Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Segundo espetáculo da trilogia de violência do grupo SAI em cartaz até 24/4

Durante uma temporada de um mês em 2007, no Teatro Sesc da Avenida Paulista em São Paulo, o grupo de teatro brasiliense Setor de Áreas Isoladas (SAI) foi do céu ao inferno em uma semana. O espetáculo A história de Jerry e o cachorro, criado pelo grupo durante o curso de artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB), ganhou duas críticas em dois grandes veículos de imprensa de nível nacional. Uma era elogiosa, a outra era decepcionante, pelo menos para os universitários que viram o trabalho ser criticado duramente.

;Isso é o tipo de coisa que coloca o seu pé no chão. No mercado profissional, as coisas são um pouco mais complicadas. Um trabalho nem sempre é unanimidade. De fato, problematizou a qualidade da peça. Eu sempre desconfio de espetáculos de que todo mundo fala bem;, resumiu Diego Bressani, um dos membros do grupo. O amadurecimento da companhia resultou na formatação de uma trilogia sobre a violência, baseada na atmosfera da literatura noir norte-americana. ;Nós íamos ao teatro e nunca víamos a violência física feita com realidade. Partindo desse desafio, pensamos ;quais seriam as formas, de tratar o tema?;;, relembra.

Nesse contexto, criou-se o primeiro espetáculo Vialenta, dirigido por Bressani, que volta a ser encenado a partir de hoje no Espaço Cena (205 Norte). A peça levada aos palcos pela primeira vez em 2008, e inspirada nos contos A mil quilômetros de lugar nenhum, de Lorenzo Carcaterra, e Improvisação, de Ed Mcbain, foi feita a toque de caixa, numa espécie de teatro visceral e se pauta na violência encarnada por mulheres.

Nada de poesia
;Nós estávamos interessados na literatura noir, influenciados pelo (Quentin) Tarantino. Andamos atrás dos autores mais contemporâneos. Achamos o livro Mulheres perigosas, envolvendo assassinas. São dois contos que mostram a violência exercida por mulheres. Não é nem um pouco poético nesse sentido. É bem tarantinesco;, classificou Bressani. Já a segunda montagem da trilogia, Terapia de ris(c)o, trata da violência por meio do riso. ;É o nosso espetáculo mais popular. As pessoas riem muito. Queremos montar um repertório. As peças são muito específicas de uma etapa da nossa vida. Tem coisas que a gente acha exageradas no Vialenta. Mas, isso fez parte de um período. A gente respeita o que sentimos na época. As questões pessoais são levadas em consideração, como as nossas aflições;, classifica Bressani.

O SAI é influenciado pelo cinema de Tarantino e movido por uma investigação cênica semelhante à usada na sétima arte. ;Acreditamos na interpretação hiper-realista. Mais próxima do real, mais cinematográfica, a partir da experiência pessoal. O ator fala do jeito que a gente fala normal. Alguns diálogos são baixos. Algumas linhas o público não escuta. É como se tornar um voyer;, acredita o ator e diretor.

Belo e sujo
A literatura noir norte-americana foi iniciada logo após o término da 2; Guerra Mundial. As histórias do gênero eram ambientadas e quase sempre as tramas giravam em torno de policiais corruptos e mulheres loiras com instinto violento. Os principais textos foram publicados nas revistas Pulp (feitas com papel de baixa qualidade (a polpa). Essas publicações geralmente eram dedicadas às histórias de fantasia e à ficção científica. Nos anos 1990, o gênero voltou à moda trazido pelo filme Pulp fiction ; Tempo de violência, de Quentin Tarantino.

Vialenta

Direção: Diego Bresani. Com: Ada Luana, Camila Meskell, Rodrigo Fischer e Taís Felippe. Inspirado nos contos noir A mil quilômetros de lugar nenhum, de Lorenzo Carcaterra, e Improvisação, de Ed Mcbain. De hoje até 24 de abril, temporada do segundo espetáculo da trilogia da violência de autoria do grupo Setor de Áreas Isoladas (SAI). Sessões, de quinta-feira a sábado, às 21h e domingo, às 20h no Espaço Cena (205 Norte, Bl. C Lj. 25; 3349-3937). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos.