Com exceção de duas das 10 faixas, Toque dela, o segundo disco da carreira solo do cantor e compositor carioca Marcelo Camelo, traz músicas feitas ao longo dos últimos dois anos, depois que ele se mudou para São Paulo. ;A noite é da época que comecei a fazer o outro disco, Sou. E tem Despedida, que a Maria Rita já tinha gravado. De resto, é tudo novo, desde essa pausa na turnê anterior para cá;, ele detalha.
A vivência paulistana de Camelo mostra-se na temática das letras e refletem a nova vida que ele encontrou na cidade. ;Você me chama pro mundo e me faz sair do fundo de onde eu tô;, diz ele, em Vermelho. Também moram em São Paulo a namorada do cantor, Mallu Magalhães (que faz um coro discreto nessa mesma música), e a banda Hurtmold, que o acompanha no disco.
Camelo, 33 anos, comenta que a banda é a mesma de Sou, o primeiro CD solo, mas a natureza dos arranjos é bem diferente: ;O outro disco se utiliza mais da sonoridade para a qual o Hurtmold tem vocação, que é de os instrumentos se misturarem, de você perder um dentro do outro. Em Toque dela, eu queria uma estética mais estanque, que fosse possível ouvir os sons um pouco melhor. Continua sendo o Hurtmold, mas soando de outro jeito;.
Além do sexteto paulistano ; formado por Márcio e Fernando Cappi nas guitarras, Marcos Gerez no baixo, Guilherme Granado nos teclados e vibrafone, Maurício Takara na bateria, e Roger Martins na percussão ;, Toque dela conta com convidados como Rob Mazurek, no trompete, e Marcelo Jeneci, tocando piano, acordeão e piano elétrico. Além deles, o disco tem a participação de músicos que já tocaram com Camelo tanto na carreira solo quanto com o Los Hermanos, como Jessé Sadoc (flugelhorn) e Edu Morelenbaum (clarinete).
Instrumentos
Em algumas músicas, Camelo executa quase todos os instrumentos: guitarra, baixo, violão, percussão e até bateria. ;Eu toco bateria já há alguns anos. Aliás, conheci o Barba, baterista do Los Hermanos, na aula de bateria. Ele fazia aula um horário depois de mim;, lembra. ;Sempre gostei, sempre batuquei muito bem, sempre fui bom de ritmo, sabe? Minha musicalidade veio muito do ritmo.; A percussão se impõe em Toque dela de uma maneira diferente do que em Sou. ;O meu disco anterior foi meio que uma tentativa de abandonar essa parada, fazer um disco sem pulsação, sem muita ideia rítmica, meio solto, meio frouxo. Nesse segundo disco, eu quis fazer o contrário.;
Todas as músicas são de autoria do cantor. A única parceria é Três dias, feita com o cartunista André Dahmer. Produzido por Camelo, o álbum é um lançamento de seu selo, Zé Pereira, com a gravadora Universal Music. A demora de três anos entre Toque dela e Sou, ele explica, tem muito a ver com o fato de ser ele mesmo o responsável por quase todos os aspectos que envolvem a feitura do disco.
;O mercado impôs esse negócio: você já não consegue pagar um produtor direito. Então, você tem que gastar o dinheiro do disco de uma forma inteligente. No meu caso, eu que marco o estúdio, que compro a comida dos músicos no dia da gravação, que os pago...; Pode ser um processo mais trabalhoso, mas Marcelo conta que prefere assim. ;Não é uma coisa que você faz em três meses. E eu gosto de fazer de um jeito mais artesanal, mais demorado. Não no esquema industrial, de entrar no estúdio e gravar tudo rápido e depois deixar na mão de alguém para finalizar.;
Toque dela acabou de chegar às lojas e Marcelo Camelo começa no fim do mês a turnê de divulgação do disco. E ao mesmo tempo em que ele se prepara para apresentar o novo trabalho ao público, já pensa no que vai ser seu próximo álbum. ;Atualmente, a minha música está em outro lugar, totalmente diferente.
É quase um exercício de esquizofrenia falar do segundo disco para mim. Fazê-lo foi um processo que já me lançou para outro lugar. Estou fazendo novas músicas. Queria lançar outro disco até o fim do ano;, comenta. Sobre como seria esse novo direcionamento sonoro, Camelo faz mistério. ;Seria um anúncio a ser fadado a dar pistas erradas;, brinca.