Aos fãs que acompanham a veia cômica do ator Cláudio Falcão, criador de personagens como Mary, Gorete e Berenice, a notícia pode soar surpreendente: ele estreia hoje a peça Amoras, definida como um ensaio poético, que permite ao ator exercitar outras facetas de interpretação. A montagem, que fica em cartaz de sexta a domingo, na Sala Multimídia do Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul), não é a primeira a desviar das risadas. ;Quem me vê fazendo minhas personagens acha que sempre fiz isso. Mas atuei em textos de Nelson Rodrigues, já trabalhei com Alexandre Ribondi e os irmãos Guimarães. No entanto, depois que comecei a fazer esse humor, ninguém mais me chama pra trabalhar. Senti necessidade de exercitar essa outra vertente;, conta.
Para dar vazão ao seu lado mais dramático e denso, ele escolheu o texto escrito pela prima, Vera Sá, autora que publicou livros na década de 1980. Amoras é de 1980 e Falcão já o conhecia, mas o impacto da narrativa só o atingiu há três anos. ;Fui visitar essa prima, que hoje mora na Chapada dos Veadeiros e, mexendo nas coisas dela, encontrei o texto. Já estava procurando algo diferente e vi que tinha a ver com meu momento;, avalia ele. A autora chegou a resistir à ideia num primeiro momento, por achar que não havia teatralidade em sua obra.
O mérito do texto, acredita ele, é estar mais focado no sentir do que no entender. ;Ele fala da liberdade de ser várias coisas em uma só. Assim como a amora, que tem vários gominhos que compõem o todo, o ser humano tem essa capacidade de ter vários vetores que apontam para lugares diferentes;, revela. O trabalho foi adaptado na íntegra, sem qualquer interferência textual, e dirigido pela mãe do ator, a atriz Ruth Guimarães.
A opção foi por uma montagem simples, em que Falcão interage apenas com uma cadeira de escritório com rodinhas. Passa a maior parte do tempo sentado, mas seu corpo executa uma movimentação sutil. ;Tenho vivência em dança, já dancei com a Lenora Lobo (Alaya). Mas não há coreografia, procurei fazer com que o corpo fosse com o texto;, afirma. A trilha sonora é intercalada por criações de Fr;d;ric Chopin.
O momento é de apostar no drama, mas há mais humor previsto na agenda do ator para este ano. Em julho, ele volta à cena com Pérolas de Berenice. No segundo semestre, ele pretende estrear peça nova, com seu trio de personagens femininas. ;Pretendo fazer a Mary viajar, mas ainda não decidi os detalhes;, avisa. E sua prima Vera Sá deverá voltar à cena. Entre os projetos do autor, está montar outra criação dela, o livro S.O.S. Brasil, lançado na década de 1980. ;Ainda não li, mas ela me disse que é superteatral;, diz ele.
AMORAS
Texto de Vera Sá. Direção de Ruth Guimarães. Com Cláudio Falcão. De hoje a sábado, às 21h; domingo, às 20h, na Sala Multimídia do Espaço Cultural Renato Russo (508 sul - 3443-6039). Ingressos: R$ 30 e 15 (meia). Doadores de uma caixa de leite pagam meia. Não recomendado para menores de 14 anos. Até 12 de junho.