Com a experiência de quem, por mais da metade dos 51 aniversários comemorados pela capital, pesquisa cinema, a especialista Berê Bahia foi convocada para compor a mostra Brasília no Cinema - Criadores e Criaturas, a partir desta segunda-feira (25/4), no Museu Nacional Honestino Guimarães (Complexo da República). "Se considerarmos só as produções locais que participaram das edições do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em qualquer um dos segmentos - competitivo, informativo ou paralelo-, chegamos a mais de 400 filmes", comenta a baiana que se considera uma candanga.
Na curadoria da programação audiovisual integrada ao projeto Brasília 51, e apresentada com suporte em DVD, Berê diz que buscou "filmes que, do ponto de vista histórico, político ou geográfico, formem um pequeno mosaico na composição da visão de Brasília". A pequena radiografia contempla blocos com produtos dirigidos por mulheres (Adriana Vasconcelos, Catarina Accioly e Cibele Amaral), tragédias reais (Dia de visita, de André Luís da Cunha) e abordagens que associam infância e temas sociais (O chiclete e a rosa, de Dácia Ibiapina).
Entre os cinco longas, dois médias e 17 curtas-metragens, Berê destaca três longas que encerram retratos da "santíssima trindade" na fundação da capital: Os Anos JK - Uma trajetória política, Oscar Niemeyer - A vida é um sopro e O risco - Lucio Costa e a utopia moderna. Ao lado de outro cineasta enraizado na cultura local, Vladimir Carvalho (presente com o documentário O engenho de Zé Lins), José Eduardo Belmonte ("um cineasta que não poderia faltar") comparece de modo indireto, pela atuação como personagem do curta Momento trágico, vencedor de quatro prêmios Kikito (Festival de Gramado), ao registrar cômicas sessões de terapia de grupo.
"O ano passado é passado", comemora o diretor William Alves, com filme (Teodoro Freire - O guardião do rito) selecionado para os atuais festejos do aniversário da capital. "O importante é a festa e o reconhecimento do seu Teodoro enquanto personalidade que está aqui desde o primeiro aniversário de Brasília. O filme fica atemporal, por ser um passeio na memória dele, que é fundador do Centro de Tradições Populares (Sobradinho)", reforça o codiretor do curta, ao lado de Nôga Ribeiro.
O cineasta vê a mostra como "um retrato do que é Brasília: algo em construção". "É um conjunto de filmes que trazem identificações plenas com a cidade", acredita a diretora Danielle Araújo, à frente de Tira-gosto de poeta, outro título incluído na Brasília no Cinema - Criadores e Criaturas. "Busquei um tema muito à margem: a poesia marginal produzida aqui. O interesse foi pela forma mais abrangente" a partir da manifestação de um grupo que, nos anos de 1970, com palavra, conseguiu driblar a censura", explica a também produtora de tevê Danielle.
A interação entre os poetas, que partilharam de um recado dado sem uso de agressão física, encantou tanto Danielle Araújo, a ponto de afunilar o tema inicial pretendido: a contracultura. Quatro sagazes artistas - entre os quais as fontes primárias Nicolas Behr e Luis Turiba - juntaram-se às poéticas realidades firmadas por José Paulo Cunha, por Joanir de Oliveira (representante da "corrente clássica da poesia") e pelo periférico poeta Jorge (José Jorge de Almeida).
Nova chance
Sem o esperado prestígio dos espectadores da classe média, nas salas de exibição, pela opinião do diretor Fabiano Maciel, o longa Oscar Niemeyer - A vida é um sopro é outro que ganha nova chance de ser visto na mostra Brasília no Cinema. Exibido na abertura do Festival de Brasília de 2005, o longa, na intenção do diretor, buscou acrescentar visões, além de um princípio mais crítico, ao expor o processo criativo, e aspectos da vida pessoal, com relevância à abordagem política, do arquiteto. Além das imagens de seis cidades nacionais, o documentário é composto por cenas da França, Itália, Argélia e dos Estados Unidos.
