Em 2009, o selo fonográfico americano Merge Records completou duas décadas de atividade. Só o fato já seria motivo de sobra para comemoração. Afinal de contas, os últimos tempos viram a indústria do disco em crise. Mas em 20 anos, a empresa de Mac McCaughan e Laura Balance ; ele, vocalista e guitarrista; ela, baixista da banda Superchunk ; não apenas sobreviveu às intempéries do mercado, como cresceu em títulos no catálogo, prestígio e credibilidade. Isso tudo sem se associar a uma multinacional, mantendo seu perfil independente.
Em fevereiro, o selo conseguiu uma vitória inédita e surpreendente. The suburbs, terceiro disco da banda canadense Arcade Fire ; grupo que teve todos os seus trabalhos lançados nos Estados Unidos pela Merge ; levou o Grammy de álbum do ano, principal troféu da mais tradicional premiação de música no país.
;Nós sempre pensamos que a música deles e seus shows chamariam a atenção de muita gente. Mas seria ingenuidade prever que algum dia teríamos uma banda com três discos de ouro e um Grammy de disco do ano;, comentou Mac em entrevista ao Correio.
No ano passado, o músico lançou Majesty shredding, o nono álbum de estúdio do Superchunk, o primeiro desde Here;s to shutting up, de 2001. Para divulgar o disco ; que o selo carioca Lab 344 (do produtor Sérgio Martins) lançou recentemente em versão nacional ;, o quarteto de Chapel Hill, Carolina do Norte, está viajando o mundo. No Brasil, eles tocam em Mogi das Cruzes, em 14 de maio, e Sorocaba, dia 15, dentro da programação da Virada Cultural Paulista. Essa será a terceira passagem do Chunk pelo país.
Na entrevista a seguir, Mac McCaughan comenta a volta da banda, suas lembranças de Brasília e como a Merge sobreviveu 20 anos.
Entrevista // Mac McCaughan
Muito tempo se passou entre Here;s to sutting up e Majesty Shredding. Por quê?
Basicamente porque estávamos esgotados de fazer turnês, então tiramos umas férias da banda. Mas continuamos fazendo alguns shows por ano, o que sempre foi divertido. Fiz alguns álbuns e turnês da minha outra banda, Portastic, e Jim Wilbur (guitarrista do Superchunk) estava sempre comigo (assim como meu irmão Matthew, na bateria). Jon (Wurster, baterista do Chunk) excursionou com Bob Mould, AC Newman, Mountain Goats e outros. Eu e Laura estivemos ocupados com o funcionamento da Merge, é claro. E tive dois filhos, o que dá muito trabalho. Laura também teve um filho. Estávamos apenas vivendo nossas vidas, mas em determinado ponto, queríamos músicas novas para tocar, então combinamos de fazer um disco. Sabíamos que, uma vez que fizéssemos um disco, estaríamos em turnê de novo e tínhamos de estar preparados psicologicamente para isso. Levou um tempinho até conseguirmos.
Vocês já sabiam como queriam que o disco soasse antes de entrar em estúdio? Já tinham as ideias e os conceitos para ele?
A composição desse álbum foi um tanto experimental, como a de nossos dois primeiros discos, Superchunk (1990) e No pocky for kitty (1991). Eu escrevia as músicas e fazia demos delas. Depois, as tocava para o resto da banda, que então incrementava as músicas. Foi divertido escrever músicas assim quando eu sabia que elas seriam tocadas pelo Superchunk. Fez a composição ficar fácil. Eu queria fazer um disco que fosse divertido de tocar ao vivo e que os fãs que permaneceram conosco por nove anos sem disco também gostassem.
Como a Merge conseguiu sobreviver à crise da indústria fonográfica por tantos anos?
Acho que sobrevivemos, literalmente, por não pensarmos tanto em ;sobreviver; e apenas fazer o que estávamos fazendo: lançando discos, não gastando tanto dinheiro, sendo realistas e tentando ter certeza de que nossos discos chegavam às lojas da melhor maneira possível. Tem sempre um monte de sorte envolvida, mas muito trabalho na Merge, especialmente dos artistas.
Alguma dica para quem quer começar um selo?
Não comece! Vivemos um período complicado para ter um selo, especialmente para começar um. Meu principal conselho seria criar um selo por amor. Ele pode ser seu hobby para o resto da vida e você pode não ganhar um centavo. Se for tudo bem para você, então vá em frente.
Como vocês administram o selo enquanto estão em turnê?
É engraçado imaginar o tempo antes do celular, quando falávamos com os dois funcionários do escritório por ligações a cobrar e máquinas de fax. E lançávamos mais discos naquela época. Atualmente, temos 14 funcionários, e manter as coisas funcionando é mais fácil com e-mails. Mas estar em turnê tem suas regras. Mesmo que você possa responder e-mails no fim do dia, fazer shows e estar longe de casa carece de muito espaço no cérebro. No geral, confiamos em nossa equipe para manter as coisas funcionando suavemente. Eles sabem o que precisa ser feito.
