A história sobre as origens do primeiro álbum da ;banda de um homem só; Bon Iver, de Wisconsin, tornou-se uma fábula que blogueiros e sites especializados adoram reanimar ; quase sempre com adjetivos derramados de carinho. Justin Vernon, um poeta barbudo, sensível e delicado à vera, trancou-se por três meses numa cabana. E, de lá, tendo dedicado horas e horas a equipamentos e instrumentos básicos, saiu com For Emma, forever ago, um dos discos mais surpreendentes de 2008.
Em 2011, Bon Iver, Bon Iver, a esperada continuação, chegou sem as marcas anteriores de um compositor recluso, solitário, que prefere a brisa das montanhas à rotina comum de um músico independente. Lançado oficialmente no início da semana ; mas liberado na internet há mais de um mês, por descuido do iTunes ;, a novidade anuncia: Vernon saiu da cabana.
Em conversa com o portal NPR, ele contou que a mudança de ares ; uma nítida troca de estação musical e temperamental ; se deu logo que For Emma, finalizado de forma independente em 2007, foi adquirido pelos selos Jagjaguwar (EUA) e 4AD (Inglaterra), no primeiro semestre do ano seguinte. ;Eu tinha meio que terminado e então, alguns meses depois, comecei a trabalhar na canção de abertura do novo, Perth. Demorou para nascer. E continuou a se formar durante os três anos seguintes;, comentou.
Ao vivo, Vernon não fica sozinho e divide a performance com Sean Carey (percussão, vocal, piano), Michael Noyce (vocal, violão) e Matthew McCaughan (percussão, vocal, baixo). Quando não está em tour com Bon Iver, dedica-se a vários projetos ; entre os principais, Volcano Choir e Gayngs. E quem ainda tem na memória auditiva o incrível My beautiful dark twisted fantasy, de Kanye West, deve se lembrar de que o rapper pegou emprestados de Vernon samples de Woods, do EP Blood bank (2009).
Aberto a outras sonoridades, o letrista escancarou as portas da solidão e dedicou-se a uma criação mais ambiciosa ; quem sabe mais otimista: a associação com outros grupos, como o coletivo Gayngs (de 25 integrantes), mudou até o seu jeito de compor. ;Ficou impossível apenas sentar com o violão e começar a escrever uma canção. Todas foram escritas enquanto iam sendo gravadas;, contou ao NPR. Ele teve tempo de experimentar timbres, arriscar-se na percussão, no baixo e no teclado, mas sempre com gente à sua volta ; sobretudo McCaughan e Carey.
O despertar
Mais florido e colorido que o disco de estreia, Bon Iver, Bon Iver não deixa de confidenciar um tom puramente intimista ; a imagem de Vernon segurando um violão de olhos fechados, o peito inflado de amor e dor ainda persiste. A citada Perth ; com as cordas mais atraentes entre as 10 faixas ; abre passagem para uma viagem sentimental que, de fato, vai de malas arrumadas. Os títulos sugerem passeios a Minnesota, WI (estado vizinho à terrinha dele, Wisconsin), Hinnom, TX (o Vale de Hinom, em Jerusalém, supostamente colado ao Texas), Lisbon, OH e Calgary (que tem videoclipe na rede desde a primeira quinzena de junho).
Se For Emma flagrava um melancólico deslocado ; o Nick Drake de Pink moon ;, o que se ouve agora é uma produção de levadas mais velozes ; o folk rock animado do Fleet Foxes ; e um flerte com os anos 1980. Na segunda metade, Hinnom, Wash. e, em especial, na derradeira Beth/rest, comunica a chegada de um errante de sorriso aberto, palavras de sábio: ;Não vivo mais na escuridão;.
Se gostou, ouça
Born Blonde
Na incansável onda retrô dos novos independentes, os londrinos tentam reviver o britpop dos anos 1990. Ouça: www.myspace.com/bornblondeofficial.
Gross Magic
O pop glam de Sam McGarrigle provocou comparações a Ariel Pink, Beck e até Nirvana. Lança o EP The teen jamz em agosto. Ouça: thesoundsofsweetnothing.bandcamp.com/album/teen-jamz-ep.
Ulysses
Os solos de guitarra lembram o melhor dos anos 1970. O quarteto inglês lança o disco de estreia, Everybody;s strange, daqui a dois meses. Ouça: www.myspace.com/ulyssesgb.
BON IVER
Conheça a banda de Wisconsin em www.myspace.com/boniver. O segundo disco, Bon Iver, Bon Iver, é um lançamento da Jagjaguwar/4AD. Importado. *****