O centenário de Adoniran Barbosa, comemorado em 6 de agosto do ano passado, com a realização de vários eventos, principalmente em São Paulo, ainda rende homenagens. O amigo e parceiro Carlinhos Vergueiro está lançando Dá licença de contar, CD em que, com a participação de alguns convidados, relê clássicos da obra do compositor, criador do chamado ;samba paulista; ; com seu jeito italianado de ser.
;Comecei a gravar o disco depois que passei a ser requisitado para participar de programas de tevê, dar depoimentos para entrevistas e livros, participar de coletâneas. Senti que as pessoas me viam como uma pessoa próxima a Adoniran; e que pela longa amizade que mantivemos e por termos sido parceiros, devia esta homenagem a ele;, explica Carlinhos.
Apresentados por João Carlos Botezelli, o produtor Pelão, Adoniran e Carlinhos se conheceram em 1973. ;Eu tinha 20 anos na época e estava começando minha carreira artística. Era fã dele, e me encantei com seu jeito espontâneo, a presença de espírito e o humor peculiar que cultivava. Adoniran (pseudônimo de João Rubinato, como o artista foi batizado) era uma figura popularíssima em São Paulo e costumava me levar aos bares e botecos que frequentava;, lembra.
Não foi por acaso, portanto, que o primeiro samba composto pelos dois, em 1978, teve os frequentadores de um boteco chamado Mutamba, na Rua Major Quedinho, como testemunha. ;Naquele pé sujo fizemos Bife à milanesa, que depois virou Torresmo à milanesa, por sugestão do Adoniran. O samba, que transformou-se num grande sucesso, foi gravado inicialmente por Clementina de Jesus. Depois, gravaríamos juntos;, conta Carlinhos. Os dois são parceiros, também, em Minha nega, canção pouco conhecida do público.
Minha nega teve um único registro no LP Adoniran Barbosa ; Documento inédito, que saiu pelo selo Eldorado. Agora, é uma das faixas do Dá licença de contar, 16; título da discografia de Carlinhos Vergueiro, em 37 anos de carreira. Finalizado em dezembro último, o álbum tem a participação de Martinho da Vila em Saudosa maloca, faixa que abre o repertório; Chico Buarque em Bom dia tristeza (Adoniran Barbosa e Vinicius de Moraes); Dora Vergueiro (filha de Carlinhos), na citada Torresmo à milanesa; e o conjunto Galo Preto no célebre Trem das onze.
;Convidei o Galo Preto por dois motivos: o bandolinista Afonso Machado, líder do grupo carioca (responsável pelos arranjos), tem grande admiração pelo Adoniran; e o samba Trem das onze foi vencedor do concurso de músicas de carnaval do Rio de Janeiro, em 1965, ano em que a Cidade Maravilhosa comemorou o quarto centenário;, justifica. Carlinhos canta Um samba no Bexiga, Véspera de Natal, Samba do Arnesto, Apaga o fogo Mané, Aguenta mão João, As Mariposas, Tiro ao Álvaro.
Shows para lançar o Dá licença de contar já foram feitos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Carlinhos agora quer levá-lo para outras cidades. ;Brasília, que sempre me recebeu com carinho, é um dos lugares aonde quero ir. No show, além das músicas do disco, canto outros sambas clássicos do Adoniran, e conto algumas histórias que armazenei ao longo da nossa convivência de 10 anos;, adianta.