; Maíra de Deus Brito
A África é a fonte de inspiração para o artista plástico baiano Ronaldo Ferreira e o batik a sua técnica para retratar peixes, elementos da cultura afroameríndia e símbolos e deuses do candomblé. Oriundo do javanês ambatik, que significa escrever à mão em forma de desenho, o método (criado na ilha Java e disseminado no Oriente para as culturas chinesas, indianas e africanas) colore tecidos com cera quente e chama a atenção pelas imagens craqueladas, resultado final do processo. As pinturas ;rachadas; ganharam, pelas mãos de Ronaldo, faces vivas e misteriosas, que poderão ser vistas até o dia 30, na exposição Máscaras africanas, no Espaço Cultural Ary Barroso (Sesc 504 Sul).
;As máscaras têm um sentido antropológico muito importante e são uma referência aos ritos de passagem em comunidades tradicionais africanas e indígenas. Elas também possuem uma beleza artística e estética única. Muitos artistas modernos, como Picasso, foram beber na fonte da arte africana. Ela sempre será inspiradora;, diz o pintor, que também remete seus trabalhos à questão da ancestralidade. ;Em função da modernidade do nosso dia a dia, da revolução tecnológica, acho importante resgatá-la;.
Professor de história, com especialização em turismo, Ronaldo se dedica às artes plásticas desde 1979, quando ainda morava em Salvador. Lá, ele conheceu o tapeceiro e museólogo Antônio Luiz Figueiredo, com quem aprendeu a arte do batik. ;Foi amor à primeira vista. Já tinha tentado outras técnicas, mas o batik me conquistou. E a identificação não foi só com a forma e com o efeito, mas também por englobar a questão africana, por eu ser baiano e por ter participado por muito tempo de um grupo de danças folclóricas em Salvador. Existe uma grande referência cultural e histórica na minha produção;.
Além das máscaras, o público terá a chance de ver outras obras de Ronaldo. Dez estamparias com figuras rupestres completam a mostra e revelam outras temáticas abordadas pelo pintor, que também trabalha com figuras em totens e artigos utilitários, como almofadas e objetos de cama e mesa.
No exterior
Radicado na capital federal desde 1996, Ronaldo já viu suas obras passarem por várias cidades do país e no exterior. Lá fora, ele participou de mostras coletivas no Teatro da Trindad (Lisboa), na Semana da Bahia (Nova York) e na Casa do Brasil (Madri). Individualmente, expôs Deuses africanos, em Las Palmas de Gran Canária (ilha espanhola) e Afrobatik, em Buenos Aires.
;Em todos os países em que visitei, sempre senti uma forte receptividade do público. Um artista brasileiro fazendo referência à cultura africana desperta a curiosidade de europeus e americanos, que estão sedentos por novidades. Nossa arte precisa sair daqui e visitar outros lugares;, comenta o artista, sobre o olhar estrangeiro em relação às produções nacionais.
Máscaras africanas
Até 30 de junho, de segunda a sexta, das 8h às 21h, no Espaço Cultural Ary Barroso (Sesc 504 Sul, Bl. A; 3217-9101). Entrada franca. Classificação indicativa livre.