Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Bernardo Vilhena comanda o projeto Live P A., no CCBB

Bernardo Vilhena lembra que, ainda nos anos 1980, escreveu um artigo sobre o conflito de gerações quando o assunto é música: ;Nos anos 1980, todo mundo dizia que os artistas dos anos 1960 eram melhores. Nos anos 1950, que os da década de 1940 eram melhores. Lembro de mostrar o Chico Buarque para o meu pai e ele dizer ;mas o Noel é o Noel;;. Para Vilhena, música boa é música boa, independentemente de quando foi feita. ;O meu lema agora é assistir aos espetáculos das novas gerações, é o que mais me fascina;, afirma.

Poeta e letrista carioca, autor de alguns dos mais conhecidos hits do pop/rock brasileiro dos anos 1980, Vilhena, 62 anos, é o curador do projeto Live P A., que desde o começo do mês ocupa, às sextas e aos sábados, a área externa do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Trecho 2). A proposta do evento é promover o encontro entre artistas em um formato diferente. No caso, os convidados são acompanhados por computadores ; que são usados para criar diversas possibilidades sonoras.

Já passaram pelo Live P.A. Nina Becker e Moreno Veloso (que estrearam o projeto, em 6 de maio), Thalma de Freitas e Gabriel Moura, Pedro Sá e Jonas Sá, Wladimir Gasper e Cibelle, Dado Villa-Lobos e Renato Martins (vocalista da banda Canastra) e Kassin e Claudio Zoli. Hoje, China e Silvia Machete se encontram e, amanhã, Domenico e Felipe S. (vocalista do Mombojó). As apresentações são gratuitas.

O curador comenta que o encontro é um dos formatos mais clássicos. ;A música sempre estimulou o encontro. Grandes músicas são parecerias;, continua. Com exceção de Zoli e Dado Villa-Lobos, todos os outros artistas são mais ou menos novos, na ativa desde meados da década de 1990 mas, principalmente, desde o começo dos anos 2000.

A questão geracional foi justamente um dos critérios de seleção usados por Bernardo Vilhena para escolher os participantes do projeto. ;Eles fazem parte de uma geração que tem uma relação bem mais próxima com os computadores, tanto para se comunicar quanto para fazer música;, argumenta. Com o formato, Vilhena busca transferir o foco do assunto música na era digital. ;Sair da questão da comercialização ; que envolve gente que nem é do meio musical ; para a produção dos artistas nesses novos tempos, que tem acontecido de forma intensa e internacional;, acrescenta.

Três perguntas // Bernardo Vilhena
Faz-se pop rock em bom português há décadas. Mas algumas pessoas só valorizam esse segmento quando ele pratica o hibridismo, quando há alguma mistura com algo mais brasileiro. O que acha disso?
Isso é uma das coisas mais ridículas que existem na cultura brasileira. Você vai à Argentina, que tem uma cultura monstruosa, e os músicos de rock são tão respeitados quanto os de tango. A cultura brasileira não tem dono. A fronteira é um espaço limítrofe, o território sempre vai ser invadido. A cultura que não se deixa invadir não se renova, é uma cultura que não dialoga com seus pares. E isso não me interessa.

Quais dos seus hits mais lhe orgulham?

Menina veneno, com Ricthie, Vida bandida, com o Lobão; e Vida louca vida, com o Cazuza.

E qual música sua você achou que poderia ter sido um hit e não foi?
Tem um monte (risos). Acho que a Flor do futuro, do Cláudio Zoli.