Maíra de Deus Brito
Criado na década de 1970, no bairro carioca de Ramos, o grupo Fundo de Quintal é referência quando se fala de samba. Foi embaixo da tamarineira na Rua Uranuos que o repique de mão, o tanm-tam-tam e o banjo (o último, originário da música country) surgiram como instrumentos do gênero imortalizado por Cartola e Carlos Cachaça. As inovações trazidas por Ubirany, Sereno e Almir Guineto marcaram época e até hoje são vistas nas rodas de samba pelo Brasil. Depois de cinco anos sem gravar um trabalho com músicas inéditas, da saída do vocalista Mário Sérgio e da troca de gravadora, o sexteto retorna com o CD Nossa verdade para mostrar que, mesmo depois de tantas mudanças, continua com a poesia e com o talento que encantou Beth Carvalho há 33 anos.
Descobridora e madrinha do grupo, Beth faz uma participação especial no álbum. ;Beth é toda Fundo de Quintal, toda Cacique de Ramos. No momento em que o Cacique fez 50 anos, ninguém melhor do que ela para cantar ;Sou Cacique de Ramos/ Cinquenta anos de história/ Sou patrimônio cultural/ Alegria do carnaval; em Cacique, a consagração;, conta Ubirany que, ao lado de Bira Presidente e Sereno, criou o Fundo de Quintal.
Com arranjos dos maestros Rildo Hora e Paulão Sete Cordas, Nossa verdade traz um repertório amplo com novidades e regravações que passeiam por todas as formas do samba. ;Dá para perceber que, nesse trabalho, nós voltamos à fórmula antiga, com sambas de partido alto (Nossa bossa), samba de roda (Teu jogo) e com o samba romântico (Amor proibido e Passou da hora). Todo disco da antiga tinha homenagem a algum mestre. Resgatamos isso também e nesse gravamos Luz da alvorada ,de Dona Ivone Lara (com Paulinho Carvalho e Delcio Carvalho);, explica.
Passado e presente
Outras homenagens (mais informais) completam as faixas do CD produzido pela Biscoito Fino. O poder de curar, de Arlindo Cruz e Sombrinha (com André Rocha), e Fera no cio, de Cleber Augusto (com Jorginho Chinna, Djalma Falcão e Bicudo), relembram os artistas que fizeram parte do time dos músicos de Ramos. ;Apesar de não serem canções de Almir Guineto, Conselho e Insensato destino ficaram marcadas no repertório dele. Quando a gente canta nos shows, todo mundo acompanha. Por isso, elas também estão no CD. Homenagear esse grande parceiro sempre é bom;, diz.
Há dois anos no Fundo de Quintal, Flavinho Silva marca presença nos vocais, nas letras de Coisa da raça, Lá debaixo da tamarineira e Fé em Deus e arranca elogios dos mais experientes. ;É o primeiro trabalho inédito com ele, que se mostrou muito eficiente e competente. Cantou com propriedade. Sem dúvida, a chegada dele veio para somar. Estava na hora de colocar uma pessoa nova. Sai um, entra outro, mas o grupo continua com a mesma propriedade;, comenta Ubirany sobre as idas e vindas dos integrantes que, por sinal, foram registrados em várias fotos na contracapa do CD.
Ouça Cacique, a consagração, com o grupo Fundo de Quintal e a cantora Bet Carvalho