O maestro Levino de Alcântara deixou Brasília há 25 anos. Trocou a capital por Conceição do Araguaia, no Pará. Durante esse tempo, voltou à cidade ;duas ou três vezes;. Pouco, quando se tem em mente que o maestro fundou a Escola de Música de Brasília (EMB) em 1963 e dirigiu a instituição até 1985. Levino prefere não desfilar os motivos do afastamento, embora confirme que decepções quanto aos rumos tomados pela escola sejam responsáveis pelo fato. Mas hoje as desavenças ficam guardadas no baú e a música sobe ao palco em sessão de homenagens organizada pela direção da EMB.
O programa começa com uma palestra para as crianças e uma surpresa para o maestro. Alunos da escola reproduzem os canteiros musicais idealizados por Levino nos anos 1960. Quando dirigia a escola, ele gostava de receber convidados com grupos musicais espalhados por todos os cantos da instituição, da porta de entrada à porta do teatro. ;Fiz isso umas três vezes para mostrar as possibilidades do que se podia fazer com qualidade em uma escola de segundo grau;, conta. ;Havia uma filosofia que consegui manter de que a escola não era só para formar instrumentistas, a música era para a sociedade, para a vida. A formação tinha que levar em conta a personalidade, o indivíduo.; Oito grupos participam da homenagem, inclusive o Madrigal de Brasília, fundado pelo próprio Levino em 1963.
Amanhã é a vez do maestro subir ao palco para um concerto histórico. Os ensaios para a homenagem começaram a lotar o teatro da escola na segunda-feira e a cena deve se repetir amanhã à noite com um concerto que reúne os instrumentistas mais importantes de Brasília. Cerca de 300 músicos sobem ao palco do teatro para tocar e cantar um repertório carregado de significados. ;Essa homenagem está sendo pensada desde o início do ano. O maestro foi o fundador da escola e fez 89 anos em abril;, lembra Isabela Sekef. ;Organizamos coisas que foram importantes para a escola. O maestro tinha uma visão focada na formação orquestral e na música clássica.;
O repertório terá alguns momentos especiais. Levino vai reger o Magnificat aleluia, de Heitor Villa-Lobos, com quem trabalhou antes de vir para Brasília. Um coro formado por 200 vozes e 50 crianças acompanha o maestro, que também vai reger o Concerto para violino n; 1 , de Mozart, com a solista Ludmila Vinecka.;Ele é muito carismático, tem um amor grande pela música e trabalha envolvendo sempre muitas pessoas;, conta Ludmila, que era professora da EMB quando Levino ocupava a direção. A violinista foi regida pelo maestro diversas vezes entre 1976 e 1985, mas nunca tocou o concerto de Mozart sob a batuta do colega. A pianista Alda Matos também participa da apresentação e toca o primeiro movimento do Concerto para piano n; 1 acompanhada pela orquestra, que conta com músicos da sinfônica do Teatro Nacional e da Filarmônica de Brasília, além de professores e alunos da EMB.
Na plateia estarão 11 crianças trazidas pelo maestro de Conceição do Araguaia. São alunos da escola fundada por Levino no Pará, uma espécie de filhote do projeto que gerou a instituição brasiliense. ;Ele é um visionário. Onde vai, faz música;, garante Isabela, que chegou a ser regida pelo maestro na infância, durante uma apresentação de canto orfeônico com 6 mil crianças no Ginásio Nilson Nelson.
Como nasceu a Escola de Música de Brasília
Palestra com o maestro Levino de Alcântara. Hoje, às 15h30, no Teatro da Escola de Música de Brasília (SGA 602). Entrada franca.
Homenagem ao Maestro Levino de Alcântara
Concerto com regência do maestro Levino de Alcântara. Amanhã, às 20h, no Teatro da Escola de Música de Brasília (SGAS 602). Entrada franca. Classificação indicativa livre