Impossível falar de música francesa sem falar de Serge Gainsbourg (1928-1991). Ainda hoje, 20 anos após a morte do cantor, o nome dele continua como um dos mais relevantes na cultura daquele país. Afinal de contas, boa parte da produção de Gainsbourg (que vai da chanson ao synth pop, passando por rock, jazz, reggae e tantos outros ritmos) continua atual, inconfundível e inimitável. Não à toa, o parisiense é mencionado como influência por incontáveis artistas do universo pop internacional. A biografia do ídolo virou o filme Gainsbourg ; O homem que amava as mulheres, dirigido por Joann Sfar.
No Brasil, Gainsbourg (a pronuncia é ;gans-bur;) pode até não ser tão popular. Mas ao menos uma de suas canções alcançou grande repercussão por aqui. Lançada em 1969, Je t;aime (moi non plus), com seus sons de orgasmo feminino, permanece como a mais erótica das canções. O sucesso em terras tupiniquins desencadeou o lançamento de uma série de LPs só com esse tipo de música ;para ouvir a dois;. Hoje, às 20h, na Caixa Cultural, o guitarrista Edgar Scandurra faz tributo ao cantor.
Assim como aconteceu em outros países em anos recentes, no Brasil, Gainsbourg passou a ser descoberto pelas novas gerações. Em 2009, ano da França no Brasil, a Orquestra Imperial apresentou o show Gainsbourg Imperial, no qual contaram com a participação do maestro Jean-Claude Vannier (um dos parceiros musicais do cantor francês), Caetano Veloso e Jane Birkin, cantora, atriz e ex-mulher do homenageado.
Outro exemplo é a banda-tributo Les Provocateurs, criada pelo guitarrista Edgard Scandurra. O grupo, na ativa desde 2008, interpreta um repertório formado por clássicos de Gainsbourg como Bonnie and Clyde, 69 anée erotic, Poupée de cire poupée de son e, claro, Je t;aime (moi non plus). ;As músicas são lindas, o trabalho dele é incrível. Adoro tocar as composições do Gainsbourg.
Mas acho que a importância desse projeto é poder apresentar para quem gosta de música esse personagem cuja obra é riquíssima, com música, composição, letra, provocação, comportamento; fico muito feliz de poder apresentar isso para a galera;, comenta Scandurra.
Serge, o provocador
Nascido Lucien Ginsburg, filho de judeus russos, Serge Gainsbourg foi um homem de múltiplas habilidades: artista plástico, músico, ator e cineasta. Em diversos momentos, o talento para a música e a provocação andaram de mãos dadas. Várias de suas letras tinham duplo sentido e escandalizaram a sociedade francesa quando foram lançadas. No fim dos anos 1970, o cantor foi à Jamaica gravar um disco. A versão para a Marselhesa, o hino francês, com alterações nas letras e em ritmo de reggae, enfureceu alas mais conservadoras da França. Composição dele interpretada, em 1965, por uma France Gall ainda adolescente, Les sucettes (os pirulitos) fazia alusão ao sexo oral. Em 1984, o cantor gravou a música Lemon incest, um dueto com a filha Charlotte (hoje uma bem-sucedida atriz e cantora), na época com 12 anos. Em 1967, ele teve um notório affair com Brigitte Bardot (quando ela ainda era casada).
Aliás, mulheres não faltaram na vida de Gainsbourg. Mesmo com uma beleza pouco convencional, o charme era irresistível com o sexo posto. Ele foi casado quatro vezes ; a mais duradoura das relações foi com a atriz e cantora inglesa Jane Birkin ; e teve quatro filhos.
No fim da carreira, a provocação virou uma constante na vida de Serge Gainsbourg ; em alguns casos, beirando o patético. Ele chegou a queimar uma nota de 500 francos em um programa de tevê, como protesto aos altos impostos. Em muitas de suas aparições públicas, Gainsbourg estava visivelmente embriagado. Os anos de excesso cobraram sua dívida. Em 1988, ele passou por um transplante de fígado. Em 2 de março de 1991, um ataque cardíaco matou, aos 62 anos, o homem que entraria para a eternidade como o maior ícone pop francês.