Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Teatro do Concreto comemora 7 anos de carreira com espetáculos pela cidade

São sete anos de uma trajetória que mistura encenação, pesquisa e muito entrosamento com artistas Brasil afora, para articular e fortalecer a forma que eles elegeram para subir ao palco: o teatro de grupo. Esse é um (brevíssimo) resumo das atividades do Teatro do Concreto, que, para comemorar o aniversário, decidiu revisitar sete montagens marcantes de seu repertório. De amanhã a 31 de julho, a plateia brasiliense poderá acompanhar 21 sessões de teatro e de intervenções urbanas, realizadas no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Torre de TV e em faixas de pedestre próximas à Rodoviária do Plano Piloto. ;Tínhamos o desejo grande de ser um grupo de arte coletiva que tivesse continuidade. Não era só reunir para uma peça e acabar. Queríamos criar essa dimensão de experimentação e pesquisa;, afirma o diretor e criador da trupe, Francis Wilker.

O resultado da proposta começa a ser exibido com a peça que é considerada o ;mito fundador; do grupo: Diário do maldito, de hoje a domingo. O grupo apresenta uma interpretação da obra do dramaturgo Plínio Marcos. ;Esse tema foi um aglutinador do grupo. Havia o desejo de pesquisar a vida desse poeta que dedicou sua arte à denúncia social;, relata Wilker, que criou uma versão atormentada do escritor, em crise com sua escrita. O clima que permeia a obra do autor ;maldito;, com nuances de samba, botequim e cultura afro-brasileira, estará presente. A ação da peça se passa em um bar e os presentes serão brindados com porções de batida e mandioca frita.

De terça a quinta-feira, os atores ganharão as ruas para exibir Ruas abertas, uma intervenção cênica nas proximidades da Rodoviária do Plano Piloto, que nasceu de uma pesquisa sobre o amor e o abandono na sociedade contemporânea. ;Não temos texto, são ações que os atores realizam . E o mais interessante é ver o que isso gera no público que está passando;, revela o diretor. Para completar o ;cenário;, o Concreto subverteu o sentido de algumas placas de trânsito. ;Tivemos que lidar com o trânsito, o tempo do semáforo, a urgência da cidade na pele;, descreve ele.

No fim de semana seguinte, eles levam ao palco do Teatro II do CCBB o espetáculo Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos. Trata-se de um texto de Plínio Marcos sobre 25 presos que morreram enclausurados em uma cela, durante uma rebelião em Osasco, São Paulo. ;O texto é de 1977 e ainda afaz todo o sentido no sistema prisional de 2011. Muitos advogados nos procuram após as sessões, para saber mais sobre a obra;, conta Wilker. A estrutura narrativa lembra uma oração e a companhia optou por colocar um sonoplasta em cena para criar esse clima brutal, numa criação integrada às ações vocais dos atores.

A quarta atração da temporada de aniversário será Sala de espera, peça que trata de amor, descobertas e perdas. Baseada no livro A doença: uma experiência, do roteirista de cinema Jean-Claude Bernardet, a narrativa revela a difícil realidade de se descobrir um portador do vírus HIV. ;Estamos mudando um pouco a encenação original, tanto no cenário, quanto buscando um outro lugar de interpretação, um espaço de confissão, um contato mais íntimo com o público;, destaca Wilker.

Imagens
Em seguida, de 19 a 21 de julho, o público poderá apreciar Mirante, o mais recente trabalho do grupo, uma investigação sobre espaços da cidade, feita por diferentes grupos de teatro. Ao Concreto, coube a tarefa de fazer uma releitura da Torre de TV. ;O trabalho traz imagens que lidam com a cidade construída, a ideia do candango, a assepsia que está associada à cidade;, relata o diretor, acrescentando que, com as mudanças das barracas da feira, a encenação está sendo reconstruída.

A penúltima montagem programada para exibição de 22 a 24 de julho é Borboletas têm vida curta, uma viagem fragmentada pelas memórias de infância de um homem. ;Parece um sonho;, diz Wilker. A maratona se encerra com Entrepartidas, um espetáculo itinerante sobre o efêmero, chegadas e partidas.

Contaminados com a ideia de trânsito após Ruas Abertas, eles criaram um espetáculo que começa quando a plateia embarca em um ônibus e prossegue dentro da casa de um cidadão comum. A logística envolve uma van, três carros de apoio para transportar os atores e o estudo de percursos alternativos. ;Trabalhamos muito a ideia do que é estar no espaço privado e no espaço público;, revela.