Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Sucesso de Rock Brasília faz crescer as expectativas para o FBCB

;Ainda temos uma luta muito grande pela frente;, admitiu Vladimir Carvalho, pouco depois da vitória de Rock Brasília ; Era de ouro, eleito o melhor documentário no 4; Paulínia Festival de Cinema. O diretor paraibano, uma das personalidades mais atuantes da cultura brasiliense, não fazia referência a música ou filmes. A ;luta;, no caso, envolve um acontecimento muito específico: o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que chega à 44; edição com mudanças significativas nos critérios de seleção de filmes. ;Esse prêmio é muito importante, exatamente no momento em que acontece uma reorganização do nosso cinema. Isso é maior do que a minha trajetória pessoal;, afirmou o cineasta, cujo filme recebeu prêmio de R$ 100 mil. Febre do rato, de Cláudio Assis, foi o longa de ficção preferido do júri de Paulínia.

A premiação paulista, que consagrou o retrato de bandas candangas dos anos 1980, foi acompanhada com especial atenção pela Secretaria de Cultura do Distrito Federal. A comissão organizadora do Festival de Brasília esperou a divulgação dos vencedores, concluída na madrugada de sexta-feira, para fechar a lista dos filmes escolhidos para a mostra de 2011. Isso porque, apesar do fim da exigência de ineditismo para os longas em competição, uma condição se impõe sobre as escolhas da comissão organizadora: produções vitoriosas como melhor filme em outros festivais não podem entrar na disputa brasiliense. No entanto, segundo o coordenador do festival, Nilson Rodrigues, o resultado não influenciou as decisões da curadoria de Brasília. ;Tivemos um conjunto grande de inscrições;, afirma. ;Nosso norte foi privilegiar os bons filmes.;

Ao todo, 624 títulos foram inscritos ; 110 longas-metragens (56 inéditos), 415 curtas e 99 fitas de animação. O prêmio para o longa vencedor, não à toa, é o mesmo de Paulínia: R$ 250 mil. A reunião da curadoria, marcada para ir até o meio-dia de ontem, foi prolongada até as 16h. Quando o suspense chegou ao fim, a secretaria divulgou uma relação de seis longas que reprisa dois concorrentes de Paulínia: Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra (exibido em mostra paralela do Festival de Cannes), e Meu país, de André Ristum, estão na disputa pelo Candango. Além deles, a seleção exibirá As hipermulheres; de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, Hoje, de Tata Amaral, O homem que não dormia, de Edgard Navarro, e Vou rifar meu coração, de Ana Rieper.

Os longas foram escolhidos por uma comissão formada pelos cineastas André Klotzel, Cibele Amaral e Monica Schmiedt, o diretor e produtor Flávio Ramos Tambellini, e o jornalista e professor de cinema Sérgio Moriconi. O predomínio é de produções de São Paulo (que compõem 50% da lista) ; não há longas brasilienses na contenda. Entre os curtas, a cidade aparece com Imperfeito, de Gui Campos, e Um pouco de dois, de Danielle Araújo e Jackeline Salomão, além da animação Ciclo, de Lucas Marques Sampaio.

Polêmicas
Há dois meses, o anúncio das mudanças no Festival de Brasília provocou discórdia entre cineastas locais e a produção do evento. Associações brasilienses alegaram que não foram consultadas pelo governo. De acordo com Nilson Rodrigues, as alterações na estrutura foram necessárias para combater um período de ;decadência; da mostra ; ofuscada, entre outros motivos, pela premiação parruda de Paulínia. ;Queremos uma programação de alto nível, que movimente a cidade;, comentou, na ocasião, o secretário de Cultura, Hamilton Pereira.

Entre as novidades na tela, filmes em digital passam a concorrer nas mostras de curtas e longas. Além disso, a mostra competitiva terá sessões em Ceilândia, Taguatinga e Sobradinho, que exibirão os filmes simultaneamente às estreias no Cine Brasília. Além de uma seleção específica para fitas de animação, também foram criadas as mostras Mosaico (com produções de diversos estados do país), Primeiros Filmes e Filme para Celular, cuja programação ainda será definida. A Mostra Brasília permanece em atividade. O orçamento destinado à mostra em 2011 é de R$ 4 milhões ; R$ 1 milhão a mais que em 2010.

Os selecionados
Longa-metragem
; As hipermulheres, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro, RJ/PE
; Hoje, de Tata Amaral, SP
; Meu país, de André Ristum, SP
; O homem que não dormia, de Edgard Navarro, BA
; Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra, SP
; Vou rifar meu coração, de Ana Rieper, RJ

Curta-metragem
; A casa da vó Neyde, de Caio Cavechini, SP
; A Fábrica, de Aly Muritiba, PR
; De lá pra cá, de Frederico Pinto, RS
; Elogio da Graça, de Joel Pizzini, RJ
; Imperfeito, de Gui Campos, DF
; L, de Thais Fujinaga, SP
; Ovos de dinossauro na sala de estar, de Rafael Urban, PR
; Premonição, de Pedro Abib, BA
; Ser tão cinzento, de Henrique Dantas, BA
; Sobre o menino do Rio, de Felipe Joffily, RJ
; Três vezes por semana, de Cris Reque, RS
; Um pouco de dois, de Danielle Araújo e Jackeline Salomão, DF

Animação
; 2004, de Edgard Paiva, MG
; A mala, de Fabiannie Bergh, PA
; Bomtempo, de Alexandre Dubiela, MG
; Cafeka, de Natália Cristine, RS
; Céu, inferno e outras partes do corpo, de Rodrigo John, RS
; Ciclo, de Lucas Marques Sampaio, DF
; Media training, de Eloar Guazzelli e Rodrigo Silveira, SP
; Menina da chuva, de Rosaria, RJ
; Moby Dick, de Alessandro Corrêa, SP
; Quindins, de David Mussel e Giuliana Danza, MG
; Rái sossaith, de Thomate, SP
; Sambatown, de Cadu Macedo, SP

Em questão
Cineastas e produtores reunidos no Festival de Paulínia comentam as mudanças na edição de 2011 do Festival de Brasília:

;Até hoje, todos os meus filmes estrearam no Festival de Brasília. Este ano, eu me inscrevi aqui porque queria sentir esta explosão de Paulínia.
Achei interessante a queda da obrigatoriedade do ineditismo. O público daqui de Paulínia não é o mesmo de Brasília.;
Cláudio Assis, cineasta

;O Festival de Brasília talvez fosse o último com a obrigatoriedade da película. Essa discussão do formato, na minha opinião, já está superada. Não importa o formato captado, mas o filme na tela. Mais do que o filme inédito o que vale é o conceito de curadoria. Espero que, nesse sentido, Brasília preserve a tradição que sempre teve;
Eryk Rocha, cineasta

;Eu freqüento o Festival de Brasília há quase 10 anos consecutivos. Espero que o Festival não perca a identidade da ousadia, com uma guinada mais comercial. As duas grandes características de Brasília são a ousadia e a crítica da plateia, que é um público muito politizado. Essas duas características precisam ser mantidas;
Di Moretti, roteirista

;Brasília é nossa casa, nosso abrigo, nosso colo. Desejo toda sorte ao novo grupo e que o Festival consiga manter a tradição de sempre apoiar o cinema brasileiro
incondicionalmente;
Sara Silveira, produtora