Diversão e Arte

Iluminadores de teatro surgem com profissionalismo e sensibilidade no palco

postado em 09/03/2011 07:12
Sérgio Sartório, Abaeté Queiroz, Rosângela Teixeira, Diego Bressani e Vinícius Ferreira: nuances para Sempre que saem de uma sessão de teatro, é normal que os espectadores troquem impressões e comentários. Os mais comuns são sobre o desempenho dos atores, as nuances do texto, a exuberância (ou mediocridade) do cenário. Mas há um elemento essencial na recepção que costuma passar despercebida pela maioria: a iluminação, cada vez mais valorizada nas montagens da cidade.

Para a nova geração de iluminadores da cidade, artistas que se equilibram entre a atuação, a direção e o que mais a produção pedir, essa discrição é sinal de acerto. De acordo com eles, um espetáculo pirotécnico não é sinônimo de maestria e, enquanto desenrola os outros aspectos da peça, costumam desenvolver as cores e temperaturas que cada refletor irá emitir, em uma respiração casada com a história que se passa no palco.

Diego Bressani é um bom exemplo dessa geração de múltiplos talentos. Além de elaborar a luz de espetáculos, atuar e dirigir o grupo de teatro Setor de Áreas Isoladas (SAI), é na fotografia que ele encontra sua ocupação mais frequente. ;Aqui em Brasília ainda é difícil viver só de teatro e de luz. Mas a tendência é o setor se profissionalizar e quem se especializar pode se dar bem nesse mercado. Há escassez de criadores nesse campo;, afirma. O interesse pelo aspecto técnico surgiu durante o curso de artes cênicas, na Universidade de Brasília (UnB). Na criação de uma peça que seria encenada no departamento, ele se arriscou nos holofotes e nunca mais parou.

Aprendeu com o mestre de toda a sua geração: Dalton Camargos, de quem foi assistente por quase quatro anos. ;Observei muito Dalton montando um espetáculo em diferentes teatros. Ele ia registrando tudo no computador, depois eu olhava as anotações e tentava entender como a cabeça dele funcionava, comparava as indicações dele com o que via no palco;, explica. Hugo Rodas e os irmãos Guimarães (Fernando e Adriano) também foram referência em seu aprendizado. ;Uma vez, fui com o Hugo a um espetáculo em Santa Catarina e, no momento de montar a luz, ele me pediu uma iluminação geral, sem qualquer movimento. Na hora achei absurdo, mas ganhamos o prêmio de melhor luz do festival. A questão não é o virtuosismo elétrico, mas o conceito;, explica Bressani, que já ganhou duas vezes o prêmio Sesc do Teatro Candango na categoria e sempre responde pela iluminação dos espetáculos que dirige.

Com mais de 30 peças em seu currículo de ator, e sete montagens como diretor, Sérgio Sartório, um dos criadores da Cia. Plágio de Teatro, é outro artista brasiliense que acumula funções na coxia. ;Comecei a trabalhar com luz durante a Faculdade Dulcina, trocava o trabalho por uma bolsa. Logo, comecei a conceber a iluminação para espetáculos além dos meus. A técnica é sedutora, paga bem. Quando a peça não tem boa bilheteria, o iluminador recebe um valor tabelado, em média, R$ 150 por dia;, conta Sartório, que se apaixonou pelo tema e hoje elabora o conceito de luz durante os ensaios de suas peças. ;Pra quem gosta de criar, é como desenvolver mais uma personagem, é um elemento a mais que vai dialogar com a cena;, explica.

Os pré-requisitos para se destacar, porém, não são poucos. ;Além de criatividade, é preciso ter um bom diálogo com o diretor, entender o conceito da encenação, se é realista, se é impressionista. E entender de técnica, do funcionamento dos equipamentos;, descreve. A maior dificuldade, aponta, é a escassez de cursos de formação na área. O ator/diretor/iluminador explica que, em Brasília, quem atua na área é autodidata ou recebeu orientação de profissionais mais experientes. ;Mercado, tem. Os novos nomes no setor também são atores e diretores, estão servindo suas companhias. Há muitos grupos precisando de profissionais;, defende Sartório.


O que é uma boa iluminação?

É quando você não percebe que ela existe. O espetáculo fica mais coerente, ganha unidade e a luz conversa com os atores, o figurino e a cenografia. A luz ruim distorce, é rococó, carnavalesca. O teatro é um quadro orgânico, deve ser pintado com a luz;
Diego Bressani

A boa luz dialoga sem ser percebida. Ela direciona o olhar, sugere a sensação, te faz entrar no clima. A luz é um cenário, você percebe que ela está bonita, te garante uma satisfação estética, mas não deve chamar atenção demais. Quando a luz é muito sofisticada, aparece demais, corre sério risco de estar sobrando;
Sérgio Sartório

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