Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pianista russo faz recital amanhã na Casa Thomas Jefferson

[FOTO1]Quando Denis Kozhukhin ganhou o Concurso Rainha Elisabeth da Bélgica no ano passado, os comentários de críticos e do jurado tratavam de classificá-lo como um pianista cuja simplicidade esconde surpresas muito agradáveis. Aos 25 anos, Kozhukhin define simplicidade como a disposição em estar receptivo e atento ao que partitura e compositor querem dizer. A competição belga chamou a atenção do meio musical para esse jovem russo formado em academias espanhola, russa e italiana. Há cinco anos, ele já havia conseguido o terceiro prêmio no Concurso Internacional de Leeds, o mais importante da Inglaterra. E concursos de piano sempre premiam pequenos gênios. Por isso, vale conferir a performance de Kozhukhin amanhã na Casa Thomas Jefferson, a última escala de uma turnê que já passou por São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

Para o repertório escolheu um trio capaz de revelar o quanto o pianista transita com habilidade pela técnica e pela emoção. A clareza (e razão) necessária para separar e moldar muito bem cada nota da Sonata para piano n; 59 de Joseph Haydn é um indicativo do preparo técnico de Kozhukhin. Em seguida, Johannes Brahms e Franz Liszt levam o pianista por um despenhadeiro romântico. Do primeiro o russo executa a Sonata para piano n; 1 e do segundo, sete trechos do monumental Estudos transcendentais, cuja dificuldade técnica é notável e provoca a obsessão de jovens pianistas. Da Bélgica, onde mora desde que ganhou o concurso, Kozhukhin conversou por e-mail com o Diversão. Abaixo, ele fala sobre simplicidade e equilíbrio emocional na execução da música.

RECITAL COM PIANISTA RUSSO DENIS KOZHUKHIN

Amanhã, às 20h, na Casa Thomas Jefferson (SEPS, 706/906 conj. B, Asa Sul). Entrada franca.

Quatro perguntas para Denis Kozhukhin

Sua simplicidade foi muito comentada quando ganhou o concurso. O que é simplicidade para você?
Bem, eu diria que isso é dito porque acredito que a abordagem do material musical deve ser muito aberta e clara de maneira a reagir ao que a partitura apresenta. Simplicidade é um dos instrumentos da arte, mas a música, claro, requer de nós algo diferente e, às vezes, uma compreensão e maneira de sentir e entender que não conhecíamos antes.

Como a música pode ser transcendental sendo ela fruto de uma interpretação humana? E o que é mais importante na interpretação dos Estudos transcendentais de Liszt, que você apresenta esta noite?
Claro, no caso dos Estudos Transcendentais o significado de transcendental é que a peça é tecnicamente muito difícil de tocar. Mas alguns desses estudos são lentos e profundos, muito reflexivos. De maneira geral a vida é assim, transcendental, se realmente quisermos entender seu significado.

Como balancear emoção e técnica?
Técnica é um instrumento de que o artista necessita para expressar o que é a música. Mas técnica não é somente tocar rápido ou alto, técnica é tudo, até mesmo cantar ao piano usando o pedal. Tudo está relacionado. Tudo isso, combinado com nossas emoções, pode se tornar uma coisa muito complexa. Recentemente, fui a uma exposição de Van Gogh de que gostei muito. Muitas de suas obras-primas estavam nesta exposição, mas também havia estudos e eu fiquei com vontade de mostrar às pessoas o quão é difícil o processo que leva à obra pronta. Em qualquer arte, treinar nossas habilidades é fundamental para se tornar um mestre.

Maturidade é importante para um pianista? Como um jovem pianista equilibra isso?

Maturidade é uma palavra que representa tantas coisas. Em música, por exemplo, você pode ouvir uma criança tocando e isso provocar em você sentimentos tão profundos que você não imaginaria. Isso nos leva de volta à simplicidade. Nesse caso, você poderia dizer que a criança é madura? Mas claro que talento e simplicidade não são tudo, conhecimento é algo que colhemos vivendo, trabalhando, sofrendo e compreendendo. É óbvio que coisas como a experiência no palco cresce com os anos.