Apo Fousek sempre cultivou a preocupação com o meio ambiente. Não gosta de falar nisso hoje porque parece oportunismo, mas a verdade é que a convivência com a natureza e o surfe há muito implantaram a inquietação na cabeça do artista. E não há como dissociar essas preocupações do paulistano de suas pinturas e objetos. Por isso, é preciso ter em mente o universo que rodeia o artista ao adentrar Apo Fousek dos 3 aos 100, em cartaz na Caixa Cultural.
A liberdade do traço e a influência da arte urbana formam uma combinação particular nas composições de Fousek. Os suportes são variados. A prancha de surfe e o skate, objetos típicos dos mundos nos quais ele circula, servem de base para intervenções. Instalações com paredes preenchidas com grafismos também. Mas há espaços para formatos mais tradicionais, como as telas, desenhos e sólidos, nos quais Fousek deposita personagens que, frequentemente, narram histórias ou encenam situações e atitudes.
Além da estética urbana, o artista também se rende à limpeza do design, área na qual tem formação. ;Essa coisa do design vem desde pequeno. Primeiro, fazia capinhas de fitas K7, depois CDs de bandas;, conta. O curador Paulo Vergolino quis dar coerência à trajetória de Fousek e fez um recorte de obras realizadas desde os 3 anos de idade. Os 100 do título da mostra é uma brincadeira, na qual o curador expressa o desejo de ver Fousek pintar até os 100 anos. ;Gosto do traço dele. Ele tem um traço seguro, livre, que permite uma comunicação direta com o público;, observa Vergolino.
A ligação com a natureza fica clara em alguns elementos frequentes na obra. Pássaros e animais aparecem discretamente, tudo muito figurativo e direto. ;São feitos para que o público perceba o que são, ele não abstrai a forma a ponto de as pessoas não perceberem, mas também não é arte figurativa clássica.;
O material humano é outra motivação para Fousek: ;Meus personagens são arquétipos, é uma coisa que vem do desenho e me acompanha desde pequeno. Gosto de retratar pessoas, de observar o jeito delas, mas gosto mais quando as pessoas são esquisitas e me apresentam um universo diferente;.
Fousek acredita que a arte contemporânea tem perdido a capacidade de comunicação porque está muito conceitual. Ele gosta de ser direto ao conceber as obras. Assim, imagina passar mensagens e sensibilizar o público. ;Arte, para mim, é uma maneira de me expressar, de melhorar o mundo e dar minha contribuição;, diz. ;Para mim o papel da arte é transformar as pessoas, transformar o mundo. Estou sempre buscando, de alguma forma, conscientizar as pessoas quanto à ética com os animais, com a natureza;
APO FOUSEK DOS 3 AOS 100
Exposição de Apo Fousek. Visitação até 17 de abril, diariamente, das 9h às 21h, na Caixa Cultural (SBS Q. 4).