Programadora da extinta Embrafilme, em meados dos anos de 1980, Berê Bahia, envolvida com o movimento cineclubista desde os estudos na antiga Aeudf, acatou um dos critérios da seleção: todos os títulos tiveram incentivos do FAC (Fundo de Apoio à Cultura). Compõem a mostra obras de diretores reconhecidos com prêmios no Festival de Brasília, como Bruno Torres (O último raio de sol, melhor curta-metragem), J. Procópio (Brasília (Título provisório), melhor filme, pelo júri popular ), Sérgio Moriconi (Athos, vencedor do troféu Câmara Legislativa) e Adriana de Andrade (Dona Custódia, Prêmio Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo), entre outros 23 realizadores. Outro filme que integra a mostra é A saga das candangas invisíveis, da jornalista Denise Caputo, que relata a vida de prostitutas que atendiam até 80 homens (numa jornada), entre 1957 e 1960, na Cidade Livre (Núcleo Bandeirante).
Programação
PROGRAMAÇÃO DOS FILMES A SEREM EXIBIDOS EM DVDs (((PROGRAMAS em BLOCOS, com exibição dos filmes sem intervalos)))
Dia 25 de abril, às 15h
*A INVENÇÃO DE BRASÍLIA (de Renato Barbieri)
44min, 2001, DF (documentário)
*A VOLTA DO CANDANGO (de Filipe Gontijo e Eric Aben-Athar)
6min, 2006, DF (ficção)
*O RISCO, LÚCIO COSTA E A UTOPIA MODERNA (de Geraldo Motta Filho)
76min, 2003, RJ (documentário)
Dia 25 de abril, às 20h
*DIA DE VISITA (de André Luís da Cunha)
25min, 2007, DF (documentário)
*BRASÍLIA (TÍTULO PROVISÓRIO) (de J. Procópio)
15min, 2007, DF (ficção)
*OSCAR NIEMEYER, A VIDA É UM SOPRO (de Fabiano Maciel)
90min, 2005, RJ (documentário)
Dia 26 de abril, às 15h
*TAGUATINGA EM PÉ DE GUERRA (de Armando Lacerda)
18min, 1982, DF (ficção)
*OFICINA PERDIZ (de Marcelo Diaz)
19min, 2006, DF (documentário)
*OS ANOS JK - UMA TRAJETÓRIA POLÍTICA (de Sílvio Tendler)
110min, 1980, MG/RJ (documentário)
Dia 26 de abril, às 20h
*MEMÓRIAS FINAIS DA REPÚBLICA DAS FARDAS (de Gabriel F. Marinho)
38min, 2008, DF (documentário)
*O ÚLTIMO RAIO DE SOL (de Bruno Torres)
20min, 2004, DF (ficção)
*ROMANCE DO VAQUEIRO VOADOR (de Manfredo Caldas)
71min, 2006, DF (documentário)
Dia 27 de abril, às 15h
*MOMENTO TRÁGICO (de Cibele Amaral)
15min, 2003, DF (ficção)
*A SAGA DAS CANDANGAS INVISÍVEIS (de Denise Caputo)
15min, 2008, DF (documentário)
*O CHICLETE E A ROSA (de Dácia Ibiapina)
15min, 2002, DF (documentário)
*TIRA-GOSTO DE POETA (de Danielle Araújo)
24min, 2008, DF (documentário)
*DONA CUSTÓDIA (de Adriana de Andrade)
13min, 2007, DF (ficção)
*SENHORAS (de Adriana Vasconcelos)
11min, 2009, DF (ficção)
*ENTRE CORES E NAVALHAS (de Catarina Accioly e Iberê Carvalho)
14min, 2007, DF (ficção)
*TEODORO FREIRE - O GUARDIÃO DO RITO (de Nôga Ribeiro e William Alves)
18min, 2003, DF (documentário)
Dia 27 de abril, às 20h
*SINISTRO (de René Sampaio)
17min, 2000, DF (ficção)
*ATHOS (de Sérgio Moriconi)
20min, 1998, DF (documentário/ficção)
*VERDADEIRO OU FALSO (de Jimi Figueiredo)
14min, 2009, DF (ficção)
O ENGENHO DE ZÉ LINS (de Vladimir Carvalho)
85min, 2006, DF (documentário)