Na telinha da MTV americana, reclames avisam sobre os novos episódios de Beavis and Butt-Head. Nos palcos, shows de Sublime e Backstreet Boys. Os Simpsons brilham num amarelo sem rugas e um novo capítulo da série Pânico está prestes a estrear nos cinemas. A pergunta não quer calar: os anos 1990 voltaram pra valer?
Antes que alguém responda e inclua o Yuck nesse revival, o vocalista Daniel Blumberg sai da linha de tiro. ;Não escrevemos canções calculadas, para soar de tal ou tal forma. Apenas escrevemos;, desconversa, no site Dummy. A tentativa é boa. Mas ninguém ouve esse quinteto de Londres sem se lembrar de um tempo em que ainda se falava em ;rock alternativo;.
O estilo ainda é imaturo, em formação. Portanto, expõe naturalmente todos os ídolos da banda. Nos primeiros acordes de Get away, lá estão: as guitarras irritadiças do Dinosaur Jr. Mais adiante, na balada Suicide policeman, fica fácil notar a ironia do Pavement. Sunday tem cheirinho de Teenage Fanclub e Operation espelha a faceta mais pop do Sonic Youth.
A lista seguiria parágrafos adentro, mas é sensato parar aqui. Antes que se fale em ;colagem de influências;, o que se nota é cinco novatos de 20 e poucos anos ainda à procura de uma casa própria no mundo indie. Nada errado (ou estranho) nisso. O que faz do Yuck um dos melhores calouros de 2010 pode ser compactado numa palavra: gana.
E entusiasmo também não faltava à banda antiga de Daniel e do guitarrista Max Bloom. O Cajun Dance Party lançou um disco elogiado em 2008 (The colourful life) e, pouco depois, rachou em duas facções. Insatisfeita com o pós-punk almofadinha do grupo (um sub-Arctic Monkeys), a dupla decidiu escrever canções mais nervosas, ásperas.
Os amigos passaram um ano inteiro compondo. Quando viajou ao deserto de Israel para visitar um colega, Daniel conheceu o baterista Jonny Rogoff, um americano de Nova Jersey que tocava rock progressivo. Rolou camaradagem. Tanto que Jonny topou abandonar os estudos e se mudar para Londres.
Faltava o último desejo: uma baixista que soubesse cantar. Pois a musa do Yuck logo se materializou na forma da japonesa Mariko Doi. Para completar o quinteto, a irmã mais nova de Daniel, Ilana, ficou com os backing vocals. Afinada às pressas, a banda entrou em estúdio para gravar o disco de estreia, nomeado simplesmente Yuck. Logo que foi lançado, em fevereiro, o álbum foi ;favoritado; por blogs e sites de música. Virou hit ; mas só na internet.
Herói inglês
Com elogios nada contidos em revistonas como a Rolling Stone e sites como Pitchfork, o Yuck logo foi adotado como herói nacional por jornais britânicos. A ótima repercussão rendeu a chance ; que eles agarraram imediatamente ; de abrir shows para o Teenage Fanclub e o Dinosaur Jr. Como se fosse, é claro, a primeira vez. ;A banda antiga nos parece um sonho distante. Gravamos um disco quando tínhamos 15 anos. Mas as pessoas mudam muito entre os 15 e os 19;, explica Daniel.
O disco de estreia dá sinais dessa fase de crescimento: alterna faixas mais juvenis (e adoráveis) com momentos de introspecção. Fúria e melancolia, ruído e delicadeza. Canções para deixar saudades da adolescência ; e, cá entre nós, dos anos 1990.
YUCK
Conheça a banda inglesa em www.myspace.com/yuckband. O disco de estreia, Yuck, foi lançado pela Fat Possum/Mercury Records. Importado. ****