Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Séries americanas renovam a ficção policial e viram febre mundial

Nas investigações policiais, resolver um crime, às vezes, é apenas uma questão de método: aplica-se uma velha cartilha (que prevê interrogatórios, apreensões, estratégias mil) para que a ordem vença a bandidagem. Nas séries de tevê, também acontece mais ou menos assim ; a solução de casos escabrosos pode soar como rotina aos olhos do espectador, um trabalho repetido diariamente em episódios que se assemelham uns aos outros. Os estúdios americanos, é bem verdade, ainda aplicam fórmulas rigorosas para narrar o eterno jogo entre polícia e bandido. Mas, no boletim de ocorrências da telinha, há como encontrar notícias surpreendentes, inusitadas, que driblam os esquemas previsíveis e renovam um gênero manchado de clichês.

Na grade brasileira de tevê por assinatura, a cota de enlatados policiais é alta ; cada canal de série se garante com pelo menos uma opção do gênero. Penoso é mergulhar sob os genéricos de sucessos como C.S.I., Law and order e NCIS para descobrir novidades de alta potência, programadas para despertar a curiosidade de um público já saturado pelos procedimentos dos homens fardados. Hoje em dia, como acontece em outros ramos da ficção televisiva, a fuga do ;mais do mesmo; se dá na internet, que antecipa os lançamentos mais aguardados e transforma produções obscuras em objeto de culto instantâneo. Nesta página, o Correio seleciona 10 boas opções em cartaz nos canais brasileiros e americanos.

Para os fãs de folhetins de porta de cadeia, 2011 promete reparos providenciais na estrutura do gênero. A começar por uma das atrações mais elogiadas da temporada, a americana The killing, exibida no canal AMC (casa de Mad men e The walking dead). Ainda sem previsão de lançamento no Brasil, mas já atingindo índices barulhentos de falatório na web, o seriado conquista os críticos graças a um visual sombrio, de ritmo lento e foco intimista, que remete aos climas de Twin Peaks, um clássico do gênero. A simplicidade da premissa conta a favor desta adaptação de um thriller da tevê dinamarquesa: enquanto uma equipe investiga o assassinato de uma menina em Seattle, Washington, os roteiros atiram para os lados menos previsíveis, acertando em cheio na composição de dramas familiares. A estreia, no início de abril, atraiu 2,7 milhões de espectadores.

Drama social
Investir em tramas densas, cheias de mistérios e entroncamentos, é uma lição que The killing tomou de séries realistas que se tornaram influência para uma nova geração de roteiristas. A principal, The wire, durou cinco temporadas, de 2002 a 2008, e definiu um padrão: no caso, o trabalho da polícia é observado por um viés sociológico, e reflete o comportamento da comunidade de Baltimore, em Maryland. ;É uma série sobre as cidades americanas, sobre como nós convivemos;, explicou um dos criadores, o ex-jornalista David Simon. O olhar amplo para um gênero, às vezes, tão limitado inspirou uma onda de séries semelhantes que analisam com seriedade temas como corrupção e tráfico de drogas. Hoje, até as atrações mais convencionais (como a recente The Chicago code) notam os vícios sociais através das janelas das viaturas.

O gênero, no entanto, não se limita a esse parentesco com a reportagem e com o documentário. Há fôlego para a comédia (The good guys e Castle, por exemplo) e para experiências polêmicas como a popular Dexter (que entorta os padrões envelhecidos ao adotar o ponto de vista de um psicopata) e a inclassificável Justified, que combina elementos de cinema noir, faroeste e thriller. E, como nem tudo é risco, também para atrações que tentam reprisar o apelo de fenômenos como Nova York contra o crime e Miami vice, que definiram marcas já familiares ao público. Densas ou superficiais, as tramas confirmam a exigência do público por uma nova carga de munição na dramaturgia: polícia, ladrão e, de preferência, algo mais.