Em 35 anos de carreira, o U2 criou um compromisso informal ; mas seríssimo ; com os fãs: os irlandeses prometem surpresas grandiosas a cada turnê. Desde os tempos da tecnológica Zoo TV Tour (entre 1992 e 1993), o quarteto não falha nem refuga: ilumina os estádios com espetáculos que mesclam teatro, circo, cinema e instalações de arte pop. Esses ;supermercados; de luz e som se tornam cada vez mais espaçosos, delirantes. A 360; Tour, que chega a São Paulo nos dias 9, 10 e 13 de abril, deve provocar uma nova onda de perplexidade: ninguém fica impassível diante da maior estrutura de palco já montada para um concerto de rock. Todos os ingressos, como de costume, estão esgotados.
São shows que fazem por merecer revisões em DVD ; até porque são projetados com o cuidado conceitual que a banda aplica aos discos de estúdio. Neste fim de semana, em três exibições, o público brasiliense pode conferir a ;mise-en-scene; de Bono na tela grande do cinema, em profundidade tridimensional e som 5.1 Surround. O documentário U2 3D, inédito na cidade, foi gravado na etapa latino-americana da Vertigo Tour, que passou pelo Brasil em 2006. Dirigido por Catherine Owens e Mark Pellington (do drama O suspeito da rua Arlington), o documentário edita 100 horas de filmagem nas escalas de São Paulo, Santiago, Buenos Aires e Cidade do México.
Com 1h25 de duração, o longa-metragem é uma versão abreviada dos concertos da banda, com ;apenas; 14 músicas (no primeiro show paulistano de 2006, eles apresentaram 23 canções) e uma edição que privilegia os momentos mais políticos do script, que ganham ressonância em hits como Sunday bloody Sunday, Bullet the blue sky, Pride (in the bame of love) e Where the streets have no name. Numa performance que prega a fraternidade e o fim das desavenças entre os povos ; especialmente israelenses e palestinos ;, Bono cambaleia no palco com uma faixa branca na testa que exibe a palavra ;coexistir;. ;Este é o momento para os direitos humanos;, o cantor improvisa em Miss Sarajevo.
Quase datado
Exibido pela primeira vez nos cinemas brasileiros em agosto de 2008, o filme chega com atraso a cidades que, na época, ainda não faziam parte do circuito de salas 3D. Brasília é um desses casos. A produção será reexibida em 97 salas, num total de 40 cidades. O programa tem uma certa aparência de matinê recauchutada, ainda que o poder das músicas e da performance do grupo não tenha esmaecido. Muitos dos truques visuais, no entanto, já começam a parecer datados, apesar da bela iluminação avermelhada e do telão high-tech que abraça a banda. Para o público que assistiu na telona às estripulias musicais de Justin Bieber e Jonas Brothers, não haverá sustos ; nem nos trechos em que Bono estica os braços e, graças à tecnologia digital, provoca a ilusão de que está prestes a avançar sobre o espectador.
Lançado com pré-estreias no Festival de Cannes de 2007 e no Festival de Sundance de 2008, o projeto nasceu com pose de pioneiro: foram usadas 18 câmeras 3D, o equipamento mais volumoso usado em filmes do gênero até então. ;Eu estava torcendo para que não ficássemos um lixo depois destes anos todos;, comentou o guitarrista The Edge, em Sundance, à Associated Press. ;Felizmente não foi o caso. O 3D dá brilho às canções;, disse. Para Bono, a experiência de ver a própria ;atuação; na tela grande foi ;horrível;. ;Já é ruim numa tela pequena. Agora você vê aquele traseiro gordo numa largura de quatro metros;, brincou.
Desde a estreia mundial, em fevereiro de 2008, o filme entrou em cartaz em 600 salas no mundo todo, acumulando US$ 20 milhões nos Estados Unidos. Hoje, é considerada uma das produções que confirmaram a popularidade dos documentários musicais em 3D, um gênero ainda em alta. Curiosamente, U2 3D retrata a divulgação de um dos discos menos inspirados do grupo, How to dismantle an atomic bomb (2004). Não por coincidência, apenas as faixas do álbum respondem pelos momentos menos marcantes do longa: o hit Vertigo, a política Love and peace or else e as intimistas Yahweh e Sometimes you can;t make it on your own, que Bono dedica ao pai.
As músicas do filme
; Vertigo
; Beautiful day
; New year;s day
; Sometimes you can;t make it on your own
; Love and peace or else
; Sunday bloody sunday
; Bullet the blue sky
; Miss Sarajevo
; Pride (in the name
of love)
; Where the streets
have no name
; One
; The fly
; With or without you
; Yahweh
U2 3D
(EUA, 2007, documentário, 85min, classificação indicativa livre). De Catherine Owens e Mark Pellington. Exibição especial em salas digitais hoje, amanhã e domingo. Confira salas e horários no Roteiro. ***