postado em 14/06/2011 13:00
Ele é robusto, mas não move uma pata, nem relincha. O cavalo The second (;O segundo;), obra da artista plástica Waleska Reuter, destoa do visual acinzentado da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF): mais parece um vigilante misterioso que uma reprodução fiel de seu correspondente no reino animal. Exibe dentes enormes ; como presas de elefante ;, um olhar não muito convidativo, e, com rajadas fortes de vento, pode até balançar, para frente e para trás. ;Meu interesse é nessa interferência nos objetos. O ;segundo; é uma referência dos títulos dos reis. Pensei nele como uma mistura do universo masculino com o infantil. A base é completamente instável: a ideia do berço de ninar, de transformar o cavalo num brinquedo grande;, conta a escultora. O corcel exibe o lado mais exótico ; e, para ela, ousado ; da exposição Brasília, meio século da capital do Brasil, em cartaz até 3 de julho, no espaço cultural da Câmara Legislativa.Ela comprou o animal, moldado em fibra de vidro, pela internet, de um fornecedor de Goiânia. Ele chegou cru, sem cor e precisando de polimento. Waleska pegou o material bruto para levar adiante a tendência que adotou há três anos: aproveitar-se de manequins ; humanos e animais ; e fornecer novas interpretações a formas, membros e curvas. ;Modifiquei o pelo e depois veio o trabalho com os dentes. Eu furei a região, o que foi complicado de fazer, e coloquei metal. Trabalhei com massa plástica de veículo. É todo laqueado. A tinta seca muito rápido e é de alta durabilidade. Queria que fosse vista de longe;, nota.
Natureza subvertida
Waleska considerou este um trabalho arriscado. ;Modifiquei totalmente a cara dele. Não sabia se ia funcionar. Quando você está na massa, não tem muita ideia se já está virando a forma que você quer. Se não ficasse uma peça em que as pessoas acreditassem, não ia botar na rua;, comenta. A superfície cimentada ao redor do animal, ela diz, ;não deixa de ser um campo, areia;. ;Os trabalhos vêm prontos na minha cabeça. Basta encontrar a forma certa, que é o manequim;, completa. E localizar a matriz pode significar uma viagem a São Paulo ou mesmo ao exterior.
A relação criativa da autora com os quadrúpedes remonta a 2002. A convite de José Eduardo Garcia de Moraes, preparou, para exposição na Praça Portugal (ao lado da embaixada do país), uma performance com um animal real, branco, e vestido como um bicho de pelúcia. Outra experiência chave do processo ocorreu há cerca de três anos, com a obra As quatro evangelistas, em parceria com a amiga Gisel Carriconde. ;Uma das estátuas de jardim quebrou. Ela ia mandar alguém consertar. Eu falei, ;deixa eu dar uma olhada;. E descobri uma massa plástica que cola em qualquer material. Pensei que poderia ser interessante pegar um manequim, uma coisa superbanalizada, e voltar para o conceito da escultura;, relata.
Os primeiros manequins metamorfoseados em instalações apareceram na mostra coletiva Arqueologia do plástico, em 2008. ;Uma comunidade estranha, de mulheres com cara de elefante, que se autoreproduziam;, acrescenta. Nos corpos remodelados de Waleska, estranheza é palavra de ordem.