Fazer teatro foi algo fundamental para alcançar um resultado tão convincente na tela?
Não sei se foi o teatro que proporciona isso, pois há imensos atores que não passaram pela formação teatral. Sou formada pelo Conservatoire National Supérieur d;Art Dramatique. Então, a verdade é que a linguagem corporal, quando você passou pelo palco, é mais facilmente domada. O trabalho que realizei neste filme consistiu em coletar cada vez mais informações em torno da Coco Chanel. Há nove anos sou modelo para a grife Chanel, então, nesse período, sempre estive em contato com as costureiras e as histórias delas, por exemplo. Foi uma preparação natural e desimpedida uma vez que, àquela época, ainda não sabia que iriam me propor o papel no cinema. Através das leituras cheguei ao senso de invenção, de mistificação, da Coco Chanel.
[SAIBAMAIS]Qual foi o maior desafio e qual o melhor artifício para a composição?
Ser a Chanel, no cinema, é praticamente representar a Torre Eiffel. Quando fiz a Simone de Beauvoir, em trabalho anterior, optei pela versão da própria ; decidi ressaltar como ela mesma se contava. Para a Coco, tive uma proposição muito intuitiva. Me pediram para encarnar o espírito da casa, mas me deixaram muito livre. Senti todo o legado que ela deixou. Pela condição inicial dela, de pobreza, pude especular sobre o comportamento dela à mesa, por exemplo. Daí, dei relevância ao talento dela de atriz, de renegar o passado e se tornar, talvez, mais princesa do que as próprias princesas. Ela enganou a todos.
No filme do Jan Kounen, como foi o embate para garantir equidade com Mads Mikkelsen (intérprete do compositor), em termos de espaço na trama?
Foi necessário lutar, pois o diretor era naturalmente mais inclinado à percepção do papel do Stravinsky. Como criador e homem, ele estava mais próximo do compositor. Coco era uma criadora, mas de roupas. O cerne da problemática, porém, não está aí, nessa visão. A obra-prima da Coco foi estabelecer o caminho rumo à liberdade. Ela imergiu como uma mulher livre, num mundo que não o era. O império capitalista que ela montou tinha como fim o alcance da liberdade.
Qual o teu grau de comprometimento com a Chanel e com Karl Lagerfield?
Sou modelo só para a Chanel. Aprendi muito sobre moda, mas não sou uma vítima dela. Karl Lagerfield não impõe sacrifícios. Atualmente, pela quantidade de roupas que tenho da grife, não há por que comprar mais uma camiseta de viscose. Enquanto durar minha relação com o Karl, que é ótima e magnética, isso não há uma estimativa para encerramos o contrato.
Qual o teu interesse por cinema brasileiro?
Tive a sorte de crescer em Nantes, onde há o Festival dos Três Continentes. Vi muitos filmes brasileiros, por lá. Meu pai me mostrou o cinema do Glauber Rocha e do Nelson Pereira dos Santos. Depois, claro, assisti a Walter Salles e ao Cidade de Deus (Fernando Meirelles). Não vejo mais, por não passarem tantos filmes brasileiros na França.
Depois da Coco Chanel, quais são os seus planos nos cinema?
Tenho um roteiro pronto para o cinema. Já tenho uma longa cena, que está no longa X Femmes (2008), mas, na verdade, está prevista para integrar o meu longa autoral. Tenho colocado toda a minha energia neste projeto. Tudo veio, após ter lido um poema de uma autora russa que adaptou um conto muito popular. Talvez seja o conto que mais amedronte crianças na Rússia, intitulado O danado. Trata-se de um monstro que é necrófilo e vampiro. Não é um filme de gênero, porém. O que me toca é o processo do vampirismo dentro de uma aventura amorosa. Isso é uma metáfora que me estimulou até na interpretação em Coco Chanel & Igor Stravinsky.