolut é uma vodca premium número 1 do mundo com aproximadamente 11 milhões de caixas de 9 litros vendidas em 2007, a influência da marca-ícone vai além do universos de vinhos e destilados. Teve origem em 1879, no interior da Suécia pelo visionário Lars Olsson Smith, cujo retrato é apresentado no medalhão de todas as garrafas da marca. Esse homem se tornou órfão ao nascer e aos 9 anos foi adotado e levado de sua terra natal, Ahus, para Estocolmo, onde, em 1850, quando tinha 14 anos, já controlava um terço de todas as vodcas vendidas no país. Apesar de ter inventado o processo de destilação que contínua usado até hoje, Olsson morreu pobre.
Feita unicamente com trigo, água e aromas, a vodca Absolut foi vendida pelo governo sueco para a empresa Pernod Ricard, em 2008. Nessa época, um político local denunciou a transação envolvendo o legado artístico, que considerava propriedade do povo sueco. Por isso, o acervo ; que reúne ;glamour, humor, loucura, divertimento e arte;, no dizer de sua curadora ;, ficou fora do negócio e passou a ser administrado por uma fundação, à qual a empresa detentora da marca de bebida faz questão de prestar apoio.
A colunista viajou à Suécia a convite da Absolut
Louise Bourgeois
Uma das artistas centrais do século 20, a francesa Louise Bourgeois, que morreu em maio do ano passado, aos 98 anos, está sendo homenageada em São Paulo, com uma exposição que reúne 93 obras ; primeira grande retrospectiva no país. Denominada O retorno do desejo proibido, a mostra foi aberta no Instituto Tomie Ohtake (Faria Lima, 201), onde ficará até 28 de agosto. A exposição, que revela como a psicanálise transformou a carreira da artista, segue para o Rio de Janeiro.