Paraty ; João Ubaldo Ribeiro não gosta de Guimarães Rosa. O escritor baiano fez a revelação na mesa Alegorias da ilha Brasil, uma das mais esperadas da 9; Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Ubaldo falou durante pouco mais de uma hora sobre as histórias que cercam o processo criativo de seus livros e contou não ter grandes amores por um dos maiores nomes da literatura brasileira. Muitas vezes a linguagem utilizada por Ubaldo em Sargento Getúlio foi atribuída a uma herança de Rosa. ;Vou fazer aqui uma revelação: acredite se quiser, jamais tinha chegado nem perto de um livro de Guimarães Rosa quando escrevi Sargento Getúlio. E depois cheguei perto e ele não está entre os autroes de meu afeto, de minha preferência. Não me fala.;
Mas Ubaldo fez questão de reconhecer o papel fundador de Rosa na história da literatura brasileira. ;Guimarães deu um pulo enorme nesse sentido, libertou. É preciso distinguir a minha idiossincarsia com ele, meu santo não cruza com o dele, da importância que sei que tem na literatura brasileira. Não sou imbecil de dizer o contrário.; Com piadas e bom-humor, Ubaldo arrancou risadas da platéia, lotou a Tenda dos Autores e contou como passou a tirar sarro de quem perguntava como ele conseguiu reproduzir tão bem a cena de homosexualismo de O sorriso do lagarto. ;Passei a dizer que treinava com uns amigos.;
O autor de Viva o povo brasileiro confesou não ter muita esperança na humanidade. ;Somos uma especicizinha muito criticável. Todos nós somos uma contradição imensa. A nossa ruindade animalesca prevalece apesar da nossa racionalidade. Estamos convivendo pacificamente, mas um elemento ínfimo qualquer podia tansformar nós todos em assassinos uns dos outros. Agora tem alguém estrangulando outro. Não aprendemos nada. Continuamos a repetir a mesma atrocidade, algumas com mais crueldade.;
Verdade e memória Ficção entre escombros tomaram a dianteira na mesa anterior. Edney Silvestre, Marcelo Ferroni e Teixeira Coelho discutiram os limites da realidade e da ficção na mesa Ficção entre escombros. Silvestre leu trecho de seu próximo romance, A felicidade é difícil, em que recupera a história de um sequestro de uma criança em São Paulo e percorre boa parte da história recente do Brasil. O autor de Se eu fechar os olhos agora , ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura, acredita que a literatuura é a melhor forma de contar a história do Brasil.
Teixeira Coelho, que também tratou da história do Brasil em Uma história natural da ditadura e se debruçou unicamente sobre a ficção em O homem que vive prefere falar em diversas verdades e pontos de vista. ;A veracidade não é uma coisa objetiva;, diz Coelho. ;A melhro coisa que se pode fazer é colocar a verdade em discussão.; Teixeira Coelho, que também é ensaísta e crítico de arte, contou que escreveu O homem que vive para esquecer os horrores da ditadura narrados em outro livro.
Já Silvestre foi incisivo em dizer que não quer esquecer nada. ;Há uma verdade sim. Às vezes a gente não sabe qual é porque somos pessoas comuns e não chegamos a ela. Agora, há as realidades que construímos em nossas ficções e há realidades incontestáveis;, reparou Silvestre, ao lembrar da cobertura de tragédias recentes para a televisão. ;Sou contra o esquecimento, acho que devemos lembrar.;