Quase um ano depois de ter desaparecido do mapa televisivo, a ilha de Lost ainda afeta corações e mentes dos fãs de ficção científica. Prova disso é que, desde o desfecho da série, a tevê americana ainda procura um sucessor para o fenômeno pop. A missão não é nada simples %u2014 mas, para os grandes estúdios, tampouco pode ser considerada impossível. Uma nova onda de mistérios sobrenaturais tomou conta da telinha e, somadas a opções mais antigas e resistentes, passou a assombrar a programação. Herdeiras de uma tradição que inclui artigos cult como Além da imaginação (1959-1964) e Arquivo X (1993-2002), as produções tentam hipnotizar o espectador com doses reforçadas de suspense e reviravoltas.
O Correio selecionou 10 seriados que atiçam a curiosidade do público de canais por assinatura e daqueles espectadores que, curiosos, saem à caça de novidades na internet. Diante da safra, uma conclusão se torna inevitável: nenhuma das séries tem estofo para superar as incríveis armadilhas de Lost. Mas muitas se esforçam para chegar perto, fiéis à mescla de aventura, ação e fantasia que virou mania no início da década. Prejudicados por baixa audiência, alguns desses %u201Cfilhotes%u201D já bateram em retirada %u2014 caso de FlashForward, que segue em exibição no AXN. Outros, ainda que ameaçados, vão à luta para mostrar relevância, a exemplo de The event e V. E, para sobreviver ao desgaste, o gênero se expande em reality shows (Ghost hunters) e experiências de baixo orçamento, via web (Pioneer one).
Cria %u201Coficial%u201D de um dos pais de Lost, o surpreendente Fringe não atingiu o reconhecimento da série anterior de J.J. Abrams. Porém, usa uma produção luxuosa para dar continuidade à febre dos enigmas medonhos, que desafiam os conhecimentos científicos. Na trama, três personagens (interpretados por Anna Torv, Joshua Jackson e John Noble) investigam casos inexplicáveis, associados a um universo paralelo. Na primeira temporada, já exibida no Brasil, o clima era semelhante ao de Arquivo X: casos aparentemente fantasmagóricos revelavam origens até bem mundanas. Na segunda temporada, a narrativa pisou fundo na ficção científica e na fantasia. Decepcionou parte do público, mas conquistou seguidores dedicados. Nos Estados Unidos, foi renovado para uma quarta temporada.
O analista de informática e DJ Hélio Matos, 31 anos, começou a assistir a Fringe ao se cansar de Lost. %u201CPerdi um pouco o interesse na terceira temporada. A série estava criando muitas perguntas com poucas respostas. Parei de assistir%u201D, lembra. Seguindo o rastro de Abrams, aprovou a nova atração. %u201CHoje tem minha atenção total. O Fringe sempre procura um embasamento um pouco mais científico para os temas sobrenaturais. É o que me chama mais atenção%u201D, observa o fã, que também acompanha o seriado Supernatural, sucesso na programação brasileira.
Enquanto a tevê a cabo insiste em produções mais conhecidas, como Medium e Ghost whisperer, a internet revela produções menos óbvias, principalmente as produzidas pela BBC. A clássica Doctor who, que começou a ser exibida em 1963 e entrou no livro dos recordes, volta à tela este mês, com mais uma edição das aventuras de um herói que viaja no tempo. O canal também exibe a curiosa Being human, um %u201Cterrir%u201D sobre a convivência de um lobisomem, um vampiro e uma fantasma adolescentes. Já os extraterrestres de Torchwood confirmam uma velha fórmula: muitos mistérios, poucas soluções. O lema de Arquivo X continua fazendo sentido: a verdade, ao que parece, ainda está lá fora.