O Superchunk já tocou em Brasília duas vezes (em 1998 e 2000). Tem lembranças da cidade?
Lembro que tocamos em um circo (o extinto Gran Circo Lar). Eu realmente gosto do arquiteto que desenhou Brasília, então foi legal ver os prédios ; ainda que a ideia de fazer uma cidade no meio do deserto seja muito louca. Tenho certeza de que comemos muito bem em Brasília, porque comemos bem em qualquer lugar aí! Estamos indo para o Brasil em maio, para um festival em São Paulo. Estou ansioso para isso.
Leia entrevista com Sérgio Martins (do selo carioca Lab 344):
Sérgio, você pegou uma fatia de mercado um tanto desacreditada pelas grandes gravadoras, a das bandas alternativas. Qual a sua avaliação dessa fatia de mercado e por que você resolveu investir nela?
Basicamente porque é um som que realmente gostamos de ouvir e porque é o que há de melhor em termos de música atualmente. Até o Grammy 2011 se rendeu aos "indies", ou seja, o cenário está mudando. Se aqui no Brasil ainda é nicho, lá fora bandas como Vampire Weekend, The National, The xx, Mumford & Sons e Arcade Fire estão começando a disputar espaço na mídia com artistas mais "populares", de igual para igual.
Tem valido a pena lançar esses discos no Brasil?
Muitos dos álbuns "alternativos" têm conseguido êxitos comerciais no exterior, como o Contra, do Vampire Weekend - que estreou em 1; lugar na Billboard, entrou em várias listas de melhores do ano, e já atingiu a marca de 500.000 cópias. Como não lançar um trabalho destes por aqui?! Sabemos que o trabalho é árduo, e de retorno financeiro a longo prazo, mas o selo iniciou suas atividades paralelo à crise das multinacionais, ou seja, médio/longo prazo pra gente é "default".
E qual dos discos neste perfil que a Lab lançou e mais vendeu? Quantas cópias?
Belle & Sebastian já está na terceira tiragem, e deve atingir umas 4 mil cópias vendidas. Contra, do VW, também está caminhando para a terceira tiragem, mas muitos títulos não saem do lote AA1000. É um trabalho delicado mesmo. A nossa sorte é que se um disco não vende bem por aqui, temos como lançá-lo na Argentina e no Chile, ou até mesmo no México, via nossos parceiros nestes territórios. Também há muita sincronização em tevê, e infelizmente a distribuição digital por aqui ainda é fraca, com muita burocracia.
Atualmente, quais são os selos que vocês licenciam no Brasil?
Todos os da Beggars (XL ,Rough Trade, 4AD, Third Man Records, Matador, Young Turks, etc..), Merge, Domino, Cooking Vinyl, Glassnote, entre outros.
Quais os próximos lançamentos da Lab?
The Kills, Anna Calvi, Dylan LeBlanc, Friendly Fires, Tune-Yards, e não podemos deixar de lado os clássicos (The Pretenders, Simply Red, Cyndi Lauper)
Leia a entrevista com Mac McCaughan na íntegra:
Aposto que vocês já responderam esta pergunta incontáveis vezes, mas aí vai: como conseguiram sobreviver a crise da indústria fonográfica por tantos anos?
Eu acho que sobrevivemos, literalmente, por não pensar tanto em ;sobreviver; e apenas fazer o que estávamos fazendo.. lançando discos, não gastando tanto dinheiro, sendo realistas sobre o que estávamos fazendo e tentando ter certeza de que nossos discos estavam chegando nas lojas da melhor maneira possível. Tem sempre um monte de sorte envolvida, mas muito trabalho duro daquele trabalhando na Merge, especialmente os artistas.
Vocês tinham experiência de negócios quando começaram a Merge?
Absolutamente nenhum!
Como vocês mantém o selo quando estão em turnê?
Costumava ser mais difícil. É engraçado imaginar o tempo antes do celular, quando falávamos com os dois funcionários no escritório por ligações a cobrar e máquinas de fax. Mas lançávamos mais discos naquela época. Atualmente, temos 14 funcionários e manter as coisas funcionando é mais fácil do que nunca com e-mails. Mas estar em turnê tem suas próprias regras. E mesmo que você possa responder e-mails no fim do dia, fazer shows e estar longe de casa carece de muito espaço no cérebro. No geral, confiamos em nossa equipe para manter as coisas funcionando suavemente. Eles sabem o que precisa ser feito.
Any tips for anyone wanting to start a records label?
um, don;t! it;s a tough time to have a record label, especially to be starting one. but if you must i guess my main advice would be, do it if you love it enough to be your hobby because it could be your hobby forever and never make a dime. if that;s still ok for you, then go for it.
Alguma dica para quem que começar um selo?
Não comece! Vivemos um período complicado para ter um selo, especialmente para começar um. Meu principal concelho seria criar um selo por amor. Ele pode ser seu hobby para o resto da vida e você pode não ganhar um centavo. Se for tudo bem para você, então vá em frente.
