Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Documentário, agora lançado em DVD, mostra o cotidiano de Rita Cadillac

Com perspicácia, o cineasta Hector Babenco foi quem largou a pérola em torno de Rita Cadillac: ;Ela é metade ser humano e metade automóvel;. Amplamente concentrado na primeira parcela da ex-chacrete, o diretor Toni Venturi formatou o documentário Rita Cadillac ; A lady do povo, que, inédito nas telas de Brasília, chega ao mercado em DVD. Condicionada a olhar pra frente ; ;não vivo de passado, vivo de futuro e muito do momento: não sei se estarei viva daqui a uma hora; ;, a dançarina-máquina é enfática quanto à dose moderada de saudosismo. ;Numa roda de amigos, por a gente comparar como as coisas eram (quando as músicas tinham letra e balanço, e como elas estão agora), é que olho para trás;, diz. Mas a mirada não se restringe à linha do tempo: ciente de que se fez na mídia, pelo corpo (como enfatiza no longa-metragem), ela dá uma conferida para baixo, na olhadela para trás.

Nunca desacompanhada ; com uma legião de fãs ;, gosta do que vê, por sinal. ;Por enquanto, posso estar inteira, mas, aos 100 anos, onde quero chegar, acho que não;, brinca. Passado um ano desde a exibição de A lady do povo, a protagonista quase desmente a declaração, à época, de estar com ;a mão na fechadura; para abandonar os shows. Nos fracos meses de janeiro, fevereiro e março, são oito apresentações, enquanto a média mensal chega a 15. Trabalhar é prioridade, ao lado da praia frequente (ela mora em Praia Grande-SP há três anos) e das viagens com as cachorrinhas Naomi e Angel. Engana-se quem entrevê frivolidade, pelo que mostra o filme de Toni Venturi. Sempre se preservando, pensando que ;as pessoas não tinham direito a sua vida;, Rita de Cássia Coutinho, que se diz quieta, não é de se expor, em festas, por exemplo. ;O filme mostra menos a Cadillac, que é uma consequência de mim;.

Com ;parcela irrisória; nas vendas do DVD ; ;não fosse assim, seria a mais tonta das tontas;, diz ;, a empreitada nas telas trouxe lucro pessoal. ;Não tinha consciência de muitas coisas que eu não assumia, e o filme me fez revê-las. Mostrei quem realmente é a Rita de Cássia. Me machucou muito fazer, mas acabou por me libertar;, comenta a eterna madrinha, sem remuneração, dos presidiários do Carandiru. O legado para as netas Larissa, um ano, e Bianca, 15, em parte, figura no longa. ;Vou deixar uma história de vida para elas. De alguém que brigou a vida inteira para ser alguém. Elas vão me conhecer melhor e, quem sabe, ter orgulho da avó;, projeta. Uma biografia, em andamento para a editora Prumo, promete, até o fim do ano, registros ainda mais profundos.

Alarde pela verdade

Nas ruas, os elogios de quem já assistiu a A lady do povo brotam do peso da verdade. ;Dizer que eu fiz programas foi uma coisa que nunca falava pra ninguém, a minha vida inteira. Me machucou, por eu ter de falar. Não adiantaria omitir. Era até cláusula da obra. O filme me libertou de muitas coisas. As pessoas me imaginam uma coisa e, quando veem o filme, percebem que sou outra;, explica a atriz. Para o exterior de Rita Cadillac, tão celebrado pelos admiradores, aos 56 anos, ela entrega o ouro em torno da forma: ;Acordo às 6h30, caminho meia hora, vem o café da manhã, e mais meia hora de caminhada. Meu dia a dia é corrido: faço todas as coisas de dentro de casa, cuido das cachorrinhas e passeio direto com elas;. Ao mesmo tempo em que não se submete a regimes (;nunca deixo de comer as coisas;) e cultiva ;a cuca limpa;, a atriz impõe barreiras para bebidas e drogas. ;Nem remédio pra dor de cabeça eu tomo;, entrega.

[FOTO2]O reverso de todo otimismo, só chega quando o tópico encerra a participação em fitas pornôs. ;Baixa e ruim; são algumas palavras associadas à experiência, como revela a fita de Toni Venturi. Comparada a uma facada, a etapa profissional, que foi encarada sem vontade, rendeu 20 cenas que, se os produtores quiserem , ;podem fazer 200 filmes;. As 20 transas filmadas renderam a ;vida um pouco mais tranquila e uma casa;, mas, na avaliação de Rita Cadillac, ;não acrescentaram nada;. ;Foi a pior parte da minha vida. E eu não tenho vergonha de nada do que faço. Mas, se pudesse apagar alguma coisa, seria isso;, explica. ;Não volto a fazer, não.;

O que ela disse
;Hoje em dia, me conhecem bem de cara. Como eu pretendo chegar aos 100 anos, e já disse que quero ser enterrada de bruços, só peço: por gentileza, preparem a prótese;

;O Chacrinha me deu a melhor parte da minha vida. Ele motiva um enorme agradecimento e uma eterna devoção;

;Não interferi no processo: só vi o A lady do povo e pronto. Fiz questão de deixar claro que o filme era do Toni Venturi, assim como o problema também (risos). As pessoas adorando ou odiando, eu bateria palmas para o diretor;

;Achei que os filmes pornôs iriam enterrar minha carreira, mas, a partir dali, fiz muita coisa;

Rita Cadillac, dançarina e atriz