O centro criativo do poeta, escritor e músico Jorge Mautner coincide de ser o mesmo do planeta Terra. Assim como a formação geológica do planeta não se completa sem o auxílio de um amálgama poderoso, o artista que sempre foi multimídia, muito antes de essa palavra entrar na moda, também precisa da mistura de vários elementos para criar. ;Essa é uma coisa bem conhecida no Brasil. Misturar tudo. Mesmo no rap ou no funk, a literatura e a música estão muito ligadas. Para a música popular, isso tem importância fundamental;, conceitua.
Daí a naturalidade com que Mautner encara mais uma performance, hoje, às 20h, no Açougue Cultural T-Bone (312 Norte), ao lado de Nelson Jacobina. Antes, às 18h, a programação do sarau do T-Bone terá artistas da cidade: o Teatro de Bonecos do grupo Mamulengo Fuzuê e Naiara Morena.
Em janeiro, Mautner cercou-se de antigos parceiros em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Do mais próximo deles, Caetano Veloso, ganhou um beijo na boca e o apelido de hipertropicalista. O tropicalismo correlaciona-se com vida e obra do artista. Gestado na Europa e nascido na Cidade Maravilhosa em 1941, Mautner testemunhou, no útero da mãe, a fuga que os pais fizeram para longe da perseguição nazista na Áustria. Filho de pai judeu e mãe cristã, cresceu dentro das misturas de duas religiões. A angústia de um dos filhos da guerra foram esquecidas no colo da babá brasileira, Lúcia, que era do candomblé e o ensinou a ouvir os batuques dos tambores.
Escritor, poeta, músico e compositor, publicou precocemente o livro Deus da chuva e da morte, em 1962, aos 21 anos. Ao lado do parceiro Jacobina, compôs o hino Maracatu atômico, música gravada por Gilberto Gil na década de 1970 e redescoberta pela juventude mangue beat em regravação de Chico Science e Nação Zumbi, nos anos 1990. Tudo isso faz parte do amálgama do artista multifacetado. ;Vou ser pouco modesto. Mas previ tudo que está acontecendo agora. A simultaneidade de todas as coisas está na internet. O Brasil será o centro irradiador do mundo. Aqui se tem a maior capacidade de reconhecer o outro. Ou o mundo se brasilifica ou será todo nazista;, profetiza o artista.
As comemorações prosseguem com um programa de televisão na TV Brasil comandado por ele. Também estão previstos o lançamento da cinebiografia O filho do Holocausto (dirigido pelo jornalista Pedro Bial) e do CD Kaosnavial, feito em parceria com o Mestre Duda de Nazaré da Mata, em Pernambuco.
Hoje, após a apresentação do ;profeta;, haverá debate do Movimento Viva Arte, com a entrega de dois pré-projetos de lei a parlamentares. Um é sobre a ocupação das escolas públicas com eventos culturais, e o outro, para facilitar a ocupação de áreas públicas com eventos culturais.
Sarau cultural
Hoje, show com Jorge Mautner e Nelson Jacobina, às 20h no Açougue Cultural T-Bone (312 Norte, Bl. B, Lj 27; 3274-1665). A programação começa com Teatro de Bonecos do grupo Mamulengo Fuzuê, às 18h. Mais tarde, às 21h, haverá debate do Movimento Viva Arte. Entrada franca. Classificação indicativa livre.