Lady Gaga é a figura mais exagerada do mundo pop. E ela conseguiu transformar essa característica em sua melhor qualidade. Não é à toa que o álbum Born this way, lançado anteontem, segue à risca toda a afetação da cantora. Tudo que envolve o novo trabalho da artista é cercado por um excesso de expectativa, de mixagem, de design e de engajamento. Essa tradicional receita de fracasso, no entanto, dá forma a um CD que chega pronto para ocupar o topo das paradas e disputar o título de melhor do ano. Em 2012, os fãs brasileiros poderão ver isso tudo ao vivo. A cantora anunciou pelo Twitter que a turnê virá ao país.
A estética do excesso marcante do álbum é algo pensado, arquitetado pela cantora. O repertório traz o DNA musical de Gaga: uma mistura das principais referências da cantora. Madonna, pop, rock dos anos 1980 e batidas eletrônicas contemporâneas. O exagero de temáticas também faz parte de Born this way. Gaga fala sobre tudo: sexualidade, religião, política, carros e dos próprios cabelos. Ela também aproveita para cantar em francês, alemão e espanhol.
A faixa que melhor sintetiza o exagero é Born this way. O single, divulgado em março, é o carro- chefe do álbum e causa frisson com uma letra sobre a sexualidade. Elton John declarou que a canção é o novo hino dos gays. Porém críticos e alguns fãs a acusam de copiar Express Yourself, da Madonna. Acima da polêmica, a música já é um hit e um dos trabalhos mais elaborados de Gaga.
Mas como a cantora gosta de exagerar, ela provoca ainda mais ao tocar em dois temas espinhosos: religião e imigração ilegal. Judas e Americano são as músicas mais polêmicas do álbum. A primeira é sobre uma mulher envolvida com um Jesus motoqueiro, mas apaixonada por outro, o Judas. Do ponto de vista musical, a faixa agrada pela presença de efeitos digitais de distorção na voz de Gaga e de uma batida futurista. O resultado é um som de aspecto selvagem e dançante.
Americano é sobre a imigração ilegal nos Estados Unidos e tem uma parte cantada em espanhol. A letra é provocativa, com trechos como: Meu coração dói por minha geração/ Eu não falo sua língua. A faixa tem elementos tradicionais dos ritmos latinos, com direito a mariachis mexicanos.
Government Hooker é outro destaque. Construída sobre algumas referências importantes do mundo eletrônico, a música mistura funk, disco, distorções à la Kraftwerk. A canção fala sobre uma prostituta que convive no ambiente político e lida com algumas personalidades famosas.
SheiBe é um dos projetos mais audaciosos do álbum, pois Gaga canta em alemão. A cantora não propõe um som fácil, a canção é construída sobre distorções e batidas poluídas, com efeitos sonoros próximos ao house tribal. O refrão a música entra de cabeça no clima de ;bate cabelo;, gerando um som com características de sucesso nas pistas de dança.
The edge of glory tem a participação do saxofonista Clarence Clemons, da E Street Band, que acompanha Bruce Springsteen. ;É muito interessante porque ele traz o saxofone para esse álbum essencialmente eletrônico;, disse Gaga à Rolling Stone.
O álbum inclui uma canção sobre o cabelo da cantora. Hair é uma música sobre uma menina que busca aceitação dos pais. A letra é simples, mas cantada com um ar de balada adolescente do anos 1990, fica interessante.
Born this way impressiona pela qualidade das 18 faixas que compõem a versão especial ; a mais simples conta com 14. Todas as músicas são boas. Mais uma vez vemos o excesso: Gaga exagerou na qualidade. No fim, parece que, quanto mais afetado, mais honesto e melhor é o trabalho da cantora.