Em sua décima edição, o Festival de Teatro Brasileiro (FTB) ruma ao Sul do país. Depois de passar pelo Nordeste no ano passado e de levar os espetáculos mineiros ao interior de São Paulo, a mostra segue pelo Paraná e estreia no Rio Grande do Sul, com o espetáculo Tio Vânia, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, do Grupo Galpão. A cena teatral do estado de Minas Gerais é o tema do festival que surgiu em Brasília como Mostra de Teatro da Bahia, em 1999 e, por muito tempo, foi um evento da capital federal. Com o tempo, amadureceu e englobou estratégias de formação de público, qualificação profissional para atores e se tornou um importante veículo de intercâmbio cultural entre os estados brasileiros.
Até o dia 27, o FTB passa por Porto Alegre, Caxias do Sul e Nova Hamburgo. Os 18 espetáculos e as 12 oficinas gratuitas migraram pelas cidades paulistas de Paulínia, Sorocaba e Campinas. Passaram pelo Paraná e agora finalizam os 54 dias de apresentações. Num trabalho em conjunto com a rede pública de ensino, o evento conseguiu reunir quase sete mil alunos, sempre preocupado em democratizar o acesso à cultura. "Trabalhamos com uma equipe de 30 arte-educadores que coordena esse momento. Antes da ida ao teatro, eles trabalham com os alunos nas escolas e, depois, retornam para discutir o que foi visto, para que aquilo não morra ali", explica o produtor brasiliense e idealizador do FTB, Sérgio Bacelar.
Bacelar produzia espetáculos baianos nos anos 1990 quando teve a ideia de criar a 1; Mostra de espetáculo da Bahia na Caixa Cultural, cuja primeira exibição contou com a presença do ator Wagner Moura, ainda desconhecido dó grande público. Em 2002, quando o teatro precisou fechar para reforma, o produtor repensou o formato do evento e mudou seu nome para Festival de Teatro Brasileiro, para que pudesse incluir outros estados. "Mas não desconsidero essas primeiras cenas como parte da história do festival", diz ele.
Espírito nômade
No ano de 2005, a Cena Pernambucana já havia sido mostrada em Brasília e abriria espaço para a Cena Mineira. ;Com a presença de um dos braços do Grupo Galpão, o Cine Horto, a estrutura começou a mudar;, conta Bacelar. O festival procurou alcançar a periferia e desenvolver um formato condensado na cidade, a partir do qual surgiram cenas curtas que foram se apresentar em Belo Horizonte. Nessa época, também se fortaleceram as oficinas com jovens em situações de risco e, a partir delas, surgiu o grupo de Congado Tambores do Brasil.
Mas foi só em 2007 que o FTB assumiu seu caráter nômade. Em janeiro daquele ano, a estreia na capital carioca aconteceu no Teatro Glauce Rocha, acompanhada de um circuito pelas ruas da cidade. O acontecimento chamou a atenção do Fórum dos Secretários de Cultura do Nordeste e, em 2009, o FTB apresentou quatro edições, no Ceará, no Maranhão, na Bahia e em Sergipe. O intercâmbio entre artistas se intensificou e, hoje, os planos para o futuro é expandir até alcançar os estados do norte, como Acre, Manaus e Pará. ;O potencial do FTB é infinito. Se pensarmos no tamanho do Brasil e no fato de que a cada ano as cenas teatrais de cada estado se renovam. O festival é um complemento das políticas públicas, porque trabalhamos com capacitação e formação de plateia;, defende Bacelar.
O grande desafio, diz o produtor, é fazer as autoridades competentes notarem isso. ;Precisamos trabalhar em uma estratégia de convencimento;, arrisca. A mostra, que conta o apoio da Caixa e da Petrobras, tem ainda três semanas de exibição.