O quarto livro da jornalista Clara Arreguy, seu primeiro de crônicas, vem sendo escrito desde 1987. Daquele ano a 2004, trabalhou no jornal Estado de Minas. Depois, de 2004 a 2009, no Correio. Nas duas redações, ao mesmo tempo que cumpria as obrigações de um veículo diário, também encontrava uma brecha para tratar o cotidiano com olhar menos imediato e urgente, publicando crônicas sobre assuntos diversos. Da morte de Michael Jackson à flamenguista vira-casaca, que trocou o rubro-negro pelo Cruzeiro. E textos com observações sobre o universo feminino, recordações da infância e acontecimentos curiosos do dia a dia. Clara seleciona, em Catraca inoperante (Outubro Edições), 41 fragmentos do seu olhar sobre o mundo, num formato de escrita que permite informar e entreter, classificado entre poesia e literatura. O lançamento é hoje, no Bar Brahma (201 Sul). No próximo sábado, ela apresenta a obra em Belo Horizonte, às 11h, no Café com Letras.
;Esse é um aspecto interessante. A crônica é um gênero do jornalismo, mas não obedece certos padrões, como a objetividade, a relevância. O tema da crônica pode, aparentemente, ser um assunto irrelevante. E o ponto de vista pode ser poético ou bem-humorado. Não é um registro sisudo, sério;, comenta a escritora, que teve a honra de contar com texto elogioso do romancista Moacyr Scliar, morto em fevereiro passado, na orelha do livro. ;Ele fez o prefácio para mim em dezembro, com a maior generosidade. Foi o último contato que a gente teve. A participação dele enriquece muito o meu livro;, conta.
As manchetes dos jornais e as experiências pessoais se fundem nos parágrafos de Clara. Mas ela também dá atenção a temas mais corriqueiros, que costumam povoar suas conversas. Aliás, a crônica é um diálogo com o leitor, um bate-papo menos preocupado com a novidade, e mais interessado em fornecer outros significados às coisas. ;Futebol, por exemplo. E questões relativas à mulher, as posições que ela ocupa numa sociedade que oferece muitas dificuldades, pelo simples fato de ser mulher. Tem uma que fala sobre andar de bicicleta, um assunto muito forte aqui na cidade. Uma coisa inevitável são os temas culturais. Sempre trabalhei na área de cultura. Assuntos relativos ao cinema e à literatura também aparecem;, acrescenta a mineira nascida em Belo Horizonte, há sete anos na capital do país.
Capas sortidas
Quem for às livrarias atrás de Catraca inoperante vai se surpreender com a aparência dos exemplares: são seis capas diferentes, elaboradas pelos ilustradores Alexandre Coelho, Caio Gomez, Mário Arreguy, Paulo Fatal, Son Salvador e Ziraldo. Como escolher uma edição significa descartar as outras cinco, o interior do livro reproduz os trabalhos preteridos pelo leitor. ;Quando resolvi fazer a coletânea, pedi a eles que ilustrassem a ideia da catraca. Uma ideia meio piada, brincadeira minha. Cada um teve uma sacada bacana. Fiquei na dúvida sobre qual escolher. De repente, me caiu essa ideia: por que não todas?;, justifica.
Uma catraca emperrada, que certa vez barrou a cronista na saída do trabalho, deu título à antologia de crônicas. Mas ficou só nisso, porque ela não para de produzir. Clara acaba de escrever seu terceiro romance, Rádio Beatles, ainda sem data para sair. É sobre um beatlemaníaco que chegou aos 50 anos, com a mente atravessada por questionamentos de idade.