Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Editora Babel chega ao Brasil com clássicos portugueses

Quando o Padre Antonio Vieira publicou os dois volumes de Sermões, entre 1679 e 1682, achou por bem realizar um guia de leitura e fez, ele mesmo, um índice remissivo para cada ideia central discutida nos sermões. O volume ficou conhecido como Indice das cousas mais notáveis, mas não ganhou o alcance das pregações do padre. Pois foi com o tal índice que a Babel, unidade editorial portuguesa que reúne nove selos, decidiu dar os primeiros passos no mercado brasileiro.

A edição de luxo em formato correspondente aos livros editados no século 17 ; com 48cm de altura ;, tem capa em serigrafia e composição artesanal para abrigar os verbetes organizados em ordem alfabética que retomam o trabalho original de Vieira. ;Esse índice é o que consta, mas só como índice, da primeira edição dos Sermões, publicada quando o Padre Antonio Vieira ainda era vivo. O original está na Biblioteca Nacional de Portugal, é um volume de 1679;, avisa Vasco Silva, editor da Babel em Portugal. ;Quisemos fazer uma obra moderna, contemporânea, mas evocativa da tipografia que se fazia na época. Escolhemos as cores da tipografia daquele tempo, preto e vermelho, fizemos a entrada do livro com as partes que copiamos da primeira edição, com dedicatórias, autorizações, licença do Santo Ofício. Essa parte foi rigorosamente transcrita da primeira edição e depois fizemos com um tipo de época e uma mancha gráfica evocativa da tipografia seiscentista.;

Silva não diria que todo o pensamento do padre está contido nos verbetes, mas eles funcionam como uma introdução aos sermões. ;Para quem nunca leu é mais fácil começar com as partes mais significativas de cada sermão;, acredita. ;Padre Antonio Vieira não cabe em índice nenhum nem em livro nenhum. O pensamento dele não sei nem se cabe em uma biblioteca inteira. Mas uma parte significativa e essencial está neste livro.;

A Babel também escolheu o único livro publicado por Fernando Pessoa ainda em vida para estrear no Brasil. Fez o que chama de uma edição clonada de Mensagem, reunião de poemas editada em 1934, um ano antes da morte do poeta português. Os pesquisadores da editora fotografaram a última prova recebida da gráfica por Pessoa antes de dar o aval final para a edição. O original foi vendido à Biblioteca Nacional de Portugal, em 1960, pelo dono de um sebo de livros e é conservado como preciosidade.

Pátria
As 102 páginas do volume aparecem marcadas por anotações a lápis do próprio Pessoa e um detalhe chama a atenção. Logo no início, o poeta riscou o título original, que deveria ser Portugal, e substituiu por Mensagem, como ficou conhecida a reunião de poemas dedicados à pátria do autor. Para o lançamento, a Babel reproduziu capa e papel utilizados originalmente. ;Escolhemos a melhor gráfica de Portugal e, como o livro não pode sair da Biblioteca Nacional, mandamos uma equipe e fotografamos página a página. É um papel muito semelhante, é a mesma imagem, mas é fotografado, tudo que tem ali é ilusão;, conta Vasco Silva, que atribuiu às tecnologias digitais a possibilidade de editar a obra.

A Babel chega ao Brasil de olho no mercado editorial crescente e com a intenção de se tornar um braço brasileiro do grupo português. ;Somos uma editora de língua portuguesa e não uma editora portuguesa;, avisa Paulo Teixeira Pinto, fundador. ;Portanto, não seria normal não estarmos no Brasil;, conclui.

Fernando Pessoa: uma (quase) autobiografia
De José Paulo Cavalcanti. Record, 736 páginas. R$ 79,90.

Índice das cousas mais notáveis
De Padre Antonio Vieira. Babel, 140 páginas. Preço indefinido.

Mensagem
De Padre Antonio Vieira. Babel, 140 páginas. R$ 200

Fernando Pessoa e outros pessoas
De Guazzelli. Editora Saraiva, 80 páginas. R$ 34,90.

Multiplicação poética
O poeta português também é tema de dois outros lançamentos editoriais. A Record acaba de lançar Fernando Pessoa: uma (quase) autobiografia, do pernambucano José Paulo Cavalcanti. O livro de 736 páginas foi escrito com ajuda de depoimentos e pesquisas para compilar as frases do biografado. Cavalcanti insiste na classificação de autobiografia porque diz ter utilizado tantas frases e citações do poeta que o texto parece escrito pelo próprio.

A biografia é a primeira escrita por um autor brasileiro e a terceira a chegar ao mercado. Entre as novidades acrescidas por Cavalcanti está a descoberta de alguns heterônimos desconhecidos. O autor defende terem sido 127, e não 67.

Pessoa também inspira uma HQ com pretensão de guiar o jovem leitor pela obra do escritor. Lançamento da Saraiva assinado por Guazzelli, Fernando Pessoa e outros pessoas tem como cenário a mesma Lisboa citada e enaltecida em versos do poeta. São seis histórias, cada uma contada por um heterônimo como se empreendesse um passeio pela capital portuguesa.