Sob o comando do diretor, ator e iluminador James Fensterseifer, a Cia. Brasilienses de Teatro comemora seu 10; aniversário este ano. Para celebrar a data, a trupe pescou nos primórdios de sua história, mais precisamente em seu primeiro ano de vida, um espetáculo baseado na obra do escritor Ítalo Calvino. Adaptado do livro O barão nas árvores, Cosme trepado estreia hoje, às 21h, no Teatro Galpão, onde fica em cartaz até 17 de julho. ;Calvino é plural, e esse trabalho tem muitas intenções. Fala de liberdade, de se posicionar contra o preconceito e do cuidado com a natureza;, ressalta o diretor.
Depois da primeira leitura, Fensterseifer debruçou-se sobre o livro, rabiscando, elegendo as cenas mais marcantes, transformando relato em diálogos. Eliminou personagens, fundiu informações, mas manteve a mensagem do texto original, que conta a história do barão Cosme Chuvasco de Rondó. Ainda criança, o menino se recusa a comer escargot e, num ato de rebeldia, decide se afastar da sociedade e morar no topo de uma árvore. Nunca mais desce de lá, mas não deixa de se relacionar com mundo, viver suas paixões e viajar, em uma vida com regras próprias. Apesar de ser fiel à anterior, a montagem de Cosme trepado traz um texto revisto, novos personagens e mudanças no cenário e nos figurinos.
Desta vez, a encenação se dará em uma arena, onde as árvores serão representadas por andaimes, e o público se sentará no centro do teatro, girando nos assentos para acompanhar a encenação ao redor. A estrutura é feita por 200 peças de andaimes, estruturadas em três níveis. A cena final se passa a sete metros do chão, exigindo um treinamento intenso dos atores, que há cerca de um mês circulam pelo cenário, para ganhar intimidade com o espaço.
Quem passa mais tempo dependurado na estrutura metálica é o ator Túlio Starling, que dá vida a Cosme, e admite ter sentido medo nos primeiros ensaios. ;É preciso estar mais seguro com o texto, a atenção durante as cenas é grande, mas esse desconforto traz um desafio para o trabalho, é muito interessante;, ele comenta. Antes de praticar no teatro, por três horas diárias, Starling escalou algumas árvores, além de se aquecer e se alongar com frequência, para exercitar a flexibilidade. ;Afinal, ele subiu na árvore aos 12 anos e viveu lá. Não preciso fazer estripulias, mas tenho que passar intimidade com o ambiente, transmitir a condição dele;, explica.
Os figurinos, compostos por trajes de época, espadas e tricórnios (chapéus de três bicos), foram desenvolvidos por Guto Viscardi e a trilha sonora, criada por Marcelo Linhos, traduz o clima denso, de loucura. ;A história é narrada pelo irmão do Cosme, e pensamos nela como algo que saiu da cabeça de alguém em crise, irmão de uma pessoa que vive nas árvores;, diz o diretor. Para reforçar essa atmosfera, o tema musical do protagonista é heavy metal. Em outro trecho, quando o herói sofre uma desilusão amorosa, a música ganha o acréscimo de um áudio capturado na floresta amazônica: árvores sendo arrancadas, numa referência ao mundo de Cosme em desmantelo.
No que depender de Fensterseifer, essa não será a única incursão da companhia às obras já levadas ao palco. O escritor italiano estava no foco da Cia. Brasilienses de Teatro. ;Queremos fazer uma mostra no ano que vem, com as três peças de Ítalo Calvino que montamos;, avisa.
COSME TREPADO
Hoje e amanhã, às 21h, e no domingo, às 20h, no Teatro Galpão, no Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul; 3443-6039). Até 17 de julho. Ingressos: 1kg de alimento não perecível. Não recomendado para menores de 14 anos.