A visita do Correio aos bastidores do 1; Festival de Ópera de Brasília, na última sexta-feira, constatou o clima de descontração dos ensaios. Mas a cena só foi essa porque o evento, que estreia hoje, já estava em avançado estado de produção. ;Começamos os trabalhos há dois meses;, contou o maestro Cláudio Cohen. ;Isso sem contar toda a pré-produção;, continua o regente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e diretor geral do festival. E não foi pouco trabalho. A realização de uma ópera reúne algumas centenas de profissionais. De hoje até 28 de junho, serão encenados quatro espetáculos, sendo duas óperas e duas apresentações musicais, em seis dias de programação gratuita.
Esta noite, a Sala Villa-Lobos receberá um concerto em homenagem a Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), com árias, trios, quartetos e o Réquiem de Mozart ; este último, com solos da soprano Livia Bergo, da contralto Valdenora Pereira, do tenor Francisco Bento e do baixo Thoroh de Souza.
Semana que vem, na sexta e no sábado, o festival chega à sua proposta principal com a realização da ópera Pagliacci, de Ruggero Leoncavallo. ;É uma ópera que fala de pessoas, não de deuses;, detalha o diretor de cena Francisco Mayrink, ressaltando uma característica comum entre as obras escolhidas para o evento. ;Os títulos que o Cláudio escolheu são curtos, de uma hora e pouco de duração, e de grande apelo popular porque tratam de dramas bem humanos, como a traição;, comenta a soprano Janette Dornellas, parte do elenco da Cavalleria Rusticana, ópera que ocupa a Villa-Lobos nos dias 23 e 24.
Sobre as escolhas, Cohen acrescenta que, neste primeiro ano, optou por uma concepção mais realista do que poderia ser um festival de ópera, com títulos de grande potencial de empatia com o público. ;A ideia para 2012 é ter três títulos e um espetáculo de gala;, adianta. Para o encerramento do evento, aliás, está programado um concerto de gala. A produção trabalha para que uma atração internacional participe da ocasião.
Coordenadora de figurino, Mariza Macedo-Soares explica que as histórias das duas óperas se passam em dias importantes, daí a necessidade de um figurino que represente isso. ;Eu chamei o figurinista Theodoro Cochrane para trabalhar comigo. Foi ele quem fez os desenhos;, conta Mariza, em referência ao ganhador do Prêmio Shell 2001 pela peça Escuro.
Personagens principais
Os figurinos foram inspirados na moda da década de 1950. ;Saias rodadas, calças com pregas, camisa de colarinho estreito;, detalha a coordenadora. As roupas dos integrantes do coro, responsável por cantar as tragédias, partem do branco, passam por tons de cinza até chegar no preto. O colorido ficou para os solistas, os personagens principais.
O objetivo dos figurinos e cenários é trazer o espetáculo para perto do nosso tempo. ;Os textos dessas óperas fazem parte de uma corrente chamada verismo. São textos que podem e devem ser adaptados. Uma história de amor acontece em qualquer lugar do mundo. Nós entendemos esse drama;, conta o cenógrafo Raul Belém. As óperas serão encenadas em uma cidade imaginária do interior de Goiás, de influência italiana. ;A cenografia funciona como suporte dramático;, explica Raul. ;Cria-se um estado de espírito no palco para a consequente resposta do espectador;, continua. Cercas de bambu, casas construídas de pau roliço e elementos regionais ajudam a compor o cenário.
Janette Dornellas lembra que a última ópera realizada em Brasília foi Don Giovani, em 2007, com regência do maestro Silvio Barbato, grande incentivador da ópera em Brasília e a quem o festival presta homenagem. ;Para muita gente, esta será a primeira oportunidade de assistir a uma ópera. Para outros tantos, de cantar no coro de uma ópera. E essa interação entre novatos e veteranos é fundamental para que Brasília passe a ter profissionais da ópera. Digo para os meus alunos de canto que o palco é o melhor professor. É ali que se aprende;, afirma a soprano.
;Com o festival, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional sai do seu produto único, que eram só os concertos semanais, às terças;, comemora Cláudio Cohen. ;Além do evento, teremos, em breve, concertos educacionais, para crianças, e concertos sociais, em regiões carentes;, adianta.
1; FESTIVAL DE ÓPERA DE BRASÍLIA
De hoje a 28 de junho, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Hoje, às 21h, Réquiem, de Mozart. Dias 17 e 18 de junho, às 20h: Pagliacci. Dias 23 e 24 de junho, às 20h: Cavalleria Rusticana. Dia 28 de junho: Concerto de encerramento. Entrada franca. Classificação indicativa livre. Informações: 3325-6239 e 3325-6256.
Árias e duetos das óperas.
; A flauta mágica
; Cosi fan tutte
; Don Giovanni
; Idomeneo
Solistas
Rafael Ribeiro, tenor
Gabriela Correia, soprano
Renata Dourado, soprano
Janette Dornellas, soprano
Tobias Hagge, baixo-barítono
Marlon Maia, barítono
Patricia Mello D;oreste, soprano
Aida Kellen, soprano
Réquiem
Solistas
Livia Bergo, soprano
Valdenora Pereira, contralto
Francisco Bento, tenor
Thoroh de Souza, baixo