Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Sertão e Brasília estão misturados numa sinfonia brincante de Zé do Pife

Três anos e meio depois de se conhecerem numa oficina de pífanos, no Departamento de Extensão da Universidade de Brasília (UnB), Zé do Pife e as Juvelinas celebram a amizade e a parceria musical num CD em que o mestre e suas discípulas exibem total afinidade artística. O álbum deve ser visto como um valioso documento, por conter o registro de um tipo de manifestação cultural, que passa distante do interesse da chamada indústria fonográfica.

Mestre Zé do Pife e As Juvelinas ; De Brasília a São José do Egito é o nome do álbum, que será lançado hoje, com show às 19h30, na Casa do Cantador, em Ceilândia, com entrada franca. Ao fim da apresentação será passado o chapéu, para que os espectadores possam depositar algum tipo de contribuição. No dia 19, haverá nova apresentação, no Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul.

O disco, gravado no estúdio Beco da Coruja, na região do Colorado, com produção musical, mixagem e masterização de André Togni, traz 16 faixas, sendo 15 de autoria de Zé do Pife, e uma, em homenagem ao mestre, assinada em conjunto pelas Juvelinas.

Valsa, baião, xote, coco, marchinhas e aboio são estilos musicais ouvidos no CD, aberto pelo tema instrumental Picote no morro. Chapéu de couro, Cajá Santana, Não vai Terezinha, Repenicado e Paradinha dão nome a outras faixas. Aboio do vaqueiro fecha o repertório. Teu olhar me faz chorar, permite a Zé do Pife fazer reminicências ; lembranças de São José do Egito (PE) ; e referências a Brasília. Num dos versos, ele diz: ;É bonito ver, é bonito olhar/ A Praça da Alvorada muita gente a namorar/ É bonito ver, é bonito olhar/ Eu já vi as Juvelinas fazendo o povo chorar/As meninas Juvelinas que aprenderam a tocar.

Entrosamento
Antes de chegarem ao disco, eles adquiriram o necessário entrosamento, ao fazerem incontáveis apresentações em diferentes palcos da cidade e mesmo fora dos limites do Distrito Federal. ;É um orgulho muito grande para um músico autodidata, como eu, que aprendeu a tocar pífano ouvindo velhos mestres nordestinos, dividir esse trabalho com as Juvelinas, meninas de formação acadêmica e que abraçaram minha causa aqui na capital;, afirma, emocionado, seu Francisco Gonçalo da Silva, que virou Zé do Pife ao longo da labuta como instrumentista, compositor e luthier.

Nascido em São José do Egito, no interior de Pernambuco, tido como a ;capital mundial do repente;, Zé do Pife cresceu ouvindo Luiz Gonzaga, Abdias do Acordeon, Zé Calixto, Marinês e o Trio Nordestino. Na adolescência, já integrava a Banda de Pife do Riacho do Meio, criada pelo avô. Em 1973, mudou-se para São Paulo e lá passou a ganhar a vida vendendo pífanos que confeccionava e tocando em locais como a Praça da República, a Praça Ramos de Azevedo, e na Estação da Luz. ;Me apresentei, também, na televisão, nos programas do Silvio Santos, do Raul Gil, do Barros de Alencar e do Chacrinha;, lembra.

Em 1993 veio para Brasília e instalou-se em Ceilândia. Embora inicialmente tenha trabalhado como ajudante de eletricista numa grande empresa e tocado em alguns forrós, foi como tocador de pífano e artesão que tornou-se conhecido na capital. ;Eu fazia pífanos de bambu e saia vendendo nas quadras do Plano Piloto, na Escola de Música, no Uniceub e na UnB.;

Convidado para ministrar oficinas no Departamento de Extensão da universidade, conheceu, entre suas alunas, as futuras integrantes de As Juvelinas. ;Foi seu Zé quem deu nome ao grupo que formaríamos logo depois. Ele ia fazer uma apresentação no foyer da Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional e nos convidou para tocar com ele. A partir dali passamos a trabalhar com o mestre;, conta, reverente, Valéria Lehmann, bacharela em composição e com licenciatura em música, pelo Departamento de Música da UnB.

Nas Juvelinas, Valéria, coordenadora do projeto, toca rabeca e pífano; e tem como companheiras, Júlia Carvalho (zabumba e caixa do Divino), Luciana Bergamaschi (triângulo), Gutcha Ramil (violino), Isa Flor (zabumba e prato), Andressa Ferreira (caixa e pandeiro), Kika Brandão (pífano), Maísa Amorim (pífano) e Naira Carneiro (pífano e sanfona). Todas também cantam. ;Nossa convivência com seu Zé é a melhor possível. Além de mestre do pife, ele é poeta, contador de história e luthier. Muito humilde e íntegro, além de nos transmitir muito conhecimento, nos passa uma energia boa e alegria de viver;, elogia a rabequeira.

Ouça a música Teu olhar me faz chorar