Quem assiste ao show de Wilson das Neves acha engraçado quando ele solta o bordão: "ô, sorte" Curiosamente, não é algo que tenha sido criado por ele. "Ouvi essa expressão do sambista Roberto Ribeiro. Gostei e passei a usá-la, sempre em tom de agradecimento, por tudo que tenho recebido de Deus e dos meus orixás", revela. Compositor, cantor e baterista, Das Neves conta em que circunstância isso ocorreu. "Conheci Roberto Ribeiro em gravações de estúdio. Na época, ele fazia couro, ainda não havia se transformado em um importante sambista, embora já fosse cantor de samba-enredo da Império Serrano. Eu também era integrante da escola de Madureira, mas pouco a frequentava. Certa vez, ao ir até a quadra, encontrei-me com o Roberto, que ficou feliz em me ver e disse: Ô, sorte"
Sorte tem o brasiliense que poderá assistir hoje e amanhã, às 22h, no Feitiço Mineiro, ao show desse artista carioca, referência de músicos de diversas gerações - em especial de bateristas. Das Neves chega à capital com a turnê do Pra gente fazer mais um samba, CD lançado em julho de 2010 pelo selo MP, B e distribuído pela Universal Music.
Acompanhado por grupo formado por músicos brasiliense e liderado pelo violonista e cavaquinista Evandro Barcellos, Das Neves vai cantar, no Feitiço, músicas do Pra gente fazer mais um samba e de outros dois CDs: Brasão de Orfeu, que saiu em 2002 pela Biscoito Fino; e O som sagrado de Wilson das Neves, de 1997, que no ano seguinte conquistou o Prêmio Sharp de Música.
Ouça a música Pra gente fazer mais um samba
"Em meus shows, tenho que cantar minhas músicas até porque as pessoas não conhecem a maioria delas. Preciso divulgá-las. Mas entre essas há aquelas que, felizmente, caíram no gosto do público como O samba é meu dom, Tentação e O dia em que o morro desceu e não foi carnaval, parcerias minhas com Paulo César Pinheiro. Há também Grande hotel, que fiz com Chico Buarque", antecipa. Do repertório, farão parte ainda sambas clássicos como Coração leviano (Paulinho da Viola), Acreditar e Sonho meu (Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara).
O baterista de 74 anos iniciou a carreira na adolescência, pelas mãos do percussionista Edgar Nunes Rocca, que o levou a tocar na Escola Flor do Ritmo, no subúrbio do Méier. Aos 21 anos, estreou como baterista na Orquestra de Permínio Gonçalves. "A partir dali, integrando diferentes grupos, toquei em todos o lugares possíveis e imagináveis, de cabarés na Lapa ao Theatro Municipal, passando pelas orquestras da Rádio Nacional e da TV Globo", recorda-se.
Das Neves acompanhou - no palco e eu estúdio - meia MPB: de Ciro Monteiro a Caetano Veloso, de Orlandivo a Roberto Carlos, de Elis Regina a Beth Carvalho. "Só posso dizer que a sorte sempre esteve ao meu lado, quando lembro que já toquei com intérpretes como Jamelão, Ney Matogrosso, Elza Soares e Elizeth Cardoso. É ou não sorte fazer parte da banda de Chico Buarque há quase 30 anos?", comemora o baterista, com a modéstia que o caracteriza.
Aliás, recentemente, Das Neves juntou sua voz à de Chico Buarque na música Sou eu, na gravação de uma das faixas do novo CD do cantor e compositor. A música, parceria de Chico com Ivan Lins, foi feita para Diogo Nogueira e da nome ao DVD do sambista, lançado no fim do ano passado. Agora, fará parte do aguardado álbum buarqueano, ainda sem data para chegar às lojas.