O Superchunk foi convidado para assinar com uma grande gravadora durante o boom do rock alternativo dos anos 1990?
Se aproximaram de nós ; tem algo a respeito em nosso livro Our noise ;, mas nunca o suficiente para alguém nos apresentar um contrato ou algo assim. Nós saímos para jantar ou algo assim, mas eu acho que eles sabiam que nós não estávamos tão interessados no final, especialmente quando voltamos para a Merge (depois do fim do contrato com a Matador).
O quão surpreso você ficou pela vitória do discos The Suburbs ter ganhado o Grammy de melhor álbum? Algum dia você pensou que o Arcade Fire seria tão grande?
Bem, nós sempre pensamos que a música deles e seus shows chamaria a atenção de muita gente, mas teríamos sido tolos de algum dia prever que teríamos uma banda com três discos de outro a esse ponto. É muito louco. Eu me surpreendi que eles ganharam o Grammy. Eu pensei que eles fossem ganhar a categoria de melhor álbum alternativo, porque eles têm grande currículo. Mas álbum do ano é o maior prêmio do Grammy e eu acho nós ficamos, inclusive a banda, muito surpresos que eles ganharam.
A Merge lançou vários clássicos. Quais os seus discos favoritos do selo?
Não posso dizer meus favoritos, seria como escolher o filho favorito! Nós todos amamos todos os discos que lançamos. É por isso que escolhemos lançá-los, em primeiro lugar. Mas posso dar uma lista de alguns discos que deveriam ter conseguido mais atenção do que receberam: Is a woman, do Lambchop; Golden days before they end, do Matt Suggs; God save The Clientele, do The Clientele; Frozen orange, de David Kilgour, e The illustrated garden, do Radar Bros.
Muito tempo se passou entre Here;s to sutting up e Majesty Shredding? Por que?
Basicamente porque estávamos esgotados de fazer turnês, então tiramos umas férias da banda. Tocamos alguns shows por ano, o que sempre foi divertido. Eu fiz alguns álbuns e turnês do Portastic e Jim Wilbur estava sempre comigo na banda (assim como meu irmão Matthew, na bateria). Jon excursionou com Bob Mould, AC Newman, Mountain Goats e outros. Eu e Laura tivemos nossas mãos ocupadas com o funcionamento da Merge, é claro. Eu também tive dois filhos! O que dá muito trabalho. Laura também teve um filho. Estávamos apenas vivendo nossas vidas, mas em determinado ponto queríamos músicas novas para tocar, então combinamos de fazer um novo disco. Eu acho que nós sabíamos que uma vez que fizéssemos um disco, nós estaríamos em turnê de novo e todos tínhamos que estar preparados psicologicamente para isso. Levou um tempinho até conseguirmos.
Vocês já sabiam como queriam que o disco soasse antes de entrar em estúdio? Já tinha as ideias e os conceitos para ele?
A composição deste álbum foi um tanto experimental, como a de nossos dois primeiros discos, Superchunk e No pocky for kitty, nos quais eu escrevia as músicas e fazia demos e depois as tocava para o resto da banda, que então incrementavam as músicas. Era divertido escrever músicas assim quando eu sabia que elas seria tocadas pelo Superchunk, fez a escrita muito fácil, na verdade. Eu queria fazer um disco que fosse divertido de tocar ao vivo e que os fãs que permaneceram conosco por nove anos sem disco também gostariam.
O Superchunk já tocou em Brasília duas vezes. Tem lembranças da cidade?
Lembro que tocamos em um circo (o extinto Gran Circo Lar). Brasília é uma cidade muito louca, mas eu realmente gosto do arquiteto que a desenhou muito dela, então foi legal ver os prédios ; ainda que a ideia de fazer uma cidade no meio do deserto seja muito louca. Eu tenho certeza que comemos muito bem no Brasil, porque comemos bem em qualquer lugar aí! Estamos indo para o Brasil em maio, para um festival em São Paulo. Realmente ansiosos para isso.
Mac, em algumas das gravações do Portastic você mostra seu amor pela música brasileira. Como você descobriu a música brasileira?
A primeira pessoa que me tocou discos do Caetano e da Gal Costa foi o Jonathan Marx, da banda Lambchop. A partir de então, eu estive sempre em busca de qualquer disco desses artistas e outros da tropicália, mas também bossa nova e até MPB. As últimas duas vezes que nós viemos ao Brasil eu voltei para casa com uma tonelada de LPs e CDs. Mas hoje em dia você encontra a maioria dessas coisas nos Estados Unidos, o que é ótimo. Um dos momentos mais excitantes da nossa última turnê foi encontrar a Joyce e o marido dela, o incrível baterista Tutty Moreno, sou um grande fã.
O que vem a seguir: um novo disco do Superchunk ou um novo do Portastic?
Não tenho certeza! Ainda estou curtindo tocar as músicas desse novo disco, aí veremos;