Diversão e Arte

Livro relata experiências de 18 artistas eruditos e populares

postado em 27/04/2011 08:00
Taubkin percebia que os músicos com quem tocava viviam da música
Benjamim Taubkin é compositor, arranjador, produtor e pianista. Especialista em música instrumental, comanda a gravadora e produtora Núcleo Contemporâneo e viaja o mundo participando de festivais e seminários. No livro Viver de música: diálogos com artistas brasileiros, também mostra traquejos de entrevistador. O volume reúne conversas com 18 personalidades do ramo musical, eruditos e populares. A seleção priorizou nomes de sucesso, ainda que o significado de êxito assuma outra proporção na visão de Taubkin. ;O que quero dizer é que se você consegue se realizar criativamente e profissionalmente e consegue viver do que faz, pagar as suas contas, o que mais você pode desejar? Essa ideia de reconhecimento massivo, em geral, é uma doença que a nossa sociedade tem;, comenta o autor.

E, de fato, entre os entrevistados, há bem-sucedidos que não pertencem exatamente ao mundo agitado das celebridades: a cantora Ná Ozzetti, a percussionista Simone Sou, o multi-instrumentista Egberto Gismonti, o violeiro Paulo Freire, o pandeirista Marcos Suzano e o maestro Jamil Maluf. ;Fui pensando em universos. Queria poder ter o maior número possível de linguagens: um músico de orquestra, um regente, um solista e por aí foi. Um músico que trabalha com vários outros músicos, o chamado sideman ou músico acompanhante. Quis ter referências para retratar como é possível ter uma boa vida seguindo a música que você quer fazer, independentemente se é conhecido ou não;, observa o escritor.

As entrevistas com artistas de atividades tão diversas torna Viver de música uma espécie de guia profissional indicado para quem está começando ou para quem tem sérias dúvidas quanto a se dedicar plenamente à carreira musical. Taubkin acredita que é possível, sim. ;Uma das coisas que me motivou a fazer o livro foi que, ao longo da minha vida, fiz escolhas sempre baseadas naquilo que eu achava que era o melhor caminho para a música. Olhando à minha volta, percebia que os músicos com quem tocava viviam da música também. Encontro vários pelo país e pelo mundo, e, pra mim, foi ficando mais recorrente que não encontrava um bom músico, minimamente com equilíbrio emocional e inteligência, que não estivesse vivendo da música. Nem sempre talvez no ponto que mais gostaria de estar. Mas vivia. E isso me fez ver que a música está equiparada a qualquer outra profissão;, aponta.

Taubkin sempre começa perguntando ao artista como se deu o primeiro contato com a música. Ele recebeu respostas semelhantes de quase todos eles: uma demonstração de que viver de música não é tão difícil quanto parece. ;As histórias são diferentes, mas são de pessoas que vivem intensamente suas vidas. Dá quase para extrair um arquétipo das experiências, que é esse encantamento com a música na infância, a decisão em algum momento de seguir esse caminho. E as pessoas não têm dúvida, acho que nenhuma tem, quanto a seguir fazendo música;, explica.

Trecho
;Benjamim Taubkin ; Como surgiu seu interesse pela música? Havia um histórico musical na sua família?
Egberto Gismonti ; Na realidade, meu pai, que era libanês, desejava que eu tocasse um instrumento que ele considerava aristocrático: o piano. Lá em casa, todos os filhos ; eu, que sou o caçula, minha irmã e meu irmão ; entrávamos na escola com cinco, seis anos, na escola de música um pouquinho depois, depois no francês e um pouquinho depois, lá pelos 10, 11 anos, em contabilidade. A formação era essa. E meu pai sempre dizendo: ;Piano, piano, instrumento aristocrático!’. Minha mãe: ;Va benne, pianoforte;;. Quando eu era pequeno, meu tio Edgar me levava para o coreto do Carmo, que tinha uns seis ou sete músicos da bandinha; com cinco, seis anos, ficava orgulhosérrimo por causa das bandas.;


VIVER DE MÚSICA: DIÁLOGOS COM ARTISTAS BRASILEIROS
Entrevistas de Benjamim Taubkin. BEI Editora, 328 páginas. R$ 49,90.

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